Procedimentos Educacionais em Rede e não Lineares

Resumo 

Este artigo consiste em uma análise dos procedimentos educacionais, para extrair novas perspectivas para o professor. Diante das mudanças visíveis e tangíveis da sociedade atual será preciso uma mudança radical nos paradigmas de abordagens educacionais. O enfoque analítico deste artigo, busca na crítica dos procedimentos lineares da educação construir novos processos de ação educacional. Estes processos estão embasados nos procedimentos em rede de organização didática.

Introdução

Os procedimentos em rede de educação são recursos onde o professor sobrepõe às instâncias decisórias – planejamento, execução e avaliação – do processo de ensino/aprendizagem. No sentido que estas instâncias são produzidas concomitantes com o ensino/aprendizagem, dentro do processo das aulas. Isto porque, neste tipo de ação o professor/a possibilita a interação com os alunos, já na produção das metas de ensino.

 No modo de atuação linear existem cisões entre as ações de planejar, executar e avaliar. Isso acontece quando, na fase do planejamento o professor constrói questões e responde por estas em um momento destituído de qualquer interação, pois é separado do processo de ensino/aprendizagem.

 Posteriormente nos momento de execução e avaliação já na presença dos alunos, vem à tona certa imobilidade de todo o processo, pois o professor construiu o seu planejamento sobre perfis estanques dos alunos cristalizados no planejamento sem muitas vezes se atentar para muitas interações que poderiam surgir. Desta ação linear surge a dicotomia da educação tradicional, professor ensina/aluno aprende. Isto porque o professor delimitou claramente algumas instâncias decisórias dentro de uma demarcação temporal, onde os alunos não participam.

 O problema irá recair na execução de um plano que não se adapta as situações reais de uma sala de aula e em uma avaliação que não alcança as expectativas do professor e do aluno. Com esta apresentação crítica de uma realidade escolar ainda perceptível, este artigo irá mostrar o desenvolvimento dos procedimentos em rede de educação onde se busca privilegiar as inúmeras interações que fazem do ensino uma atividade viva e em constante mutação. Este procedimento possui um grau positivo de aplicabilidade em aulas online, pois a internet já se configura em rede.

As críticas levantadas neste artigo levam em conta as dificuldades de autonomia do professor/a em relação ao programa oficial. O que se propõe é uma mudança de perspectiva, não vendo o programa oficial como uma “camisa de força” e sim como um mapa. Esta nova relação com o programa oficial busca observar:

– O exercício da autonomia do professor que, juntamente com seus alunos, se corresponsabilizam nas decisões de trabalho definidoras de seus percursos.

– A vivência de um programa de ensino enquanto “professor cidadão” e “alunos cidadãos”, comprometidos com decisões de trabalho didático tomadas de maneira compartilhada.

– A constituição numa oportunidade de estudo e aprimoramento também para o professor, resultando na construção de um conhecimento e de uma cultura cada vez mais elaborada (PENTEADO, P.192).

 – Problemas dos processos didáticos Lineares

Todo o esquema de planejamento didático é embasado em três eixos: Objetivos, conteúdos e procedimentos de ensino. O planejamento parte da pergunta “o que fazer? Neste sentido, planeja-se que ação tomar em certa ordem linear. Primeiro se elenca os objetivos que são fundamentados nas perguntas “por que fazer” e “para que fazer”. Segundo se traça um plano de execução sobres as perguntas o que focalizar? e com que fazer? 

Estas questões estão na base da construção do conteúdo que o professor desenvolve elencando temas e subtemas dentro de certo âmbito de autonomia.

  Junto com o plano de execução está a metodologia, embasada nas questões. Como fazer? Com que fazer? com que recursos? 

Por ultimo se analisa os reflexos e resultados de todo o processo e o que foi alcançado por meio da avaliação. E ainda se procura reorganizar o processo de ensino corrigindo as rotas para adequar as expectativas. Em todo este processo subsiste sempre uma decisão monocrática do professor/a nos estabelecimentos dos objetivos e conteúdos, quase sem nenhuma interação.

 As falhas neste processo linear de educação são visíveis e palpáveis quando se avalia as expectativas alcançadas, ou seja, o resultado apresentado pelos alunos, não se adequa com as expectativas do professor/a. Resta ao docente reavaliar suas metas e corrigir suas rotas de forma inócua, pois o processo já ocorreu. É imanente a este ciclo vicioso o isolamento em que o professor/a se coloca quando planeja uma ação pedagógica, sem construí-la conjuntamente com os alunos.  

– Atuação Complexa ou em Rede

Esta forma de atuação pedagógica parte de um pressuposto que toda educação é um ato de comunicação embasado na interatividade e na significação. Estes dois termos possuem grande abertura e abrangência, pois interatividade supõe construções coletivas de conceitos e opiniões e significação é uma das dimensões da linguagem onde os significados se movem no ato da fala e da oralidade. Um ambiente de interatividades e significações pressupõe espaços de debates e de expressividades. A forma de atuação em rede não se detém na transmissão de conhecimento e sim caminha na direção da reelaboração, da ressignificação ou da construção/ produção de novos significados.

Na forma linear de raciocínio se pensa a partir de causalidades que é a forma fundamental do pensamento cartesiano.  Podemos comparar dois mecanismos diferentes, para termos uma ideia da diferença dos modelos lineares e dos modelos em rede. As máquinas e os organismos.

As máquinas atuam em cadeias lineares de causa e efeito. Quando acontece alguma avaria, pode-se identificar uma causa única para tirar conclusões certeiras sobre o defeito apresentado. No caso dos organismos, onde podemos incluir o comportamento e a compreensão humana, o funcionamento se da por meio de modelos cíclicos de fluxo de informação. Diante de algum problema no organismo é irrelevante a identificação de uma causa inicial, pois o problema não se deve a um fator único, mas múltiplo (MARISA 2005 P 325). Esta perspectiva de situar o problema conectado a vários fatores é o fundamento do modo de atuação em rede. 

A compreensão humana não se da a partir de uma única cadeia de raciocínio, existem vários modos de compreender. Na acepção de Babin e kouloumdjian o conhecimento não se da de modo linear, mas se instala a partir de hipóteses, por ensaio e erro e faz uso de procedimentos objetivos e subjetivos que convivem e se inter-relacionam. Não se limita a formação de conceitos mais abriga arte jogo e fantasia (MARISA, 2005P. 325). Portanto não podemos ver o conhecimento como algo a ser alcançado e transmitido de uma forma linear e nem produzi-lo de uma forma isolada sem debate e sem coletividade.

– Construção de um planejamento aberto e interativo

Em procedimento educacional em rede o planejamento é processual as decisões didático-pedagógicas são tomadas ao longo do processo, em oposição a um planejamento pontual/formal fixado em um tempo antecedente a vivencia do processo educativo (PENTEADO 2002. P.15). Neste sentido é um processo de comunicação escolar colaborativo e construtivo que se opõe a uma educação baseada em processos de dominação/subordinação, autoritária e pouco produtiva. Em um planejamento processual se busca a valorização das subjetividades dos alunos e não vê os alunos como objetos. Como Paulo Freire muito bem colocou em seu livro Educação e mudança, uma educação que reforça o estado de objeto só no depósito do conhecimento não problematiza este estado e não faz as pessoas tornarem-se sujeitos (FREIRE, 1979, P.52).

A construção de um planejamento dentro da perspectiva em rede não parte de situações previsíveis, claras e precisas. No sentido que os objetivos têm que se prender necessariamente a expectativas quantitativas. É preciso considerar as expectativas qualitativas que avaliam uma atividade pelo seu grau de vivencia e imersão em uma determinada temática e valorizam também o aspecto coletivo da proposta, no sentido de fortalecer a socialização e os processos colaborativos.

Conclusão

Com estes apontamentos e críticas a uma proposta educativa linear, podemos concluir que o professor/a é um mediador do saber, e hoje com o conjunto de saber, informação e também desinformação, que circula na internet ele precisa mais ainda ser um mediador. Mesmo antes da internet o saber sempre fez parte de um discurso já constituído e o professor/a é um dos polos da relação pedagógica que faz a transição deste saber. Portanto o lugar deste saber ninguém o ocupa.

“Se o diálogo dos estudantes for com o saber e com a cultura corporificada nas obras, e, portanto, com a práxis cultural, a relação pedagógica revela que o lugar do saber se encontra sempre vazio e que por este motivo todos podem igualmente aspirar, porque não pertence a ninguém” (CHAUÍ, 1989 P. 69).

BIBLIOGRAFIA

AQUINO J. G. Do Cotidiano Escolar – Ensaios Sobre a Ética e Seus Avessos, São Paulo: Summus, 2000.

BABIN, P., KOLOUMDJIAN,M.F. Os Novos Modos de Compreender. São Paulo: Paulinas, 1989.

CHAUÍ, M S. (1989) O que é ser educador hoje? Da arte à ciência: a morte do educador. In: Brandão, C R. (org.) O Educador. Vida e Morte. 9 ed. Rio de Janeiro: Graal, pp. 51-70

FONTERRADA, M. T. O, De Tramas e Fios: Um Ensaio Sobre Música e Educação. São Paulo: Editora UNESP, 2005.

FREIRE, P Educação e Mudança, São Paulo: Editora Paz e Terra, 1979.

PENTEADO H D. Comunicação Escolar – Uma Metodologia de Ensino. São Paulo: Editora Salesiana, 2002.

Pedro Guimarães – Mestre em música na área de Etnomusicologia pela UNESP. Professor de Música e Arte Educador nas seguintes Instituições: Serviço Social da Indústria (SESI); Centro de Educação Unificada da prefeitura (CEU); Faculdade Anhembi Morumbi; e Instituto Paulo Vanzolini (Formação de Professores). Músico multi-instrumentista e compositor de trilha sonora.

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