Procedimentos de aprendizagem invertidos – Indução e dedução

Este artigo traz a intenção de aprofundar de maneira prática e teórica, a perspectiva atual de sala de aula invertida. Esta visão pedagógica tem base sobre a inversão do modelo tradicional de ensino onde o professor expõe o conhecimento para posteriormente realizar atividades pedagógicas práticas para testar o alcance e eficácia da transmissão de um determinado conhecimento. A sala de aula invertida oferece uma inversão deste procedimento por meio da proposta de pesquisa e investigação que os alunos farão antes da abordagem do conteúdo pelo professor em sala de aula.

 Dois métodos epistemológicos oriundo da pesquisa científica, os métodos indutivo e dedutivo farão parte desta nova proposta enfatizando-se mais o método indutivo. Pois o método indutivo pertence a um âmbito mais empírico de aquisição de conhecimento onde o pesquisador, por meio do contato direto com o objeto de pesquisa, avalia suas hipóteses para posteriormente chagar a uma dedução lógica sobre os fatos. 

 Neste artigo veremos como a inversão de procedimentos didáticos na utilização desses dois métodos – indutivo e dedutivo – colaboram no cenário atual da educação. 

Introdução

Os processos de ensino/aprendizagem com visões mais tradicionais procuram alicerça-se sobre deduções de um conhecimento pronto e acabado, que parte de premissas e fundamentações teóricas comprovadas, para o ensino de um determinado conteúdo, para depois realizar experiências práticas. Neste sentido, valoriza-se muito mais a teoria do que a prática, colocando esta em segundo plano, preenchendo somente um espaço assessório.

 Em uma concepção invertida do processo tradicional de ensino/aprendizagem, os alunos experimentam e investigam primeiro, por meio de seus conhecimentos prévios e de suas pesquisas, para posteriormente ocorrer a mediação do professor na função de adequar o que foi apreendido pelos alunos ao foco programático e pedagógico.. Portanto, primeiro a experimentação e depois o entendimento da teoria ( Indução-dedução com o apoio do docente) – (MORAN) 

Origens do conceito de sala de aula invertida

Este conceito de sala de aula invertida (flipped classroom) surgiu em 2000. É apresentado pela primeira vez por J. Wesley Baker na 11 internacional conference on College Teaching and Learning.

Mais tarde em 2006, foi aperfeiçoado e posto em prática por dois professores de química, Jonathan Bergmann e Aarom Sams, que observando a crescente ausência de seus alunos, desenvolveram vídeos que posteriormente eram disponibilizados na internet. 

Com isso, os dois professores tiveram enorme sucesso com os seus vídeos, os quais,  foram utilizados em todo o mundo. A partir deste fato, criaram a instituição Flipped Learning Network, sem fins lucrativos, que presta serviços de ajuda pedagógica a professores e alunos (OLIVEIRA, 2018).  A proposta pedagógica de sala de aula invertida surgiu de todo este processo prático e conceitual que aconteceu para a resolução de um problema local por J. Bergman e Aarom Sams, e se expandiu para solucionar problemas na pedagogia contemporânea, como um todo.

O procedimento de sala de aula invertida se relaciona com as tecnologias de informação e comunicação (TIC), no sentido de sua proposta ser centrada na utilização das ferramentas disponíveis na internet. Nesta proposta, o professor propõe o conteúdo a ser trabalhado e os alunos se organizam para realizar suas pesquisas a fim de construir suas hipóteses que podem estar ainda em um nível informativo para depois, com a mediação do professor, esta informação ser problematizada, aprofundada e sistematizada transformando-se em conhecimento.

Nesta dinâmica os alunos participam de um processo flexível de ensino em que podem adquirir conhecimento dentro de suas singularidades cognitivas e dentro de um tempo ajustável, pois os alunos podem assistir aos vídeos em tempos diferentes em suas casas, repetir o vídeo ou somente trechos. Em todo o processo o professor articula e media a situação no sentido de adequar as diferenças cognitivas e emocionais dos alunos propondo atividades individuais, grupos e lideranças.

Neste sistema o professor indica vídeos disponíveis na internet ou até elabora seus próprios vídeos e outros links de conteúdo, para os alunos elaborarem suas concepções e hipóteses sobre o tema a ser trabalhado. 

Método indutivo em evidencia – primeiro momento 

Apesar da utilização dos dois métodos – indutivo e dedutivo- no processo de ensino/aprendizagem, existe, na proposta de sala de aula invertida, uma maior demanda para as acepções indutivas em um primeiro momento.

A forma indutiva de construção de um conhecimento é baseada na observação de determinados fatos por meio de nosso aparato sensível. Nossos sentidos são os protagonistas desta metodologia. Portanto prevalece o empirismo da observação sobre a teoria. Em uma proposta de sala de aula invertida que rompa com a ideia do professor como um expositor de um conteúdo e proponha para este profissional, o papel de mediador atuante junto com os alunos, haverá sempre mais ênfase em uma metodologia indutiva. Esta ênfase acontece por haver antes das aulas, uma pesquisa de observação e levantamento de hipóteses pelos alunos.

No trabalho em sala de aula, após a pesquisa individual do aluno, os professores se tornam mediadores, facilitando, monitorando e articulando com os alunos a construção do conhecimento. Desta forma, na sala de aula é realizada a problematização e construção de conceitos focando mais para um método dedutivo.

A indução é a metodologia mais utilizada no pensamento científico justamente pelo fato da ciência ser uma atividade relacionada com a realidade requerendo do pesquisador um período de observação e compreensão. Em uma sala de aula invertida os alunos terão este primeiro momento observando, recordando e entendendo os vídeos que o professor disponibiliza.

Método dedutivo em evidencia – segundo momento

No segundo momento da proposta de sala de aula invertida se aproxima do raciocínio lógico do método dedutivo, onde prevalece a análise, formação de conceitos, síntese e avaliações. Neste momento os alunos, com a presença do professor em seu papel de mediador, discutem, esclarecem dúvidas, analisam fatos, resolvem problemas, trabalham em grupos e criam projetos.

Desta a forma a construção de todo conhecimento se completa em sala de aula com a presença do professor com a utilização de método dedutivo. Desta forma a proposta de sala de aula invertida é muito semelhante a pesquisa científica onde em um primeiro momento se enfatiza a observação e o entendimento procedendo-se de forma indutiva. Já em um segundo momento, objetivando conclusões e avaliações, o processo didático se aproxima mais do método dedutivo onde existe a análise dos fatos, síntese e criação de conceitos.

Processo cognitivo e planejamento

Para a eficácia do planejamento de uma proposta de sala de aula invertida, é preciso ter como base a metodologia ativa de ensino/aprendizagem em que todo processo didático é centrado no aluno e não no professor como era na metodologia tradicional. Desta forma, o professor precisa estar atento para planejar atividades que estejam de acordo com o processo cognitivo dos alunos. 

Um dos instrumentos pedagógicos que facilita este entendimento é a taxonomia de Bloom revista por Anderson. Segundo, Oliveira (2018), o psicólogo educacional, Benjamim Bloom, em 1956, liderou uma equipe de psicólogos, “para estabelecer uma classificação das capacidades cognitivas de ordem superior que poderiam ser aplicadas na educação para estender a aprendizagem, para além do simples consumo e regurgitação dos fatos” (DRISCOLL III & GERMAIN, 2013, p.169). 

Bloom classificou os processos mentais do simples para o complexo delineando uma estrutura da cognição: Conhecimento, compreensão, aplicação, análise, síntese e avaliação. 

Esta estrutura foi posteriormente, em 1999, revista por Lori Anderson para ajudar e se adequar mais aos planejamentos pedagógicos: Recordar, compreender, aplicar, analisar, avaliar e criar.

 A partir da estrutura apontada por Anderson, no planejamento de uma proposta de sala de aula invertida o professor precisa considerar a seguinte expectativa:

Primeiro momento de pesquisa individual do aluno: Ver vídeos, Recordar expressões e conhecer novos conceitos.

Segundo momento: Esclarecer dúvidas, discutir conceitos, analisar fatos, resolver problemas, trabalhar em grupo e criar projetos (OLIVEIRA, 2018). 

Como indica Teixeira (2013, p.26), a taxonomia revista de Bloom com sua ordenação hierárquica se adequa bastante com o processo de sala de aula invertida, “ O modelo de aula invertida, promove a progressão dos diversos domínios cognitivos em três momentos: antes da aula, acedendo ao material videográfico, disponibilizado ou sugerido pelo professor, os alunos recordarão e compreenderão conceitos; em aula, os alunos aplicarão, avaliarão, analisarão e criarão artefatos, partindo das atividades previamente realizadas, autonomamente, fora do espaço de sala de aula e posteriormente depois da aula, continuarão a rever conceitos, a aplica-los e avalia-los para criarem novos projetos e artefatos.

Conclusão

Podemos concluir que a proposta de sala aula invertida se aproxima de metodologias científicas e acadêmicas em que primeiro o pesquisador se aproxima do fato, fenômeno ou evento histórico, utilizando a observação empírica. Nesta observação proporcionada pelos sentidos atuam dois fatores cognitivos, o entendimento e a memorização. Nesta primeira etapa ocorre o método indutivo de vivencia e contato com os fatos.

Em uma segunda etapa os alunos constroem o conhecimento de maneira dedutiva, confrontando os dados pesquisados individualmente com premissas e hipóteses historicamente comprovadas para que as informações pesquisadas e observadas na primeira etapa se tornem um conhecimento. Nesta segunda etapa o professor atua como mediador, monitor e facilitador, diante de uma metodologia ativa centrada nos alunos.

A metodologia ativa é um fator crucial para tornar eficaz, a proposta de sala de aula invertida.

BIBLIOGRAFIA 

FRENEIT C. Para uma Escola do Povo, São Paulo: Martins Fontes, 1996.

OLIVEIRA A. D. S. A Aula Invertida em História: a percepção dos alunos. Porto: Faculdade de Letras Universidade do Porto, 2018.

Pedro Guimarães – Mestre em música na área de Etnomusicologia pela UNESP. Professor de Música e Arte Educador nas seguintes Instituições: Serviço Social da Indústria (SESI); Centro de Educação Unificada da prefeitura (CEU); Faculdade Anhembi Morumbi; e Instituto Paulo Vanzolini (Formação de Professores). Músico multi-instrumentista e compositor de trilha sonora.

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