Novas metodologias e competências socioemocionais

As novas metodologias e as competências socioemocionais são dois conceitos que permeiam a educação contemporânea. As novas metodologias têm raízes na escola nova já no início do século XX, e o eixo comum que transpassa essas novas metodologias é o aluno no centro da sala de aula.

Ou seja, nesta educação  o principal ator na tríade professor – conhecimento – aluno, é o aluno. Contudo, antes da escola nova o ator principal era o professor. Neste sentido, era uma educação autoritária que não dava espaço para os alunos desenvolverem suas autonomias.

Portanto, podemos dizer que hoje a qualidade básica e positiva para uma boa educação é a autonomia dos alunos. No entanto, atualmente existe o conceito da inteligência socioemocional que também está no âmbito escolar, e que conversa com os métodos ativos.

Portanto, a partir de pesquisa do psicólogo e jornalista Daniel Goleman a inteligência socioemocional está cada vez mais inserida nas preocupações escolares.

Segundo Goleman esta inteligência é a capacidade de identificar nossos próprios sentimentos e dos outros, de nos motivarmos e gerirmos impulsos dentro de nós.

Novas metodologias de ensino requeridas atualmente

As metodologias ativas são as mais utilizadas atualmente para sanar os problemas e as demandas do ensino atual. 

Durante todo o século XX e o século XXI até nossos dias a principal modificação da metodologia tradicional para os métodos ativos foi a mudança dos papéis de ensino. 

Ou seja, ocorreu a migração do papel de principal agente dos processos educacionais – do professor para o aluno.

Portanto, o aluno é o protagonista do ensino, característica que vem se ampliando atualmente.

No entanto, por mais que esta ideia seja uma ideia que vem se desenvolvendo a mais de um século, atualmente o uso da tecnologia da informação e comunicação se acoplam a ela.

Assim, hoje essa transformação conta com o auxílio de celulares, tablets, computadores, entre muitos outros dispositivos.

Todas essas ferramentas servem como facilitadoras do acesso à informação em sala de aula.

No entanto, o ensino ativo é pautado em diferentes modelos de educação que podem variar com o objetivo da lição, com a disciplina entre outros fatores.

Tipos de metodologias ativas mais aplicadas atualmentes

1- Gamificação

A gamificação é um recurso pedagógico que consiste em utilizar as características dos jogos para engajar os alunos e unir alunos e professores em torno do conhecimento e sua problematização.

Além disso, a gamificação é uma estratégia bem eficaz para que os alunos desenvolvam um espírito de competitividade saudável no sentido de ser coletiva e inclusiva

É importante lembrar que o processo de gamificação não depende só de jogos tecnológicos. 

Ou seja, os jogos podem ser de qualquer espécie, desde que insiram temas interessantes para o aprendizado dos alunos.

 Vale lembrar, que o jogo aplicado à educação surgiu com o conceito de game design criado pelo programador britânico NicK Pelling em 2002. A partir deste conceito a sua aplicação em escolas se propagou entre os anos de 2010 e 2012.

Além disso, a ludicidade dos jogos é muito importante para o desenvolvimento social e cultural. Neste sentido, o viés lúdico do jogo foi analisado como um efeito positivo na cultura e sociedade pelo pesquisador Johan Huizinga. 

Concluindo, no jogo é desenvolvido nos jovens e crianças o raciocínio lógico frente aos problemas. Segundo a desenvolvedora de jogos Jane McGonigal o jogo facilita a formação de pensamentos estratégicos enriquecedores no ambiente educacional.

2- Sala de aula invertida

A sala de aula invertida é uma metodologia de ensino muito utilizada atualmente e nasceu de uma inversão conceitual do ensino.

Ou seja, antigamente se acreditava que o aluno precisava aprender do professor por meio de uma aula expositiva. nesta aula era passado todos os conceitos básicos e teóricos da matéria a ser vista.

Contudo, no decorrer da história do ensino esta proposta se mostrou cada vez mais ineficaz, pois o princípio desse conceito está em começar a desenvolver o pensamento dedutivo para depois ingressar em experiências indutivas.

Ou seja, começar pela proposta teórica para depois realizar experiências práticas em grupo ou individualmente.

A sala de aula invertida inverte totalmente este conceito, dando espaço aos alunos pesquisarem primeiro as matérias, as indicações, os vídeos e os links dados pelo professor para depois com a mediação desse professor problematizar o assunto.

O conceito de sala de aula invertida (flipped classroom) surgiu em 2000. É apresentado pela primeira vez por J. Wesley Baker na International conference on College Teaching and Learning.

Mais tarde, em 2006, foi aperfeiçoado e posto em prática por dois professores de química, Jonathan Bergmann e Aaron Sams, que observando a crescente ausência de seus alunos, desenvolveram vídeos que posteriormente eram disponibilizados na internet.

Com isso, os dois professores tiveram enorme sucesso com os seus vídeos, os quais foram utilizados em todo o mundo. A partir deste fato, criaram a instituição Flipped Learning Network, sem fins lucrativos, que presta serviços de ajuda pedagógica a professores e alunos.

3- Ensino Híbrido

O ensino híbrido é uma das metodologias que mais se utiliza atualmente por causa da pandemia de COVID – 19. Muitas escolas no período de retorno às aulas presenciais fizeram um período intermediário de ensino híbrido até para não causarem aglomeração em sala de aula.

Este tipo de ensino mescla aulas presenciais com aulas online, neste sentido ele é um pouco semelhante com a metodologia de sala invertida.

Ou seja,  os alunos têm liberdade e autonomia para pesquisarem o assunto em suas casas, para depois em aulas presenciais desenvolverem o assunto com mais precisão e problematização.

Na prática, o ensino híbrido funciona com a aquisição de materiais pelos alunos dos professores. Entre estes materiais estão indicações de fontes de conteúdos confiáveis como sites acadêmicos e sites profissionais sobre determinados conteúdos.

Portanto, para que o ensino híbrido aconteça de maneira eficaz, o professor precisa ser mediador no processo de pesquisa da internet e no processo de problematização em sala de aula. 

No processo de pesquisa os alunos não podem pesquisar sem nenhuma indicação, pois atualmente na internet tem muitos conteúdos falsos advindos de fontes não confiáveis e feitos sem nenhuma pesquisa.

Por outro lado, no processo em sala de aula o professor precisa se tornar o mediador diante de algumas propostas que proporcionem autonomia aos alunos, como por exemplo debates, trabalhos em grupos, projetos e outros.

Competência na formação escolar

Antes de saber o que é o conceito de competência socioemocional é preciso conhecer o que envolve o conceito de competência. 

No entanto, nesse texto ficará impossível desenvolver este conceito na origem, pois tem estudos que datam da idade média.

Portanto, vamos focar para épocas que deram origem aos estudos voltados para a cognição e as áreas emotivas e sociais. 

Uma das fontes dos estudos que desembocaram no estudo das competências socioemocionais é o ramo da psicologia social que se desenvolveu desde a metade do século XIX  e em todo século XX.

No entanto, a partir de 1970 muitos autores desenvolveram o conceito de competência definindo-a em três grupos distintos:

  • Cognitiva
  • Inteligência emocional
  • Inteligência social

A inteligência cognitiva é focada na solução de problemas por meio da criatividade e do pensamento lógico. Ou seja, é a capacidade de pensar e analisar a informação e a situação para proporcionar um desempenho efetivo superior.

Por outro lado, a inteligência emocional e social são capacidades de reconhecer, entender e usar a informação emocional em si próprio e sobre os outros.

portanto, ela é utilizada para preservar o bem-estar pessoal e a harmonia nas relações interpessoais.

Competência socioemocional

Segundo, o psicólogo e teórico organizacional Richard Eleftherios Boyatzis, as inteligências emocional e social são o elemento chave para lidar com a diversidade, principalmente em relações de trabalho.

Neste sentido, esta inteligência está conectada com o manejo das emoções pessoais em ambientes heterogêneos, proporcionando a todos aceitarem as diferenças culturais.

Vale lembrar, que esta conceituação pode se estender para o ambiente escolar também

Porém, de acordo com rafael Bisquerra, presidente da RIEEB – Rede Internacional de Educação Emocional e Bem-estar – a competência socioemocional possui 5 componentes:

  • Consciência emocional de si  e de outras pessoas: Captação do clima emocional em diferentes contextos.
  • Regulação emocional: Gerenciamento das emoções.
  • Autonomia emocional: Reconhecimento de limites pessoais e autoestima elevada.
  • Domínio das habilidades sociais: Capacidade de se comunicar e ser assertivo e ter atitudes respeitosas
  • Habilidade de vida e bem-estar: Adoção de comportamentos apropriados para solucionar problemas pessoais, familiares, profissionais e sociais preservando o ambiente social e o bem-estar pessoal.

Conclusão

Este artigo tratou de dois temas que permeiam o cenário da educação atual: os métodos ativos e a competência socioemocional.

Vendo a primeira vista, parece que esses dois temas não possuem nenhuma relação entre si.

No entanto, o eixo principal dos métodos ativos que é o desenvolvimento da autonomia está bastante relacionado com o desenvolvimento da competência socioemocional.

Ou seja, no mesmo momento que criamos várias ferramentas para proporcionar um ensino que coloque o aluno no centro dos componentes educacionais, estamos focando também no desempenho social e emocional do aluno.

Neste sentido, estes dois grandes temas da educação precisam estar cada vez mais conectados para chegarmos em um ensino que trabalhe a autonomia dos alunos em todos os níveis: cognitivo, emocional e social.

Pedro Guimarães – Mestre em música na área de Etnomusicologia pela UNESP. Professor de Música e Arte Educador nas seguintes Instituições: Serviço Social da Indústria (SESI); Centro de Educação Unificada da prefeitura (CEU); Faculdade Anhembi Morumbi; e Instituto Paulo Vanzolini (Formação de Professores). Músico multi-instrumentista e compositor de trilha sonora.

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