Novas diretrizes para educação em 2023

Atualmente existe uma forte tendência do ensino de se direcionar para o mundo do trabalho no desenvolvimento de habilidades e competências que são requeridas para aumentar as chances de empregabilidade no futuro de jovens e crianças.

Estas exigências do ensino e de suas novas diretrizes trazem discussões, pontos positivos e negativos. É importante lembrar também que todas estas mudanças de perspectivas na educação vão originar mudanças também nas grades curriculares da formação inicial de professores.

Os pontos negativos de tais mudanças giram em torno do empobrecimento educativo por causa do alto grau de pragmatismo do ensino. Neste caso, um ensino pragmático voltado para o trabalho se transforma em uma educação tecnicista esvaziada de conteúdo teórico caráter ético e de crítica histórica e social.

Por outro lado, quando habilidades, competências são trabalhadas juntamente com amplitude nos conteúdos e uma visão crítica e histórica os resultados são bastante positivos. Pois existe a formação técnica amparada pela formação conteudística, crítica e histórica.

Entre o ensino puramente técnico e prático e o ensino crítico e teórico existe uma aparente dicotomia que pode ser conciliada. 

Esta conciliação está no trabalho dos professores que precisam conduzir os alunos a um bom grau de conhecimento e competência dentro das especificidades de cada sala de aula e cada comunidade.

No entanto, precisa trabalhar este caminho com auxílio da teoria histórica e crítica que analisa os aspectos sociais da humanidade, construindo sujeitos críticos e autônomos.

Neste texto veremos algumas tendências que estarão presentes na educação básica de 2023 que giram em torno das novas tecnologias e da educação socioemocional e da relação da educação com o trabalho. 

BNCC/educação e trabalho

A relação entre educação e trabalho é uma temática bastante forte na educação atual. No entanto, esta relação ainda gera muitas críticas de entidades educacionais e educadores, principalmente com relação ao esvaziamento de conteúdos.

O eixo mais significativo que sintetiza os objetivos pedagógicos da BNCC é o desenvolvimento de competências em relação ao saber-fazer, esta concepção de ensino causa um esvaziamento do conteúdo teórico de diversas disciplinas, pois evidencia mais o aspecto prático e técnico das disciplinas voltando-as para o mundo do trabalho, problema que se acirra mais no ensino médio.

Porém, quando se nega o conteúdo de diversas matérias se nega ao mesmo tempo o que há de mais avançado no campo da ciência, cultura e arte para a população que está em estratos mais precários da sociedade.

Portanto, oferecer um conteúdo meramente técnico é uma concepção contrária à escola como lugar de democratização do saber. Esta crítica colocada sobre a BNCC está contida no documento da ANPEd – Associação de Pós-Graduação e Pesquisa em Educação.

Segundo esta associação, a educação básica precisa fornecer aos alunos, condições de compreender e transformar suas vidas pelo acesso ao conhecimento historicamente acumulado pela sociedade.

Para a ANPEd a centralidade do conhecimento é retirada em favor de uma saber-fazer, nesse processo ocorre a desarticulação da teoria e da prática. Além disso, transforma o lado prático do ensino em um treinamento esvaziado de conteúdo.

No entanto, se a BNCC for trabalhada de maneira autônoma pelos professores e diferentes escolas pode gerar uma formação positiva nos alunos, pois proporciona a liberdade da sua aplicação diante das especificidades de cada sala de aula e de cada região.

Novas tecnologias de educação

No campo das tecnologias atrelada à educação as novas tendências para 2023 estão nas metodologias híbridas que fundem ferramentas onlines com ações presenciais.

Os modelos tradicionais de educação estão aos poucos se modificando com auxílio das tecnologias da informação e comunicação.

O isolamento ocasionado pela pandemia acelerou certos processos tecnológicos focados em aulas onlines e híbridas. Atualmente, algumas escolas misturam a praticidade do ensino a distância com as aulas presenciais.

O modelo híbrido é adotado para trazer mais engajamento dos alunos em um processo de aprendizagem mais interativa. Além disso, este modelo vem se adequar a uma temática bastante evidenciada na educação atual e para 2023, a personalização do ensino.

Neste sentido, as metodologias híbridas que misturam ferramentas e processos onlines com aulas presenciais vem auxiliar o professor na lida com a heterogeneidade de uma sala de aula. 

Podemos tomar o ambiente escolar de uma sala de aula como um ambiente heterogêneo formado por sujeitos com histórias de vidas diferentes e culturas diversas.

Todas estas diferenças causam muitos problemas para o professor, diante de uma sala com 30 ou mais alunos tratá-los de forma individualizada.

Neste caso, se o professor adotar uma metodologia híbrida que valorize uma personalização do ensino pode ser uma saída produtiva para o professor face aos problemas diversos de cada aluno.

Esta personalização se dá pela forma que o conteúdo é trabalhado na forma virtual trazendo exercícios com autoavaliações, fazendo com que os alunos saibam mais claramente as suas dificuldades individuais.

Portanto, por meio de uma pesquisa individual do material que está em meios virtuais o aluno se apropria do conhecimento e a sala de aula passa a ser um ambiente de trocas e problematização do conhecimento adquirido individualmente.

As atividades em sala de aula não se resumem mais somente na exposição do conteúdo pelo professor, como no ensino tradicional. Portanto, o professor se torna o mediador em torno de atividades como resolução de problemas, elaboração de projetos pedagógicos, discussões, debates, laboratórios e outras formas de ensino.

Educação socioemocional

A educação socioemocional é uma das premissas presente na BNCC e envolve o desenvolvimento das habilidades comportamentais. Estas habilidades fazem com que as crianças e jovens possam lidar melhor com a sociedade e consigo mesmas.

Entre as características presentes nas habilidades comportamentais estão:

  • Empatia
  • Autoconhecimento
  • Paciência
  • Autonomia
  • Resiliência
  • Criatividade
  • Comunicação assertiva

É importante salientar que a formação de competências socioemocionais foi incorporada a educação básica no Brasil pela reforma do ensino médio e pela BNCC em 2017. 

No entanto, ao mesmo tempo que trabalha os aspectos afetivos e emocionais dos alunos recebe também algumas críticas pelo seu aspecto idealista e acrítico na base desta concepção

Ou seja, o problema desta concepção, é culpabilizar o indivíduo e as instituições como responsáveis pelos problemas sociais, negligenciando a verdadeira responsabilidade de um sistema social que cria a todo momento, desigualdades sociais. 

É importante salientar que a concepção de competências socioemocionais no Brasil é muito influenciada pelo economista James Heckman apresentada em seminários de educação para o século 21 em 2011. A partir destes seminários a concepção de competências socioemocionais originou muitas pesquisas e ultimamente está entre os focos principais da BNCC.

No entanto, nesta concepção se vislumbra uma falsa dicotomia entre cognição e afetividade. Segundo esta concepção, o ensino tradicional trabalha somente áreas intelectuais do nosso cérebro e as áreas afetivas e emocionais são negligenciadas.

Porém, segundo a psicóloga Lígia Márcia Martins, no psiquismo humano não há separação entre emoções e pensamentos, pois ele se caracteriza com um sistema de processos afetivos e cognitivos interdependentes. 

Este fato ocasiona muitas críticas à educação baseada nos aspectos socioemocionais, pois esta concepção está baseada em uma separação entre aspectos cognitivos e afetivos que não ocorre em um processo de ensino/aprendizagem.

Conclusão

Até aqui vimos neste texto 3 tendências da educação para 2023: o direcionamento da educação para o trabalho; o ensino híbrido e a educação socioemocional.Porém, nestas 3 tendência podemos vislumbrar pontos positivos e negativos.

Os pontos positivos vão em direção da melhoria do ensino no olhar para a subjetividade, para as habilidades práticas e para as diferentes personalidades contidas em uma sala de aula.

No entanto, entre todas estas estratégias de ensino deve-se atentar para aspectos da educação que não podem ser negligenciados, como o ensino de conteúdos de maneira crítica e reflexiva, onde todas as pessoas tenham acesso a uma educação formadora e que propicie a apropriação de conhecimentos.

Uma educação que se diferencie de um treinamento adaptativo que cria sujeitos adequados e acríticos. Lembrando, que a noção de competência que permeia a BNCC está muito atrelada à adaptabilidade de sujeitos às demandas do mundo do trabalho.

Neste sentido é preciso discutir na educação estes objetivos direcionados à competência, pois na visão de Chauí (2016, p. 113) a competência tem como alvo criar os incompetentes.

Desta maneira, estamos regredindo ao modelo médico adaptativo do início do século XX, onde crianças com deficiências eram segregadas e separadas da comunidade escolar e da sociedade por não estarem “adaptadas”.

Pedro Guimarães – Mestre em música na área de Etnomusicologia pela UNESP. Professor de Música e Arte Educador nas seguintes Instituições: Serviço Social da Indústria (SESI); Centro de Educação Unificada da prefeitura (CEU); Faculdade Anhembi Morumbi; e Instituto Paulo Vanzolini (Formação de Professores). Músico multi-instrumentista e compositor de trilha sonora.

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