TIC’s nas séries iniciais

Este texto tem a intenção de elucidar a utilização de tecnologias da informação e comunicação nas primeiras séries do fundamental.

Portanto, para fazer uma incursão sobre este tema precisamos primeiramente abordar algumas premissas que estão na BNCC, a fim de vislumbrar as necessidades da educação atual em relação aos dispositivos digitais e virtuais existentes na sociedade.

No entanto, indo além das propostas contidas na BNCC é importante saber as origens do uso da informática no âmbito escolar. Neste sentido, este texto oferece uma análise educacional e sociológica sobre as motivações que levaram a grande importância das TIC ‘s na educação atual.

Para esta análise iremos passar pelos seguintes temas: Conceito de TICs; Educação ativa e tecnologia; Problemas sociais e tecnologia

Conceito de TIC’s na educação

As Tecnologias da Informação e da Comunicação (TIC ‘s) representam o conjunto de ferramentas existentes no mundo informatizado que facilitam e democratizam a circulação de informação.

Portanto, quando este mundo informatizado passa ser um ator escolar, atuando por intermédio dos alunos,comunidade, coordenadores, diretores e professores, precisamos repensar o papel da educação e dos professores.

Neste sentido, o conceito de TIC ‘s na educação nos leva a definir a tecnologia da informação como aquela que possibilita uma educação intermediada.

Assim, o conceito de TIC ‘s transforma professores que expõem o conhecimento em facilitadores que intermediam esse conhecimento. No entanto, vale lembrar que garantir autonomia aos alunos e abdicar do papel centralizador da educação, foi uma premissa dos professores da escola nova. Esta proposta nasceu no início do século XX e se concretizou nos métodos ativos, tão cultuados atualmente.

Porém, no período em que se desenvolveu a Escola Nova não havia esta ferramenta tecnológica aliada à escola. No entanto, o conceito de educação que focava em um desenvolvimento autônomo dos alunos já estava estruturado.

Atualmente com o constante avanço do uso de ferramentas tecnológicas no âmbito escolar, os métodos ativos foram revisitados e reformulados dentro do conceito de TIC ‘s.

Na metodologia ativa transforma-se a centralização do professor que havia na tríade – professor/conhecimento/aluno –  e coloca-se o protagonismo no aluno.

Porém, é importante lembrar que um dos principais problemas apresentado pelos métodos ativos foi não dar a importância devida ao conhecimento.

Neste sentido, o conhecimento foi tratado como um produto pronto, aistórico. Não havia a preocupação que os sujeitos que se apropriarem desse conhecimento e deixassem sua marca. Ou seja, tratava-se o conhecimento como uma informação saída do polo emissor e que chegasse ao pólo receptor, idêntica a si mesma sem ser debatida ou problematizada.

Na história da educação brasileira existiram várias tentativas de preencher essa lacuna deixada pelo legado da Escola Nova, uma delas foi a pedagogia crítico-social fundada sobre uma premissa questionadora: O que ensinar de significativo?

O principal eixo dessa pedagogia surgida na década de 70 era formar a consciência crítica no discente por meio de possibilitar o domínio e a apropriação de vários conteúdos por parte dos alunos. 

Vale lembrar que o formulador dessa corrente educativa foi Demerval Saviani e um dos expoentes dessa ótica educativa foi Paulo Freire.

Na acepção do educador Paulo Freire, a educação não pode partir de seres a-históricos formando outros seres a-históricos.

 Paulo Freire destaca que o professor precisa se comprometer com a educação a partir de uma reflexão sobre seu estar no mundo.

No entanto, quando o professor sabe o porquê de estar no mundo, o que vem depois é a ação sobre o mundo.

Quando um ato educativo não vem acompanhado de uma reflexão, mesmo diante de nosso mundo devidamente instrumentado na tecnologia, não acontece o ensino/aprendizado, acontece somente uma adaptação do sujeito a um mundo informatizado.

Neste sentido, o conceito de TIC ‘s na educação precisa estar acompanhado de uma luta contra a adaptação.

Ou seja, quando se utiliza tecnologia da informação e comunicação na educação precisamos nos antagonizar ao fato de ser um ser passivo imerso no mundo tecnológico e se opor a um mundo que quer seres adaptados em vez de seres integrados.

Educação ativa e tecnologia

A partir do conceito de TIC ‘s na educação entendemos que a educação precisa ser mediada, problematizada e discutida. Nesta perspectiva o ato educativo é um processo em constante transformação onde os professores não podem planejar ações engessadas sem a interação com os alunos. 

Neste sentido, os professores não são mais expositores de um conhecimento e sim mediadores e facilitadores. Nestes novos papéis, os professores  tomam um posicionamento horizontal diante dos alunos e não mais um posicionamento vertical de cima para baixo.

O conjunto escola ativa e tecnologia reflete em uma prática de transformar a informação em conhecimento por meio da problematização desta. 

No entanto, para problematizar toda essa informação advinda da internet os professores precisam utilizar muitas ferramentas pedagógicas que foram revisitadas e reinventadas atualmente para dar conta da velocidade que as tecnologias da informação avançam. Entre elas estão:

Aprendizagem imersiva:

Esta ferramenta surgiu na junção de 3 dimensões do ensino atual que são: O ensino a distância; o ensino híbrido; ensino presencial informatizado.

Esta ferramenta é centrada na criação de uma segunda realidade em que o aluno pode simular interações com o conhecimento. Esta proposta também é baseada no aspecto lúdico do jogo, criando maior engajamento. 

sala de aula invertida 

Um dos aspectos da pedagogia da sala de aula invertida é a troca do processo dedutivo pelo indutivo. Ou seja, primeiro o sujeito mergulha na realidade de forma empírica para depois tirar conclusões e estruturar modelos ou teorias.

Quando transferimos este processo para sala de aula, nasce a proposta de sala invertida. Nesta proposta , o professor oferece ao aluno vários vídeos que contêm o tema a ser trabalhado em sala de aula. 

A partir dessa ação, o professor poderá trabalhar posteriormente o assunto em vários formatos, como debates, projetos pedagógicos, projetos culturais e outros. 

Este conceito de aula pode-se aliar-se ao modelo híbrido de ensino em que os alunos fazem um mergulho empírico na temática a ser dada em suas casas acessando várias ferramentas das TIC ‘s, para depois continuar o aprofundamento da matéria nas salas de aulas.

Este modelo surgiu pela primeira vez em 2000 apresentado pelo educador norte americano J. Wesley Baker, mais tarde esse modelo foi aperfeiçoado por Jonathan Bergmann e Aaron Sams em 2006.

Gamificação

Esta proposta educativa que trabalha as TIC ‘s na educação surgiu primeiro no mundo do trabalho para engajar funcionários de empresas aos objetivos e valores desta.

No entanto, quando essa proposta passou a ser aplicada na educação se verificou o aumento do interesse dos alunos que já estavam interagindo com um mundo informatizado em seus cotidianos.

O jogo dentro da sala de aula por meio de aparatos tecnológicos possibilita o desenvolvimento de capacidades nos alunos, entre as quais:

  • Capacitação criativa
  • apropriação
  • adequação
  • aprendizado por meio de perdas
  • imprevisibilidade

Problemas sociais e tecnologia

Até aqui vimos que nos tempos atuais é irreversível e imprescindível a adoção de tecnologia digitais na escola. vale lembrar que ultimamente assistimos um dos maiores eventos de isolamento social ocasionado pela COVID – 19.

Este isolamento teve como consequência a prática do ensino remoto, prática esta que desnudou desigualdades sociais frente às demandas tecnológicas.

Assim, no contexto da pandemia podemos assistir todo tipo de aulas incipientes e inadequações provindas da desigualdade social associada à demanda tecnológica que se fazia premente.

Neste cenário desigual as principais dúvidas foram as seguintes:

  • A escola vai adotar o ensino remoto ou as atividades vão esperar o fim da pandemia?
  • Quantos alunos possuem equipamento adequado para o ensino remoto?
  • Quantos alunos têm a possibilidade de acessar a internet?
  • Como o ensino presencial será transferido para o ensino online?

Com toda esta inusitada e  demorada situação, veio à tona a questão que sempre esteve no âmago da educação: educação é privilégio ou direito?

Vale lembrar que já em 1950 o educador Anísio Teixeira defendia o direito da educação em todo território nacional. A partir dessa consciência a constituição de 1988 focou na educação como direito de todos  e dever do estado.

Esta visão desembocou na LDB de 1996 e nos Planos nacionais de educação, no entanto, as desigualdades continuaram e seus traços são mais reforçados e marcados por critérios de raça, classe e gênero entre os estudantes.

Estas demarcações de desigualdades se mostraram mais visíveis atualmente quando muitos jovens e crianças se evadiram da escola por conta do isolamento e também por não possuírem equipamentos adequados para acessar uma educação digital de forma inteligível e integral.

No entanto, sabemos que tais desafios na educação brasileira não são novos, porém com a pandemia esses desafios se acentuaram ainda mais. Essas acentuações de problemas sociais na educação mostraram para nós de maneira mais clara os mecanismos de criação e reprodução de desigualdades. 

Assim, podemos ver o aumento das distâncias entre escolas públicas e privadas, e entre ricos e pobres.

Fica uma lição para todos os adeptos das TIC ‘s na educação: O uso de tecnologias no tecido social é  marcado por grandes diferenças e desigualdade, diante disto é preciso que a visão tecnológica educativa abarque esses problemas em seus objetivos.

Transformando o ideário pragmático contido nas ferramentas tecnológicas em uma proposta educacional formadora. 

Neste sentido, é importante lembrar que a realidade brasileira se mostra com muitas lacunas no âmbito tecnológico e educativo.

Algumas pesquisas feitas em 2019 pelo Centro Regional de Estudos para o Desenvolvimento da Sociedade da Informação,  já apontavam para a diferença de acesso à internet entre as classes. 

Assim, entre as classes A e B, o acesso era de 100% enquanto entre as classes D e E o acesso era de 50%.

A partir desse cenário, precisamos de uma educação informatizada que não se limite ao discurso ideológico e que mude a realidade social de muitos jovens e crianças de maneira efetiva.

Pedro Guimarães – Mestre em música na área de Etnomusicologia pela UNESP. Professor de Música e Arte Educador nas seguintes Instituições: Serviço Social da Indústria (SESI); Centro de Educação Unificada da prefeitura (CEU); Faculdade Anhembi Morumbi; e Instituto Paulo Vanzolini (Formação de Professores). Músico multi-instrumentista e compositor de trilha sonora.

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