Professor produtor de conhecimento na Rede

Este artigo procura evidenciar o papel do professor sublinhando fatores que incidem sobre o campo simbólico e subjetivo  de sua representatividade. Neste sentido busca-se fazer uma cartografia sobre a identidade e a representatividade do professor a fim de estabelecer o seu papel na produção do conhecimento. O plano do conhecimento e o aporte simbólico do professor são somados, na objetivação deste artigo, a dinâmica da rede. Hoje a rede de comunicação da internet pode ser considerada um fator atuante e integrante no processo de ensino/aprendizagem influindo na geração e produção do conhecimento.

Introdução

O Professor está hoje na eminencia de reformular seu papel diante do conhecimento e da sociedade. Seguindo esta premissa, centraliza-se o conteúdo como foco deste artigo . Como componente do saber escolar, o conteúdo é condicionado por orientações programáticas oficiais e pelas ciências de referencia de cada disciplina. O professor tem o papel de efetuar os recortes para ajustar os conteúdos a serem trabalhados ás situações específicas de ensino e realidades escolares.

 Este artigo tem como objetivo elencar uma série de procedimentos que o professor pode fazer para lidar com a dinâmica de informação e conhecimento promulgada pela internet e como ele pode produzir conhecimento no papel de orientador e mediador 

 Coloco aqui algumas questões esclarecedoras que serão trabalhadas neste artigo: Quando o conhecimento é informação e quando o conhecimento é conteúdo; Produção de textos mediadores e orientadores diante de questões colocadas nas redes; Senso comum e conceito científico; narrativa e experiência.

Conhecimento e conteúdo

O verdadeiro conteúdo, na visão de Heloisa Dupas Penteado, é o que é significativo para o aluno. Neste sentido é preciso estabelecer vínculos do conhecimento entre o global e local, regional e nacional, no caso de escolas que carregam a problemática de uma sociedade inclusiva. Os conhecimentos também se tornam significantes quando os conteúdos dizem respeito para as questões relevantes dos alunos, além de sua abordagem mais universal ou questões sociais mais amplas. Descobrir estes vínculos é uma das tarefas do professor/a. Portanto é nessa mediação que ele pode tornar um produtor de conhecimento, no relato pessoal de suas experiências pedagógicas ele pode produzir um material que será de grande ajuda para outros profissionais. Na construção do conteúdo o professor dialoga com o programa oficial, a partir de informações que vem de seus alunos e de suas reais circunstancias de aprendizagem (que incluem circunstancias de escolaridade e de vida) (PENTEADO 2002 p187). Nesta forma de construção de saber o professor pode se tornar um escritor/produtor relatando o conhecimento surgido nas aulas. A veiculação deste conteúdo pode ser feita de várias formas: produção de artigos; e-books; blogs etc…

Conhecimento e informação

Em um âmbito de trabalho voltado mais para a educação tradicional, o conhecimento é trabalhado a título informativo sem a intervenção dos alunos por meio de seus pré-requisitos, sem historicidade. Muitas vezes não levando em consideração, o senso comum sobre os mesmos fatos estudados. Neste sentido, os conceitos e temas de um programa de ensino transformam-se em informação.

Desta forma o encontro do senso comum trazido pelos alunos com o conhecimento científico, não é cogitado pelo ensino. Nesta forma de construção do saber, não tem o que se relatar, o conhecimento reverte-se em uma cópia.

Produção mediação e orientação

A internet atualmente é um complexo formado por redes sociais; plataformas digitais de veiculação de produtos; repositórios de artigos, teses e livros; e veiculação publicitária.

Todos estes elementos deste complexo se relacionam pelo sistema de algoritmo que facilita a venda e a veiculação de conteúdo por meio da estipulação de perfis.

Hoje, a maioria das pessoas vive dentro deste campo de produção, venda e veiculação. Portanto na linha de pensamento do hibridismo cultural, levantada por Artur Cancline, podemos concluir que cada vez menos se visualiza fronteiras e simbolizações demarcatórias entre cultura rural e urbana; demarcações museológicas entre o antigo e o contemporâneo; e por último, existe uma fluidez das demarcações institucionais.

A falta de demarcações culturais vai incidir na fragilidade das demarcações institucionais. No sentido que é cada vez mais frágil neste meio complexo, que representa a internet, o papel das escolas e universidades, como instituições únicas do saber. 

Portanto há uma fluidez, por vezes, perigosa de todas as instituições referentes à ciência, jornalismo, história, medicina, direito e outras. O perigo desta fluidez está nas distorções dos fatos históricos e dos pressupostos éticos e científicos, misturando conhecimentos advindos de pesquisas sociais, históricas e científicas com concepções constituídas somente de senso comum e que, sem nenhuma pesquisa, atestam supostas verdades.

Neste cenário, será cada vez maior a necessidade de pesquisadores e mediadores em que se enquadra o professor/a. Este profissional precisa se ater que não será mais um trabalhador de sala de aula e sim um trabalhador desta complexa rede.

Senso comum e senso científico

 O conhecimento científico é o conhecimento adquirido por métodos científicos e nos seus desdobramentos como pesquisa, levantamento de dados qualitativos e quantitativos, produção de informação, conclusões e hipóteses. 

A sua elaboração exige tempo de pesquisa, comparações e monitoramentos. E mesmo posteriormente a todo este procedimento, ele ainda não é conclusivo e está sempre aberto a novas considerações e debates.

O conhecimento de senso comum é também conhecimento, á medida que resultam de informações obtidas e trabalhadas segundo procedimento empírico de prática da vida (PENTEADO 2002. P.188). 

  Uma das características do senso comum é a singularidade que é muito rica para o trabalho coletivo somado ao conhecimento científico. Na sua singularidade a criança e o jovem trazem para sala de aula muitos problemas subjetivos enraizados na sua narrativa e na sua linguagem, que podem ser somados ao saber e experiência escolar.

Narrativa e experiência

Muitas vezes as questões trazidas pelos alunos para sala de aula pode se tornar um estudo de caso ou uma pesquisa de campo. Algumas crenças levantadas por pesquisadores sociais atestam este fato quando afirmam que só se conhece em profundidade alguma coisa da vida da sociedade ou da cultura, quando através de um envolvimento – em alguns casos um comprometimento – pessoal entre o pesquisador e aquele, que ele investiga (BRANDÃO, 1999 p.8).

Neste sentido as narrativas e experiências que os alunos trazem são materiais que podem contribuir para a construção de todo conhecimento. Este viés de pesquisa foi utilizado por Walter Benjamin (1892 – 1940) fundamentando algumas perspectivas de análise no que diz respeito ao conceito de experiência e sua relação com as narrativas orais. Segundo Benjamim a história humana é construída na experiência comum compartilhada pelos vários membros de uma sociedade calcada na memória. Este autor aponta já na sua época para uma atrofia da experiência, provocada pelas novas formas de sociabilidade criadas na modernidade.

 Esta atrofia se da pelo desaparecimento das antigas formas narrativas substituídas pela informação dos jornais e mais tarde pela sensação das linguagens televisivas, fotografias e cinema.

Com a atrofia da experiência entra em crise a identidade de cada um, neste sentido será preciso uma articulação do professor/a para detectar estas singularidades e transforma-la em conhecimento científico.

Conclusão

A partir de conceitos levantados por este artigo é preciso um novo olhar para o papel dos professores na sociedade. Levando em conte que ele não está mais conectado fisicamente a uma específica sala de aula e sim a um campo complexo de culturas híbridas e conhecimentos compartilhados.

BIBLIOGRAFIA

BENJAMIN, W. (1989). Sobre Alguns temas em Baudelaire. Obras Escolhidas, v.3. São Paulo, Brasiliense.

BRANDÃO C. R. Repensando a Pesquisa Participante, São Paulo: Brasiliense, 1987.

PENTEADO H. D. Comunicação Escolar – Uma metodologia de Ensino. São Paulo: Salesiana, 2002.

SAWAYA, S. M, Narrativas Orais e Experiência: As crianças do jardim Piratininga. In: Oliveira, ZILMA de M. Ramos (org.) A Criança e seu desenvolvimento – Perspectivas para se discutir a educação infantil. São Paulo: Cortez 2000. 

Pedro Guimarães – Mestre em música na área de Etnomusicologia pela UNESP. Professor de Música e Arte Educador nas seguintes Instituições: Serviço Social da Indústria (SESI); Centro de Educação Unificada da prefeitura (CEU); Faculdade Anhembi Morumbi; e Instituto Paulo Vanzolini (Formação de Professores). Músico multi-instrumentista e compositor de trilha sonora.

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