Modelos híbridos e metodologia ativa

Este artigo procura propor alguns rumos para o ensino híbrido, em relação a ambientes presenciais e não presenciais. Atualmente, os métodos ativos são geradores de uma gama de possibilidades dentro do contexto híbrido, por focar na autonomia dos alunos na construção e produção de conhecimento. Este fato coloca para o educador um campo de pesquisa e concepções aberto para novas propostas e criatividades. A proposta deste artigo é conectar o processo híbrido que se dá entre o âmbito presencial e o não presencial com a variedade de possibilidades didáticas oferecidas pelos métodos ativos.

Introdução

Estão cada vez mais visíveis e urgentes, as demandas de mudanças no contexto escolar, estas se configuram em necessidades de modificações na utilização do tempo e espaço no processo de ensino/aprendizagem. Sofrem também mudanças radicais, os papéis definidos historicamente no processo de apropriação do conhecimento. Ao professor/a é dado um papel de mediação e monitoramento, não havendo mais, a situação em que o professor/a era o único responsável por todas as etapas do ensino. Em relação aos alunos, estas mudanças apontam para ações de capacita-los para terem cada vez mais autonomia em sua busca pelo saber. Destas modificações de papeis, nasce um novo tipo de busca pelo conhecimento que é não possui mais a linearidade anterior: Referenciais curriculares; professores; alunos. 

Diante destas mudanças que envolvem organizações espaciais, temporais e funcionais, este artigo tem o intuito de delinear e pontuar os fatores que estão influenciando as novas demandas educacionais e apontar algumas propostas que estão sendo revisitadas e reinventadas pelos setores acadêmicos da pedagogia a fim de trazer soluções para a problemática atual. 

Neste sentido são analisadas neste artigo, duas propostas didáticas que se complementam e convergem positivamente no contexto atual. O processo educacional híbrido e a metodologia ativa. A complementaridade destas duas propostas reside na questão lógica, em uma perspectiva dedutiva e aristotélica, que só pode haver um processo híbrido de educação – que envolve ensino presencial e não presencial – quando se trabalha em um contexto ativo que proporcione um alto grau de autonomia dos alunos.

A partir desta premissa lógica concluímos, concordando com as concepções filosóficas de John Dewey, que a escola é um campo que se produz conhecimento, dentro de perspectivas artísticas e criativas, voltado para a autonomia do aluno.

  Hibridismo e sala invertida

O hibridismo do processo escolar, que envolve presença e não presença do alunado é uma característica contemporânea da história educacional, podemos dizer que essa nova abordagem começou com a proposta de ensino virtual onde as atividades e conceitos são dados ao aluno em formato virtual para este elaborar um conhecimento a partir de suas conclusões, ainda em um formato informacional. Toda esta informação que os alunos recebem será trabalhada posteriormente em sala de aula já em contexto presencial. O papel do professor/a neste processo invertido será de monitorar e mediar debates, trabalhos em grupo ou individualmente, e caminhar para construir um conhecimento científico junto com os alunos.

A proposta híbrida de presença e não presença dos alunos em sala de aula surgiu juntamente com a proposta de sala de aula invertida em 2006, pelo desenvolvimento de vídeos didáticos por Jonathan Bergman e Aarom Sams. A partir desta data os vídeos didáticos criados para auxiliar o ensino de diversas disciplinas foram somados a muitas práticas de ensino.

Os vídeos explicativos podem ser construídos pelos professores ou até adquiridos de forma gratuita em plataformas educacionais. São vídeos que colaboram na aproximação dos alunos coma a matéria a ser trabalhada em momentos presenciais.

O nome “sala de aula invertida” se origina do procedimento invertido que elimina o conceito de aula expositiva, onde o professor/a expõe primeiro o conteúdo a ser trabalhado para depois propor pesquisas e trabalhos sobre o assunto. Na proposta invertida coligada com o ensino híbrido, primeiro ocorre o contato do aluno com o conteúdo por meio do vídeo para depois o professor/a sugerir uma série de atividades na intenção de aprofundar este conteúdo e problematiza-lo.

 Para a compreensão das etapas que envolvem a construção do conhecimento é sempre importante rever alguns componentes do saber escolar, pois são questões que serão readaptadas na proposta híbrida de ensino. 

 – Planejamento

Reside na pergunta “O que fazer?” está conectado com o conteúdo, programas oficias e pré-requisitos dos alunos. Na proposta híbrida de ensino é preciso que as etapas decisórias que envolvem o que será feito e apreendido, sejam discutidas e conversadas com os alunos, porque do contrário recai na proposta tradicional de ensino em que as decisões ficam a cargo somente do professor. 

– Objetivos

Os objetivos são gerados por duas perguntas “Por que fazer”? e “ para que fazer?”. A partir destas perguntas, estabelecem relações com os programas oficiais de ensino, com a perspectiva do professor/a e com a necessidade e interesse dos alunos.

 – O conteúdo:

As ciências de referência de cada disciplina são a fonte que alimenta as orientações programáticas oficias e as decisões de recortes que o professor precisa efetuar para ajustar os conteúdos a serem trabalhados ás situações específicas de ensino de sua realidade escolar (PENTEADO, 2002,182). Na proposta de ensino híbrido os professores podem dividir este conteúdo em vídeos e disponibilizar para os alunos, de forma que estes desenvolvam concepções próprias sobre este conteúdo para posteriormente serem problematizadas nas aulas presenciais. 

– Procedimentos

Os procedimentos envolvem as questões de como fazer e recursos que serão utilizados no campo virtual e presencial.

 – Avaliação

A avaliação se circunscreve nas reflexões sobre os processos, nos resultados comportamentais consubstanciado nas atitudes e habilidades e nos resultados intelectuais representadas nas competências adquiridas. 

Todo este processo não se da sem conflitos e problemas, um destes problemas que precisamos evidenciar é o choque ou discordância entre a abordagem didática do professor e as sugestões programáticas oficiais de ensino. A discordância entre programas oficiais de ensino e a proposta didática de cada professor/a reside muitas vezes na falta de pré-requisitos dos alunos, características acadêmicas e estruturalmente lógicas dos programas oficiais, conteúdos que não levam em conta a realidade dos alunos e outras discordâncias atreladas as inadequações entre obrigatoriedade e representatividade.

Convergência entre metodologia ativa e tecnologia

Atualmente o ensino presencial e a distância envolvem tecnologia e autonomia. Para a utilização das tecnologias digitais de informação e comunicação e necessário acima de tudo o desenvolvimento da autonomia dos alunos. A metodologia ativa dentro da filosofia da escola nova se fundamenta na mudança radical do papel do professor/a, face ao ensino tradicional. O professor/a não é mais a figura centralizadora de onde sai o conhecimento para ser transmitido ao aluno. È preciso enfatizar os alunos no processo de construção do conhecimento e também a sua comunidade para chegar a um processo realmente inclusivo de apropriação do saber.  Nas palavras de Celestin Freinet, um dos expoentes da escola nova e dos métodos ativos “A escola do amanhã será centrada na criança enquanto membro da comunidade. De suas necessidades essenciais, em função das necessidades da sociedade a que pertence, é que decorrerão as técnicas – manuais e intelectuais – a dominar, a matéria a ensinar, o sistema de aquisição, as modalidades da educação” (FREINET, P. 8 1996). 

A metodologia ativa converge em direção ao ideário que soma tecnologia e ensino quando propõe formas coletivas de apropriação do conhecimento. Uma destas formas é proposta de projetos pedagógicos que está no centro do ideário da escola nova onde um tema didático pode ser trabalhado em grupo para melhorar a apropriação e vivencia dos conceitos do conteúdo. 

Arte e métodos ativos

Na metodologia ativa está configurada a importância do pensamento artístico para o trabalho em qualquer disciplina. Esta perspectiva pode ser ampliada com a utilização das várias linguagens midiáticas que estão inseridas na internet. No ideário da escola nova, já formado na década de quarenta e na acepção de John Dewey – filosofo e educador – a arte pode ser utilizada na construção do saber em todas as disciplinas no sentido de aclarar os conceitos abstratos. A arte pode ser um instrumento para ajudar a formação do conceito, fixar noções aprendidas em vários campos do conhecimento. Neste sentido preocupou-se inicialmente, na escola nova, a integrar a auto-expressão com a estrutura conceitual da ciência, geografia, história etc.

Portanto, na proposta contemporânea pedagógica, que envolve tecnologia, autonomia dos alunos e hibridismo em situações presenciais e não presenciais, a arte em suas várias linguagens expressivas (pintura, música, teatro dança e cinema) exerce um papel fundamental na construção de um projeto autônomo e criativo de aprendizado.

Conclusão

Vimos neste artigo, como a escola e os professores podem se adaptar diante de todas mudanças sociais, culturais e comportamentais que sofre o cenário pedagógico. A importância de um novo olhar para a construção do conhecimento é urgente e esta embasada na releitura de propostas educacionais que foram inovadoras e transcenderam o seu tempo. Filósofos e educadores como John Dewey, Celestin Freinet e Paulo freire, continuam sendo referência quase obrigatória para esse novo cenário.

Sempre é importante lembrar que o pensamento puramente tecnológico no seu pragmatismo e positivismo sem a inclusão de um embasamento ético e filosófico não solucionará os problemas vigentes e vindouros, pois irá com certeza recair na visão tradicional de ensino somado a aparatos tecnológicos. Neste sentido continuaremos com os mesmos problemas de homogeneização da sala de aula com a exclusão de tudo que é considerado diferente para uma acepção tradicionalista, terreno fértil para todo tipo de seleção e preconceito.

Para a verdadeira e profunda mudança educacional recorrendo sempre a Paulo Freire “não há educação sem amor. O amor implica luta contra o egoísmo. Quem não é capaz de amar os seres inacabados não pode educar ( p.29) 

BIBLIOGRAFIA

BARBOSA A. M.  John Dewey e o Ensino da Arte no Brasil, São Paulo. Cortez, 2001.

FREINET C. Para Uma Escola do Povo, São Paulo. Martins Fontes, 1996.

FREIRE P. Educação e Mudança, Rio de Janeiro. Paz e Terra, 1979.

PENTEADO H. D. Comunicação Escolar – Uma Metodologia de Ensino, São Paulo. Salesiana, 2002.

Pedro Guimarães – Mestre em música na área de Etnomusicologia pela UNESP. Professor de Música e Arte Educador nas seguintes Instituições: Serviço Social da Indústria (SESI); Centro de Educação Unificada da prefeitura (CEU); Faculdade Anhembi Morumbi; e Instituto Paulo Vanzolini (Formação de Professores). Músico multi-instrumentista e compositor de trilha sonora.

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