Mídias e Escola – Processos de Reciclagem Profissionais

Resumo

Este artigo intenciona o desenvolvimento de instrumentos profissionais que, inseridos na área da educação, possibilitem ao professor/a redimensionar sua atuação no campo do conhecimento e em sua produção. O professor/a, como mediador do conhecimento, recria-o com o objetivo de aproximar o aluno de um saber científico consubstanciado com o senso comum. Nesta recriação do conhecimento ele constrói sua representatividade nos recursos e metodologias que utiliza para envolver os alunos no processo de construir este saber. Neste artigo serão apresentadas propostas e conceitos para ajudar este profissional da educação se tornar um produtor de cultura e de saberes, utilizando-se de seus próprios modelos de mediação e atuação. Ampliando o antigo modelo funcional de sua profissão.

Introdução

O eixo principal deste artigo é vislumbrar uma grande mudança conceitual e de perspectiva, na função do professor/a na sociedade atual. No sentido que o profissional da educação não precisa somente estar inserido nas funções de mediar e transferir o conhecimento; controlar a veiculação do saber na sala de aula por meio de ações disciplinares e de avaliação. 

Neste artigo se articula um conjunto de possibilidades de utilização da experiência do educador em processos de produção de conhecimento. O professor/a, nesta perspectiva, é mediador, comunicador e produtor. Estas ações sempre sustentaram o conceito educacional, mas ocorreram algumas desvalorizações nas áreas da comunicação e da produção por motivos de especializações e diminuições da autonomia do educador.

Conceito de mídia

Mídia esta intrinsicamente relacionada com comunicação. Este termo se originou do termo inglês mass média que significa comunicação de massa. Inicialmente foi um termo adotado pelos setores de informação, como jornais e revistas e depois foi adotado pelos setores publicitários. O fato do conceito de mídia esta relacionado com a comunicação, pressupõe um conteúdo. Portanto, em um âmbito geral, mídia é o meio que se utiliza para veiculação de um conteúdo com todo seu alcance caráter e veiculo midiático. Neste caso precisamos começar a entender sobre mídia, pela mídia humana, pois o homem como ser social é essencialmente um ser de comunicação. Na situação escolar. Esta mídia humana está vinculada ao processo de ensino/aprendizagem – o professor e os alunos – onde se tem em vista a formação cognitiva, valorativa, atitudinal e procedimental.

Na formação cognitiva e importante ter em mente que a construção do conhecimento se de no processo escolar e não por meio da cópia e reprodução de um conhecimento já definido e acabado pelo educador. Esta construção de deve se efetivar por meio de relações dialógicas. Para Freire (2016), a partir de uma abordagem dialógica é possível desenvolver a autonomia no estudante, constituindo-o como protagonista, na construção do seu próprio conhecimento. Nesta tomada de consciência a respeito da formação cognitiva, construída no processo coletivo junto com os alunos, se considera que as formações valorativas, atitudinais e procedimentais serão construído também em um processo dialógico. O educador construirá estas formações juntamente com os alunos em um papel único de mediador e um papel coletivo de produtor.

Mídia digital na educação

Para a utilização da mídia digital com os alunos é necessário ter de antemão alguns recursos pedagógicos que são anteriores a revolução digital. O primeiro destes recursos é o “projeto escolar”. Blogs e aulas interativas podem ser desenvolvidos por meio da ideia pedagógica de projetos. Outro recurso gira em torno do conceito de “educomunicação”.

 A “educomunicação” é um novo campo de intervenção social desenvolvido pelo núcleo de comunicação e educação da ECA/USP fundado por Ismar de Oliveira Soares, Mariazinha Fusari e Heloisa Dupas Penteado. Na perspectiva da “educomunicação” a educação e a ead (ensino a distância) são duas instancias de um mesmo processo.

Um dos principais problemas que perpassa o campo digital e que o professor/a deve estar ciente é o surgimento de um mundo técnico – econômico.

 Esta nova visão de mundo tecnológico, ignora problemas humanos relacionados com identidade, comunidade, solidariedade e cultura. Portanto os interesses que subjazem a veiculação e informação de conteúdos midiáticos de diferentes formatos na rede, são mais econômicos, individualistas e classificatórios do que focados em discursos solidários para causas sociais. 

 Neste sentido o educador precisa reforçar sua atitude de mediação sempre valorizando e incentivando a autonomia dos alunos diante do fluxo informativo da internet. A pedagogia de construção de projetos educacionais é uma solução bastante eficaz para muitos problemas gerados pela profusão informativa da internet.

Construção de Projetos no Campo Digital

Na perspectiva de uma pedagogia de projetos assinala-se a utilização de dispositivos interdisciplinares e transdisciplinares. Nesta visão prepara-se o estudante para analisar problemas reais, desenvolver pesquisas para compreendê-los e propor alternativas para soluciona-los. 

– O primeiro passo é definir o objetivo da atividade dentro do plano pedagógico em que o professor/a precisa cumprir. Se for um projeto muito grande que abrange muitas disciplinas pode ser o caso de discutir com outros professores e com a coordenação pedagógica.

– O segundo passo é levantar conhecimentos prévios dos alunos junto com uma adequação etária para facilitar o monitoramento de trabalhar com a internet.

– O terceiro passo é propor um tema que desperte o interesse da classe para conectar os alunos a um projeto de pesquisa. Estabelecendo como principal objetivo a formação de cidadãos críticos, independentes e participativos na sociedade.

– O quarto passo é o planejamento para definir estratégias de abordagens, atividades principais, tempo de desenvolvimento e materiais ou no caso de ser um projeto na internet, quais arquivos vão ser utilizados. Este passo pode também envolver outros profissionais do ensino, ou não, se for um formato menor. Neste caso envolver somente o professor/a e o seus alunos.

– O quinto passo é o desenvolvimento do projeto em si. Nesta etapa o professor/a pode dividir a turma para cada grupo cuidar de um aspecto do projeto. Seja aspecto cultural, social, político, científico, histórico ou de outras naturezas.

– O sexto e último passo será a apresentação do projeto, no caso da internet, a veiculação do trabalho. Esta veiculação pode ser feita criando um blog específico para os projetos para expor o trabalho que foi feito e outros que poderão se realizar.

Professor/a como produtor e pesquisador multimidiático 

Á ligação do conceito de mídia com comunicação se acrescenta a comunicação para a massa. Portanto os processos midiáticos estão conectados com a grande amplitude de uma comunicação e também informação. O que não podemos esquecer que, em se tratando de mídia humana, este processo possui menor amplitude. Para adentrarmos nas relações de comunicação educacionais midiáticas em torno da tríade de seu campo de ação – professor/a, conhecimento e aluno – será necessário uma análise, primeiro, das mídias imagéticas.

Mídias Imagéticas eletrônicas complexas: É toda mídia que tem na imagem eletrônica a sua principal linguagem. A esta mídia imagética se somam outras como oral, sonora, gestual. Os principais veículos desta mídia são o cinema, televisão e a internet.

Focalizaremos para conteúdos comuns a estas três mídias na análise de narrativas, e como o professor/a pode trabalhar questões que transpassam estas narrativas. Os roteiros de novelas, seriados e filmes se desenvolvem sobre várias questões culturais, sociais, econômicas, políticas e outras ramificações destes segmentos.

Quando se trabalha com narrativas vêm à tona muitos elementos que fazem parte da temática da história e a intensão dos autores. No âmbito escolar este trabalho pelo professor/a não é só uma análise crítica e unilateral. O professor passa a ser um mediador e provocador de um debate sobre um filme, seriado ou novela. Neste sentido se torna um pesquisador da recepção, ou seja, de como os alunos receberam a narrativa, o que despertou neles, quais posicionamentos sociais, políticos eles tomaram diante dos fatos narrados. 

Segundo Martín Barbero “a recepção não é apenas uma etapa do processo de comunicação. É um lugar novo, de onde devemos repensar os estudos e a pesquisa de comunicação”. (MARTIN/BARBERO, 1995 p.39)

O papel do educador se esboça como um pesquisador, analista e um futuro produtor deste conhecimento quando reescreve outras narrativas com que foi construído em sala de aula a partir de vários olhares receptores dos alunos.

Conclusão

Este artigo teve a intensão de elaborar um caminho educacional nos tempos atuais, onde existe um foco de exigências de competências sobre as linguagens digitais. O mundo digital é complexo e novo, fato que causa algumas inseguranças e até algum desânimo. Porém se construirmos um olhar crítico e analítico podemos tirar grandes proveitos educacionais e sociais não somente para a situação de ensino, mais para nossa evolução intelectual.

BIBLIOGRAFIA

FREIRE P. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. 54ª ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2016.

MARTÍN-BARBERO, J. América Latina e os anos recentes: o estudo da recepção em comunicação social. In: SOUZA, M. W. de (Org.). Sujeito, o lado oculto do receptor. São Paulo: Brasiliense, 1995. 

PENTEADO, HELOÍSA D. televisão e Escola: Conflito ou Cooperação? São Paulo: Cortez, 2000.

Pedro Guimarães – Mestre em música na área de Etnomusicologia pela UNESP. Professor de Música e Arte Educador nas seguintes Instituições: Serviço Social da Indústria (SESI); Centro de Educação Unificada da prefeitura (CEU); Faculdade Anhembi Morumbi; e Instituto Paulo Vanzolini (Formação de Professores). Músico multi-instrumentista e compositor de trilha sonora.

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