Ferramentas para a educação socioemocional

Atualmente, os professores se deparam com grandes problemas em sala de aula como a indisciplina, a desmotivação, a falta de engajamento e de compreensão com o conhecimento.

Além de tudo isso há hoje uma profunda desvalorização do papel dos professores fazendo com que eles sejam desacreditados diante da turma, fato que possibilita muitos entraves no trabalho de ensino/aprendizagem.

Neste texto vamos compreender o conceito de educação socioemocional e seu funcionamento. Além disso, vamos saber como esta modalidade de educação pode contribuir para um cenário negativo em sala de aula.

Portanto, vamos conhecer a sua origem histórica, o seu funcionamento e suas características.

Surgimento da educação socioemocional

Esta modalidade de educação surgiu nos EUA em 1994 com o objetivo de integrar elementos emocionais ao aprendizado acadêmico. Portanto, a educação socioemocional surgiu com a interligação do aspecto e desenvolvimento acadêmico, o fator social e o aprendizado emocional segundo a sigla CASEL – Collaborative for Academic, Social, and Emotional Learning.

Relacionado com esse conceito em 1996 o filósofo Jacques Delors lança um relatório onde esta modalidade educativa estava na pauta, pois em seus principais pilares da educação estavam:

  • Aprender a conhecer
  • Aprender a fazer 
  • Aprender a conviver 
  • Aprender a ser

Estes 4 pilares estão relacionados intrinsecamente com a educação socioemocional, pois nela estão os desenvolvimento das seguintes competências: autoconhecimento, auto regulação, autoestima autonomia e confiança.

A educação socioemocional é o desenvolvimento de competências socioemocionais que estão relacionadas com a inteligência emocional e o conceito de inteligência múltipla de Gardner.

O conceito de inteligência emocional (IE) foi elaborado por Salovey e Mayer (1990) a partir das conceituações de Gardner sobre os tipos de inteligências do ser-humano. Contrariando a dicotomia entre razão e emoção, o conceito de IE propõe a união entre emoção e funções cognitivas.

Funcionamento da educação socioemocional

Para compreender o funcionamento da educação socioemocional e suas ferramentas é preciso antes saber como se processa o desenvolvimento da criança frente às suas respostas emocionais diante do meio.

No desenvolvimento psíquico e cognitivo, a criança passa por muitas etapas em que irá necessitar de suporte emocional. Este suporte anteriormente era feito pela família, com transmissão de valores e de crenças presentes na sociedade.

No entanto, com mudanças no funcionamento familiar, principalmente as que se referem ao tempo despendido com os filhos, parte deste suporte atualmente é realizado pela escola.

Neste sentido, hoje em dia a escola precisa ter estratégias e ferramentas para lidar com as questões socioemocionais. As interações com o meio familiar e escolar produz na criança o seu autoconceito e autoeficácia estes dois fatores são percepções do indivíduo em relação ao seu desempenho acadêmico e relação com os colegas.

Este conjunto de percepções de si mesmo afetam a criança em sua autoestima, isso vai influenciar o seu desempenho escolar e sua concepção acerca de si mesma. No entanto, esta influência pode ocorrer de forma positiva ou negativa.

Quando ocorre um autoconceito negativo de si próprio, a consequência imediata é a geração de problemas internalizantes e externalizantes.

Entre os comportamentos internalizantes estão: sintomas depressivos, somáticos e ansiosos. Por outro lado, os comportamentos externalizantes são: impulsividade, conduta disruptiva e outros.

Competências socioemocionais

A aprendizagem socioemocional (SEL – Social and Emotional Learning) desenvolvida originalmente nos EUA e hoje aplicada no Brasil, se define como a habilidade que os indivíduos adquirem e aplicam o conhecimento e ainda a habilidades de manejo das emoções.

Estas habilidades quando desenvolvidas possibilitam o surgimento de competências intrapessoal, interpessoal e cognitiva. Elas são divididas nas seguintes categorias de competências:

  • Autoconsciência: Reconhecimento das suas limitações emoções e valores
  • Consciência social: respeitar as diferenças percebendo o outro
  • Tomadas decisórias: Habilidade de solucionar problemas considerando valores éticos
  • Interpessoalidade: comunicação positiva com outro; saber ajudar e saber pedir ajuda

Até aqui já conhecemos um pouco como se processa o desenvolvimento socioemocional da criança, no entanto precisamos elencar algumas ferramentas e estratégias para tornar o ambiente escolar um meio positivo que facilite o desenvolvimento socioemocional dos estudantes.

1- Projetos pedagógicos

O projeto pedagógico é um trabalho em torno de um tema/problema transversal, este tema/problema pode estar presente na sociedade como violência, desmatamento, maus tratos com os animais, racismo e outros.

Por outro lado, este temas podem também estar na subjetividade das pessoas como: depressão, angústia, ansiedade, impulsividade e outros.

Diante desta temas sociais e psicológicos os professores podem escolher um deles e trabalhar em formato de projeto pedagógico. Este formato de trabalho escolar permite a escolha de equipes que ficarão encarregadas de funções específicas.

Neste sentido, um grupo pode cuidar da pesquisa em torno do assunto; outro grupo pode cuidar das entrevistas que farão com pessoas especializadas; outro grupo pode cuidar da organização de palestras online ou presenciais e muitas outras funções.

O auxílio que um projeto pedagógico fornece à educação socioemocional possui uma dimensão muito abrangente, pois no projeto os professores podem trabalhar os problemas que surgem em sua sala e que podem estar relacionados com desequilíbrios socioemocionais.

2- Roda de conversa

Esta ferramenta é um dispositivo bastante utilizado por muitos professores para conscientizar as crianças sobre determinados assuntos, para tratar de problemas disciplinares, para apresentar uma proposta pedagógica bastante nova e outros assuntos que exigem uma conversa mais pontual.

No entanto, na educação socioemocional, esta roda pode ser uma prática constante onde professores e alunos expressam seus problemas diante do cotidiano escolar e também diante de problemas sociais comuns na vida pública e social.

Vale lembrar, que muitas vezes no fluxo constante das ações escolares professores e alunos não dialogam, o que ocasiona um distanciamento cada vez maior na sala de aula acarretando problemas de comportamentos e de desmotivação.

3- Programas externos

Os programas externos que uma escola oferece aos alunos como passeios, visitas a exposições, teatros, cinema, são muito importantes, pois eles envolvem questões que podem colaborar nas interações emocionais.

As interações que surgem em programas externos contribuem para trabalhos posteriores em que os professores podem levantar discussões em temáticas relacionadas aos passeios.

Neste sentido, os professores apontam se houve ou não colaboração coletiva em torno da atividade, se houve entendimento das propostas relacionadas ao passeio e outros pontos gerados pela atividade.

4- Projetos artísticos

As linguagens artísticas são muito importantes no desenvolvimento de aspectos subjetivos como autoconhecimento, respeito e a convivência saudável em coletividade.

Nas atividades artísticas estão presentes todas as competências relacionadas ao desenvolvimento socioemocional como: autoconsciência, consciência social, tomadas de decisões e interpessoalidades.

Neste sentido os alunos podem expressar seus sentimentos na feitura de um auto-retrato, na elaboração de uma peça teatral, nas escutas e interpretações musicais. Todas essas atividades oferecem para os professores o trabalho com sensibilidades e emoções.

As linguagens artísticas possuem o elemento lúdico em seus fundamentos, esses elementos possibilitam uma aprendizagem que evidencia a convivência.

Vale lembrar que a BNCC destaca 6 direitos de aprendizagens que passam pela convivência que são:

  • Conviver
  • Brincar
  • Participar
  • Explorar
  • Expressar
  • Conhecer-se

5- Parceria com a família

Como já vimos acima, a família é a primeira porta de acesso da criança ao mundo social é ela que estabelece valores e crenças que já estão presentes na sociedade.

No entanto, atualmente existem muitas lacunas no desenvolvimento social da criança e a escola está ficando com grande parcela na responsabilidade da formação ética e social da criança. 

Neste sentido, a aproximação entre escola e família é imprescindível para formalizar um projeto de educação socioemocional, pois em interações com a família, professores e coordenadores consegue visualizar melhor o desenvolvimento e evolução da criança e suas necessidades.

Na aproximação entre escola e família os professores podem pensar em recursos pedagógicos que façam mais sentido para a turma como um todo e também individualmente.

Conclusão

Neste texto vimos algumas ferramentas para uma educação que desenvolva as competências socioemocionais. Além disso, vimos como as preocupações socioemocionais surgiram no ambiente educacional.

No entanto, é preciso trabalhar com estas questões de maneira que elas não se tornem um meio avaliativo e segregador. Ou seja, a escola não pode utilizar avaliações que determinem alunos desajustados socioemocionais, isso pode provocar a segregação e evasão destes alunos.

As atividades escolares que visam um desenvolvimento socioemocional dos alunos precisam ser mais processuais do que avaliativas, do contrário estas atividades podem se opor a todo projeto inclusivo das escolas.

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