Estratégias para trabalhar habilidades socioemocionais

Atualmente, a sociedade tem dado muito valor e foco às habilidades socioemocionais.

Isso acontece em  todas as áreas de atividades humanas: no estudo, trabalho, cuidado com a saúde, religião e outras atividades coletivas e individuais.

Portanto, existe a preocupação com a subjetividade e com as relações intersubjetivas em todas as áreas da ação humana.

O ambiente escolar não fica fora desta nova consciência humana, pois os alunos precisam ser preparados para o mundo acadêmico e do trabalho. Neste sentido, vivemos em uma sociedade pragmatista que ao mesmo tempo aponta para as relações interpessoais e de trabalho. 

Os alunos, mesmo em séries iniciais, são vistos como futuros trabalhadores e pesquisadores em um mundo de informações cada vez mais célere. 

Portanto, visando atingir objetivos acadêmicos e profissionais mais rápido existe a necessidade de desenvolver as habilidades socioemocionais dos alunos.

Neste sentido, todo estudante de pedagogia ou licenciatura precisa pesquisar e se preocupar com as habilidades socioemocionais que se transformou em um eixo educacional do nosso tempo.

Para professores de qualquer disciplina e também gestores o foco nas habilidades socioemocionais é muito importante também para resolver conflitos no ambiente escolar.

Neste texto veremos as origens dos ideários que embasam as estratégias de desenvolvimento socioemocionais como: inteligência emocional, tipos de inteligências, psicologia social e pedagogia socioconstrutivista.

Conceito de competência na educação

Antes de abordarmos as habilidades socioemocionais é preciso compreender o eixo principal em que está alicerçada a educação atual. Este eixo chama-se competência, vivemos hoje em uma época de mensuração das competências.

A educação como área que concentra pessoas em formação não podia ficar fora dessa ideia social. A competência na educação é bastante focada na formação do indivíduo para o mundo do trabalho.

Neste sentido é preciso construir uma escola e um ensino que de uma significação prática ao conteúdo. 

Ou seja, hoje se considera menos as especificidades de cada disciplina, fornecendo um ensino voltado para a técnica em que os alunos aprendem a resolver situações específicas que são chamadas de situações-problemas.

Nessa perspectiva corre-se o risco de esvaziamento conteudístico, dando origem a indivíduos com formações específicas sem profundidade e amplitude de conhecimento.

Os conteúdos de cada disciplina são vistos como ferramentas para resolver uma determinada situação-problema. Esta situação pode ser vista com positividade em que os alunos irão receber uma educação que atinge os objetivos de maneira veloz.

No entanto, essa visão educativa e pragmática pode se transformar em uma armadilha para o alunado, pois um indivíduo que possui somente competências específicas para resolver problemas casuais de trabalho, não forma uma consciência crítica e histórica sobre suas próprias condições.

A formação dessa consciência indispensável para qualquer área do saber humano, é dada por um ensino profundo que faz os alunos se apropriarem verdadeiramente do conhecimento com suas historicidades e vivências sociais.

Educação voltada para as áreas socioemocionais

As bases da psicologia onde se assentam as habilidades ou competências socioemocionais estão na psicologia social, inteligência emocional e até na psicologia comportamental.

Neste sentido, as habilidades socioemocionais nascem de uma consciência desdobrada em várias propostas psicopedagógicas como:

  • Inteligência emocional
  • Aprendizagem socioemocional
  • Competência social
  • Habilidades não-cognitiva
  • Regulação emocional

A partir de 2011 se estabeleceu uma mudança educacional sobre a noção de competência, passou-se a focar mais nas competências socioemocionais. A exemplo dessa nova perspectiva educacional está a declaração do Instituto Ayrton Senna:

“Por meio desses estudos, sabemos hoje que o êxito na aprendizagem não acontece apenas pelos investimentos feitos no campo exclusivo da cognição – onde se concentram a maior parte dos esforços públicos e privados em educação –, mas são altamente impactados pelo desenvolvimento de outros atributos pessoais, que praticamente não são objeto das políticas educacionais: persistência e disciplina, capacidade de atenção e concentração, capacidade de adiar recompensas, autoestima, sociabilidade, dentre outros, denominados de diversas formas, como competências comportamentais, relacionais, emocionais, atitudinais, socioafetivas, não cognitivas etc. (Instituto Ayrton Senna, 2011, s/p.)”

A partir desse texto vemos a crescente preocupação de setores privados educacionais com as competências não-cognitivas. Estas competências são relacionadas ao trabalho em equipe, resiliência, perseverança e comunicação.

Neste sentido, a educação atual está mais relacionada ao “como aprender” do que somente ao “aprender”. Vale lembrar que um dos pilares da educação, lançado por Jacques Delors que está sendo mais sublinhado hoje, é “aprender a aprender”.

Habilidades socioemocionais na BNCC

Vimos até aqui como as habilidades socioemocionais estão inseridas na educação e quando alguns congressos educacionais discutiram profundamente a implementação dessa habilidades na escola.

No entanto, para os professores criarem estratégias de trabalho em sala de aula em prol do desenvolvimento de tais habilidades é preciso compreender como elas estão definidas na BNCC.

Dentro das 10 competências relacionadas por esse documento, as habilidades socioemocionais se referem as 3 últimas. 

Dentre estas 3 competências estão:

  • não selecionadaConhecer-se, apreciar-se e cuidar de sua saúde física e emocional, compreendendo-se na diversidade humana e reconhecendo suas emoções e as dos outros, com autocrítica e capacidade para lidar com elas. 
  • não selecionadaExercitar a empatia, o diálogo, a resolução de conflitos e a cooperação, fazendo-se respeitar e promovendo o respeito ao outro e aos direitos humanos, com acolhimento e valorização da diversidade de indivíduos e de grupos sociais, seus saberes, identidades, culturas e potencialidades, sem preconceitos de qualquer natureza.
  • não selecionada Agir pessoal e coletivamente com autonomia, responsabilidade, flexibilidade, resiliência e determinação, tomando decisões com base em princípios éticos, democráticos, inclusivos, sustentáveis e solidários. (BRASIL, 2018, p.10)

Origens habilidades socioemocionais

As habilidades não-cognitivas ou socioemocionais se originaram da quebra do dualismo positivista entre razão e emoção. A partir dessa nova perspectiva, muitos teóricos da psicologia chegaram a conclusões que diferem das antigas medições do coeficiente de inteligência (QI) e redefiniram o conceito de inteligência.

Entre estes teóricos, quem mais se destacou foi Howard Gardner com sua teoria de inteligências múltiplas (1997). O conceito de inteligência múltiplas aborda as seguintes inteligências:

  • Linguística
  • Musical
  • Espacial
  • Corporal-cinestésica
  • Interpessoal
  • Intrapessoal
  • Naturalista

A partir dessas inteligências, Gardner apontou como um eixo prático para o desenvolvimento das inteligências, a “resolução de problemas”. 

Portanto, as estratégias para criar um plano de desenvolvimento de habilidades socioemocionais giram em torno de atividades que proporcionam aos alunos um ambiente que os conduz a solucionar problemas.

Estratégias educacionais e habilidades socioemocionais

Até aqui vimos os pressupostos e origens que embasam as competências e habilidades socioemocionais. Agora veremos algumas estratégias onde os professores podem trabalhar essas habilidades sem sair do conteúdo de sua disciplina.

1- Estudo de caso

Esta ferramenta pedagógica se divide em 3 partes: apresentação do caso, reflexão e solução. Na apresentação do caso estão os personagens ou personagens da história que será abordada.

Para abordar um problema que pode se remeter a fatores social, ambiental, ético ou de outra ordem, o docente precisa escrever uma história que contará a sua turma. Nessa história existe a figura de um personagem ou mais que precisa resolver um determinado problema.

A partir da contação dessa história os alunos podem se reunir em grupo ou em duplas para refletirem e criarem uma solução, ou seja, criar um fim positivo para a história que foi contada.

O estudo de caso é uma oportunidade para engajar os alunos e ao mesmo tempo desenvolverem vínculos interpessoais desenvolvendo vários elementos das habilidades socioemocionais.

No entanto, os professores não podem deixar de focar no lado histórico e social de cada problema, desenvolvendo a visão crítica nos alunos para eles chegarem na solução dos problemas e também em uma autoavaliação e autocrítica.

2- Projeto de arte multimídia

Este projeto pode envolver várias linguagens artísticas e o uso da tecnologia midiática que está a disposição em celulares, tablets e computadores.

Neste projeto o docente pode propor aos alunos trabalharem uma temática social como meio-ambiente, descriminação, racismo, conflitos de terra, economia e muitos outros utilizando a expressão artística coligada com a tecnologia.

Para desenvolver este projeto é necessário o conhecimento de aplicativos e plataformas disponíveis gratuitamente na internet. Atualmente, existem muitos aplicativos de trabalho com áudio, vídeo e texto disponíveis.

Este trabalho pode ser desenvolvido em grupo, duplas ou até individualmente, no final do processo pode haver uma apresentação ou exposição dos trabalhos para a escola e comunidade.

3- Projeto de conscientização

Este projeto está voltado para a comunidade onde a escola está vinculada, nele o professor pode propor aos alunos produzirem ações de conscientização ambiental, econômica e até de saúde.

Neste sentido, os professores de uma escola podem promover ações de conscientização juntamente com seus alunos que podem acontecer na escola, nas praças do bairro ou em parques.

Em torno dessa ideia estão a exposição de fotos que remetem a alguns problemas sociais ou ambientais, montagens de estandes em praças ou parques, distribuição de informativos para o público, mostras de vídeos e até peças teatrais.

Conclusão

Neste texto vimos como os professores podem organizar suas aulas dentro de uma perspectiva de desenvolvimento sócio emocional.

Além disso, foi discutido nesse texto que o desenvolvimento de habilidades não pode ficar restrito a uma perspectiva técnica, as habilidades precisam ser trabalhadas juntamente com a intenção de alcançar com os alunos uma consciência crítica, histórica e social.

https://www.rbtc.org.br/detalhe_artigo.asp?id=255
https://www.e-publicacoes.uerj.br/index.php/e-mosaicos/article/view/46754/38136

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