Como funciona a recomposição da aprendizagem 

Atualmente, muitos fatores presentes na educação tornam a recomposição da aprendizagem uma ação urgente. dentre estes fatores estão: o isolamento causado pela pandemia, o período pós-pandêmico, a evasão escolar, a defasagem educacional e as diferenças sociais.

Diante de todos estes problemas a recomposição de aprendizagem se caracteriza como uma recuperação dos conteúdos trabalhados durante o isolamento, para sanar defasagens entre os alunos.

É importante salientar que quando um aluno está muito defasado em relação aos outros ele entra em um processo de desânimo e fica desmotivado em relação ao aprendizado, causando a sua evasão.

Neste sentido, a recomposição da aprendizagem é imprescindível para evitar todo o processo que leva ao aumento da evasão escolar, principalmente na rede pública.

Neste texto vamos compreender o funcionamento da recomposição de aprendizagem bem como os seus problemas e críticas.

Funcionamento da recomposição da aprendizagem 

Para compreender como funciona a recomposição de aprendizagem, é preciso ter ciência de seus objetivos. O principal objetivo é sanar as desigualdades educacionais que muito embora estão relacionadas diretamente com as desigualdades sociais. 

Existe também o objetivo de adequar as habilidades, competências e conhecimento a cada etapa escolar. É importante lembrar que neste processo de adequação é preciso uma avaliação de conhecimentos prévios e um cuidado para não constranger os alunos que estão muito defasados diante dos outros.

Este cuidado vai oferecer recursos socioemocionais para o aluno não cair em um processo de evasão escolar. Na recomposição da aprendizagem, estão presentes muitas estratégias importantes como: avaliação diagnóstica, priorização curricular e parcerias com os familiares.

Agora vamos conhecer algumas etapas presentes na recomposição da aprendizagem.

Avaliação diagnóstica

A avaliação diagnóstica pós-isolamento precisa funcionar como uma ação de consciência de conhecimentos prévios por parte dos professores. No entanto, é uma ação específica voltada ao isolamento após a pandemia de COVID-19.

Ou seja, esta avaliação precisa levar em conta as diferenças sociais entre os alunos e escolas, no sentido de avaliar quais alunos tiveram melhores acessos às atividades online.

Esta avaliação será crucial para ajudar o percurso dos professores em aplicar atividades e intervenções pedagógicas adequadas ao contexto de sua turma. Nesta avaliação os professores terão os pontos identificados como fracos em uma visão geral e individual onde poderá aplicar estratégias adequadas às necessidades de cada aluno engajando e estimulando para ele atingir novos níveis de suas competências.

O principal objetivo desta avaliação é identificar os aprendizados e aproveitamento de cada estudante durante o ensino remoto. Portanto, nesta avaliação os professores construirão um parecer sobre os problemas de defasagens em sua turma.

Habilidades focais

O momento após pandemia e seu consequente isolamento cobra soluções urgentes para sanar as lacunas de campos de ensino que surgiram na aprendizagem.

Portanto, é necessário eleger algumas atividades e conhecimentos prioritários neste sentido é importante seguir os mapas de foco disponibilizados na BNCC. Portanto, os professores precisarão flexibilizar o currículo.

Os principais objetivos da habilidades fobias evidenciadas nos mapas de foco da BNCC são:

• A priorização de algumas habilidades para o desenvolvimento integral e progressão das aprendizagens.

• Redução de déficits com a diminuição das distâncias entre expectativas das aprendizagens e as defasagens dos alunos.

Esta aprendizagem focal (AF) leva em conta fatores como: as habilidades fundamentais de cada disciplina, relevância para a vida atual, interdisciplinaridades, relação com as competências gerais, de área e específicas.

Projeto coletivo

A recomposição de aprendizagens não é uma responsabilidade especificamente dos professores. Ou seja, esta atividade é coletiva, no sentido que engloba a família de cada aluno, a contribuição dos docentes entre si, e até o diálogo entre instituições escolares.

Os responsáveis de cada aluno precisam compreender a importância da leitura e a organização de rotinas de estudo em casa. A colaboração entre docentes e instituições escolares tem o objetivo de evitar discrepâncias entre turmas e escolas.

As ferramentas que colaboram decisivamente para a coesão entre docentes são as reuniões pedagógicas, pois elas representam um ambiente propício para diálogos, análises e elaboração de avaliações diagnósticas.

Além disso, é nestes momentos coletivos que é praticado o monitoramento dos avanços e dificuldades enfrentadas pela recomposição de aprendizagem.

Recomposição de aprendizagens e déficits na alfabetização

Um dos focos mais importantes na recomposição de aprendizagens é o déficit na alfabetização. Segundo o INEP (Instituto Nacional de Educação e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira), entre 2019 e 2012 o porcentual de crianças com dificuldades para ler e escrever passou de 15,5 % para 33,8%.

Este problema teve como causas a pandemia de COVID-19 com seu consequente isolamento das crianças e também a falta de equipamento de algumas famílias, para acessar a internet com qualidade necessária para a educação online.

Vale lembrar, que a dificuldade com equipamentos e acesso a internet estão relacionadas com a falta de poder aquisitivo da maioria das famílias brasileiras.

Projeto de recomposição de aprendizagem

Para sanar todas as dificuldades de aprendizado causadas pelo isolamento, as instituições de ensino precisam elaborar um projeto de recomposição que engloba estudos teóricos sobre o desenvolvimento cognitivo da criança.

Segundo Vygotsky o desenvolvimento infantil é pautado no aprendizado real e potencial. No aprendizado real a criança aprende de forma espontânea seguindo o seu natural desenvolvimento, já no aprendizado potencial precisa da orientação dos professores.

A falta de contato com colegas e professores causou um grande déficit de aprendizagem  e algumas crianças ficaram com defasagens em várias disciplinas e principalmente na alfabetização.

Para solucionar estes problemas é preciso um grande projeto de recomposição de aprendizagem que engloba avaliação, currículo, acompanhamento pedagógico e formação continuada.

Além disso, é preciso analisar quais habilidades que não foram assimiladas para criar estratégias para a sua recomposição.

Segundo Piaget a criança constrói seu conhecimento quando lhe é oferecida oportunidades e durante o isolamento a ação pedagógica de oportunizar o conhecimento foi prejudicada.

Neste sentido, a recomposição da aprendizagem tem o objetivo de recuperar as oportunidades desta construção de conhecimento. Para Piaget o aprendizado é uma cadeia de equilibração, o aluno alcança estágios de equilíbrio diante de um objeto cada vez mais elaborado.

Ou seja, a aprendizagem em um sentido amplo se dá em um desenvolvimento progressivo, portanto se existe uma lacuna neste processo, consequentemente haverá uma dificuldade na assimilação de outros objetos de conhecimento.

Assim, se um aluno apresenta dificuldade em um novo aprendizado, provavelmente não houve aprendizado no estágio anterior a esse novo objeto.

Apoio Pedagógico Complementar

Foi lançada em alguns municípios de Alagoas, uma tecnologia de Apoio Pedagógico Complementar (APC) pelas parcerias: Itaú social-conisul e Cenpec.

Este material oferece estratégias e metodologias com o objetivo de acelerar e recompor as aprendizagens defasadas por causa da pandemia.

Ele é focado em matemática e língua portuguesa e aborda uma série de ações que irão adequar o aluno ao ensino presencial e engajá-lo, evitando a sua evasão.

Dentro destas ações estão:

• Acolhimento: mapeamento dos perfis dos estudantes para analisar impactos econômicos e afetivos causados pela pandemia

• Priorização curricular: Saber o que o aluno precisa saber para assimilar o novo conteúdo

• Avaliação diagnóstica contínua: monitoramento dos alunos para ter conhecimento de suas lacunas e prioridades no ensino.

• Adaptação das práticas pedagógicas: Utilização de ferramentas lúdicas para engajar os discentes

• Busca ativa escolar: tecnologia utilizada para trazer os alunos que se evadiram das escolas

Conclusão

Neste texto tivemos conhecimento sobre o processo de recomposição de aprendizagem e suas estratégias. No entanto, é importante lembrar que os problemas que acarretam defasagens entre alunos e evasões escolares já estavam presentes na educação brasileira mesmo antes da pandemia.

Podemos concluir que o principal vilão da educação pública é a falta de investimento das esferas governamentais. Esta falta de investimento sempre irá penalizar os alunos dos estratos mais pobres e vulneráveis da sociedade tendo como consequência a diferença entre escolas menos e mais aparelhadas.

Esta diferença entre escolas está relacionada a vários fatores como: regiões brasileiras mais abastadas economicamente possuem melhores escolas; escolas particulares possuem maiores recursos que escolas públicas; Escolas em regiões rurais são menos aparelhadas do que as dos centros urbanos e muitos outros.