Como a escola pode se preparar para a educação inclusiva

Atualmente o protagonismo do modelo de escola inclusiva tem crescido por vários fatores. Entre eles estão: o objetivo de educação para todos; a BNCC e as demandas identitárias.

O modelo de inclusão foi solidificado na década de 1990 e nasceu como oposição ao modelo de integração chamado também de modelo médico.

Para elencar alguns pontos de adequação das escolas ao modelo de inclusão ( modelo social), vamos fazer um pequeno percurso histórico que vai ajudar a vislumbrar as diferenças entre o modelo inclusivo e o modelo de integração.

Portanto, neste texto veremos as diferenças entre alguns modelos e também estratégias para preparar a escola para a educação inclusiva.

Quando surgiu a educação inclusiva

A educação inclusiva nasceu de concepções ligadas ao modelo social que se solidificaram na década de 1990. No entanto, para demarcar o começo deste novo modelo é preciso conhecer as concepções que existiam antes.

No início do século XX, as crianças com deficiências eram chamadas de “anormais” e eram separadas e segregadas das crianças egressas do ensino regular. Este modelo foi denominado de “Modelo Médico” porque a psicologia educacional foi constituída teoricamente com grande participação dos médicos.

Segundo a pesquisadora Helena Patto (1999), as consequências negativas deste modelo centrou-se no crescimento de escolas paralelas e de práticas de reabilitação colocando a criança como objeto de instituições psiquiátricas, fato que contribuia para a sua evasão escolar.

A escola inclusiva nasceu de fóruns e movimentos que denunciaram esta situação de evasão escolar e segregação em âmbito mundial. Um grande desses fóruns foi a Conferência Mundial de Educação para Todos em 1993, realizada em Jomtien, na Tailândia.

Outros grandes movimentos que colaboraram para surgimento de escola inclusiva foram

A Declaração de Salamanca em 1994 e a A resolução da ONU n.45/91 que determinava em 1991, que a implementação do conceito de inclusão no mundo deveria ser concluída até 2010.

A partir desta pequena explanação sobre diferenças entre modelos e as origens do modelo inclusivo, vamos elencar algumas modificações que as escolas deverão fazer para se adequar ao modelo inclusivo.

Tecnologia assistiva

As tecnologias assistiva são uma grande gama de ações relacionadas a construções tecnológicas e também a procedimentos. Elas englobam produtos, estratégias, recursos e metodologias direcionadas para promover mais participação das pessoas com deficiências de práticas educativas e sociais. Dentre elas estão:

  • Leitores de tela e ampliadores de imagens: transcrevem para a linguagem falada o conteúdo que está em texto e é direcionada a deficientes visuais. Atualmente existe a preocupação de nestes aplicativos serem acrescentados dispositivos que descrevem gráficos e imagens.
  • Próteses de auxílio à mobilidade: pernas robóticas e stand table ( mesas corretoras de posturas para quem está saindo da cadeira de rodas) 
  • Hand talk: Aplicativo que possui a função de traduzir textos falados para o sistema de libras

Vale lembrar que as estratégias educacionais e sociais que auxiliam as pessoas deficientes como propostas arquitetônicas e de lazer e esporte também pertencem à tecnologias assistivas.

Formação continuada do corpo docente

A formação docente é indispensável para a promoção de uma educação inclusiva em muitas licenciaturas já existem disciplinas obrigatórias ou optativas que tratam da educação inclusiva.

Neste sentido, a escola precisa demandar dos professores o quanto eles estão alinhados com o projeto de educação inclusiva. 

Os professores não são exclusivamente os responsáveis pelo sucesso do projeto inclusivo, pois em todo o projeto é necessário a participação ativa da direção e coordenação escolar.

No entanto, os professores possuem grande protagonismo para o enfrentamento de questões de segregação mesmo dentro de um projeto inclusivo. 

Muitas vezes a escola promove uma educação inclusiva, mas conservam ainda modelos segregadores separando alunos com deficiências em classes especiais. Nestas situações os professores precisam colaborar no projeto político pedagógico das escolas a fim de evitar tais segregações.

A formação inicial dos professores não pode ser mais pautada no conceito de homogeneidade, como se todos os alunos fossem iguais em suas capacidades cognitivas, emocionais e motoras.

PPPs e inclusão

Quando uma escola elabora o seu projeto político pedagógico de maneira democratizada é preciso discutir e problematizar o conceito de inclusão e de diferença.

Neste sentido, é preciso entender tanto os conceitos relativos à norma como a diferença, sem essa problematização há o risco da escola recair em práticas superficiais que não resolvem as causas do problema inclusivo.

Ou seja, se a escola não discutir o problema da inclusão visando estruturar um plano de estratégias pedagógicas dentro de cada disciplina e com modificações do espaço escolar, o projeto inclusivo ficará resumido à flexibilização de atividades.

Linguagens artísticas 

Para a escola construir um percurso pedagógico construtivo, com classes cada vez mais heterogêneas, uma ferramenta que oferece muitos recursos é o trabalho com as linguagens artísticas.

Atualmente no documento da BNCC são evidenciadas 4 linguagens artísticas: teatro, música, dança e artes visuais. Todas essas linguagens possuem muitos recursos para o trabalho com classes inclusivas.

No entanto, este trabalho não deve recair somente nos professores de arte e sim na escola como um todo. Neste sentido, diretor, coordenador e orientadores precisam se mobilizar para a aquisição de materiais demandados por essas linguagens.

Além disso, a escola precisa oferecer espaços voltados para a prática destas linguagens como sala multiusos, espaço de exposições, espaço de apresentações e outros.

Projetos pedagógicos

Uma forma bastante promissora para a escola se preparar para a educação inclusiva é incentivar a prática de projetos pedagógicos. O projeto pedagógico pode ser feito envolvendo uma sala de aula ou até envolvendo a escola como um todo.

A característica principal do projeto pedagógico é o trabalho coletivo envolvendo professores e alunos ou até envolvendo coordenadores e orientadores.

Em um projeto pedagógico os professores podem trabalhar sobre um tema ligado inicialmente a alguma disciplina ou um tema transversal que atravessa todas as disciplinas.

A partir da escolha de um tema o professor/a faz a escolha de equipes em sua sala onde cada uma trabalhará uma tarefa específica.

Para dar um exemplo em um projeto sustentável de produção de instrumento musical com material reciclável pode haver algumas equipes como:

  • Equipe de pesquisa: Esta equipe ficará encarregada de organizar e produzir palestras para a escola sobre a importância da reciclagem para o meio ambiente.
  • Equipe de produção: Esta equipe ficará encarregada da produção de instrumentos com materiais recicláveis para uma exposição ou apresentação musical.
  • Equipe de coleta e armazenamento: Este grupo ficará encarregado em coletar e armazenar materiais recicláveis e também por produzir palestras sobre o descarte de materiais.

É importante salientar, que todas estas equipes precisam estar sob orientação dos professores e orientadores e pode até ocorrer convocações de profissionais gabaritados para oferecer mais orientações sobre cada etapa do projeto.

Em todo o processo de um projeto pedagógico se abre muitas portas para a inclusão, onde a criança ou jovem com alguma deficiência pode se enquadrar melhor em alguma das equipes.

Além disso, o trabalho coletivo é uma das melhores ferramentas para a inclusão onde os professores podem trabalhar e discutir questões sobre preconceito e segregação.

Conclusão

Vimos neste texto as origens do conceito de inclusão na escola e algumas diferenças entre modelos, como modelo de integração e o modelo de inclusão.

Além disso, este texto mostrou algumas ferramentas pedagógicas e estruturais para a escola se preparar para uma prática positiva de inclusão.

No entanto, é importante lembrar que o processo inclusivo em uma escola envolve toda a comunidade escolar e também os responsáveis pelos alunos.

Sem uma integração de todos nesse processo a inclusão de alunos com deficiências físicas, cognitivas, psíquicas e socioemocionais, fica comprometida.

Ou seja, muitas vezes o processo inclusivo fica somente a cargo dos professores que possuem classes com alunos defcientes. Assim, estes professores, além de não resolverem os problemas que surgem, ficam desgastados e sobrecarregados.

Neste sentido, diante da inclusão, a escola precisa trabalhar de forma integrada mobilizando pedagogos, psicólogos, orientadores em uma rede de sustentação de todo projeto inclusivo. 

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