Como compreender melhor a BNCC

Neste texto vamos compreender objetivos, propósitos e conceito da Base Nacional Comum Curricular(BNCC). Além disso, vamos adentrar no âmbito que ela está implicada, ou seja, na educação básica e na formação docente.

Como documento normativo a BNCC se coloca como definidora das práticas escolares e suas estratégias além da progressividade de cada disciplina no que se refere aos aprendizados essenciais.

O objetivo principal deste documento é ordenar os temas de cada disciplina nos níveis e etapas do aprendizado, funcionando como um referencial para os professores, na criação de suas aulas.

Porém, existem pontos positivos, mas existem também muitas críticas e rechaços de um grande rol de entidades educacionais consagradas.

Observando esse cenário é preciso vislumbrar primeiro o funcionamento e conceito da BNCC para depois analisar e elencar os pontos positivos e negativos que se fazem presentes nos debates atuais sobre educação.

O que é a BNCC

A princípio, a BNCC se coloca como um documento que determina uma base educativa para todos estudantes do ensino básico brasileiro. Desta forma ela representa inicialmente uma porposta democrática em relação ao acesso do conhecimento para todos.

Além de ter objetivos curriculares direcionados aos estudantes, este documento se estende também aos professores influenciando na formação inicial e continuada de todos docentes.

A BNCC também influencia na produção de materiais didáticos e na elaboração de questões para exames nacionais e estaduais.

Este grande documento se orientou inicialmente pelo Plano nacional de Educação (PNE) e se relaciona com os preceitos éticos, políticos e estéticos presentes nas diretrizes curriculares nacionais de educação básica (DCN).

Organização da BNCC

A organização da BNCC compreende 10 competências gerais e uma competência específica para cada área. Além disso, todo o currículo é organizado em habilidades e objetos do conhecimento.

É importante lembrar que os objetos do conhecimento estão relacionados ao conteúdo, conceitos e processos. Neste sentido, em cada etapa do ensino os alunos precisam desenvolver um certo número de habilidades e cada disciplina.

As habilidades são referenciais para os professores desenvolverem as suas aulas. Elas deverão ser trabalhadas pelos professores seguindo uma ordem de aquisição de conhecimento.

Primeiro apresenta-se o conteúdo, posteriormente desenvolve-se o conceito a partir de elementos básicos do tema e por último trabalha-se em uma atividade prática para que os alunos compreendam o processo.

Vale lembrar, que este ordenamento de aprendizagem está ligado com as técnicas de taxonomia baseada no trabalho do educador norte americano Doug Lemov e na taxonomia de Bloom bastante difundida nos EUA e criada em 1956 pelo psicólogo Benjamin S. Bloom.

Basicamente são classificações hierárquicas dos objetivos da educação, isto pode se dar na seguinte ordem:

Engajamento dos alunos, com uma curiosidade ou pergunta
Introdução da matéria com um resumo sobre o assunto
Apresentação conceitual contendo os elementos básicos do conteúdo
Entrada no nível procedimental com apontamentos práticos do tema juntamente com uma demanda de mais interação dos alunos.
Proposta de atividade prática relacionada ao conteúdo e avaliação

As categorias elencadas acima se baseiam nas categorias do domínio cognitivo propostas por Bloom. Engelhart, Furst, Hill e Krathwohl que são: Conhecimento, compreensão, aplicação, análise, síntese e avaliação.

Competências da BNCC

A BNCC é dividida primeiramente em 10 competências gerais, posteriormente existem também algumas competências específicas para cada disciplina. A BNCC assegura aos alunos o desenvolvimento destas competências por meio das várias disciplinas.

Entre as 10 competências estão:

1- valorizar e utilizar o conhecimento historicamente construído sobre o mundo físico, social, cultural e digital.

2- Exercitar a curiosidade intelectual da ciências

3- valorizar e fruir as diversas manifestações artísticas e culturais

4- Utilizar diferentes linguagens: verbal (oral ou visual-motora, como libras e escrita), corporal, visual, sonora e digital

5- Compreender, utilizar e criar utilizando Tecnologia Digital da Informação e Comunicação (TDIC)

6- Valorizar a diversidade cultural e de saberes possibilitando entender as relações do mundo do trabalho.

7- Argumentar com base em fatos a respeito de valores socioambientais e direitos humanos

8- conhecer-se, apreciar-se e cuidar de sua saúde física e emocional

9- valorizar a diversidade de indivíduos eliminando todo tipo de preconceito

10 agir coletivamente e pessoalmente com autonomia, flexibilidade e resiliência

Vale lembrar que estão citadas acima as 10 competências de maneira resumida, atentando para o núcleo dos conceitos elencados.

Habilidades e objetos de aprendizagem

As habilidades estão relacionadas ao domínio do conteúdo em atividades práticas no qual o conteúdo em si é representado pelo objeto de aprendizagem, cada habilidade é apresentada por um verbo que explicita o processo cognitivo, por exemplo: diferenciar, comparar, perceber, interagir e muitos outros.

Vale lembrar que os processos cognitivos representados pelos verbos são adequados para cada faixa etária e sua respectiva progressão nos níveis de ensino.

Neste sentido, para dar um pequeno exemplo, o verbo explorar aparece mais na fase pré-escolar e os verbos ler e compreender estão mais relacionados com os anos quarto e quinto do fundamental.

No entanto, é importante lembrar que além do verbo existe a referência ao conteúdo de aprendizagem (complemento) e também um termo limitador no final, para determinar o campo de estudo (modificadores).

Para exemplificar, abaixo está uma habilidade proposta para crianças pré-escolares:

“Criar e contar histórias oralmente, com base em imagens ou temas sugeridos” (BNCC, 2017)

Onde:

“Criar e contar”: são os verbos que marcam a habilidade a ser alcançada
“Histórias oralmente”: É o complemento que está relacionado com o objeto de aprendizagem.
“Com base em imagens ou temas sugeridos”: É o modificador dos verbos ou do complemento que especifica a aprendizagem esperada.

Estruturação da BNCC para o ensino Fundamental

A BNCC está direcionada ao ensino fundamental, está estruturada inicialmente em 5 grandes áreas: Linguagens, matemáticas, ciências da natureza, ciências humanas e ensino religioso.

Vale lembrar que cada área possui alguns componentes curriculares, como por exemplo, a área de linguagens integra 4 componentes: língua portuguesa, artes, educação física e língua inglesa.

Além disso, a área das ciências humanas integra 2 componentes: geografia e história. Outro fato importante que precisa ser observado é que o componente “Arte” integra por sua vez, 4 linguagens artísticas: Teatro, dança, artes visuais e música.

A partir desta estrutura se vislumbra que um dos objetivos da BNCC é produzir conexões horizontais entre os componentes curriculares favorecendo o alcance de uma conhecimento básico com interações interdisciplinares.

A BNCC no ensino médio

No ensino médio a BNCC organiza o currículo em 4 áreas inicialmente:

Linguagens e suas tecnologias: Nesta área, como acontece no ensino fundamental, integra -se português, língua inglesa, artes e educação física.
Matemática e suas tecnologias: Nesta área se privilegia a matemática relacionada às outras áreas do conhecimento e também com a tecnologia.
Ciências da natureza e suas tecnologias: Integra conhecimentos sobre a vida, o planeta e o universo, unindo componentes como biologia, física e química atrelados a um conhecimento das Tecnologias de Informação e Comunicação.
Ciências humanas e sociais aplicadas: Esta área integra um conjunto de componentes curriculares como geografia, história, filosofia e sociologia.

Anacronismos da BNCC

A principal crítica feita a BNCC por muitas entidades educacionais é com respeito ao seu anacronismo, ou seja, a centralização em atributos como competências e habilidades.

Estes construtos – habilidades e competências – estão vinculados a uma educação técnica que existia em meados do século XX que reduzia o ensino a um treinamento técnico para o trabalho.

Portanto, a BNCC traz o esvaziamento do conteúdo, ou seja, substitui uma educação relacionada com o desenvolvimento de conteúdos, que faz com que os alunos se apropriem criticamente e históricamente do conhecimento por uma educação de alcance de competências e habilidades muito mais prática do que crítica.

Outra grande preocupação de grupos e entidades educacionais, é a centralização da BNCC, pois ela se torna um documento altamente normativo que interfere na educação de todo país, não respeitando as especificidades culturais de cada região.

Além disso, ela interfere também na formação dos professores alterando currículos de faculdades de pedagogia e construindo avaliações para os docentes, que estejam obrigatoriamente relacionadas com a BNCC.

Este fato faz com que a educação de um modo geral esteja atrelada a um sistema normativo que impede práticas regionais e a criatividade de cada profissional da educação.