Você conhece educação Montessori? Sabe como surgiu?

“O professor não pode só ensinar. Ele deve ver dentro da alma, para ajudar a criança na sua cura. Ele deve formar a personalidade, não pelo ensino, mas falando à sua alma, ao seu espírito, à sua inteligência, com compreensão, humildade e respeito.”

Maria Montessori

Este texto tem como objetivo apresentar o método montessoriano associado ao processo cognitivo na aprendizagem das crianças. A abordagem da pedagogia científica, como é também denominada, compreende que a vida prática e a vida social estão intimamente misturadas à cultura, visto que, ao incentivar a criança a agir com autonomia, há um progresso cognitivo da criança. 

O que é a educação montessoriana e sua filosofia

A filosofia montessoriana precisa ser entendida como um começo, uma busca constante de respostas à educação e à vida da criança. Sendo assim, a base educacional montessoriana são as experiências da própria criança e não as do mundo adulto (MONTESSORI, 1985). É no agir que a criança conquista conhecimentos, mediante de uma ordenação de atividades gradativamente crescentes, a aprendizagem é desenvolvida com maior possibilidade de sucesso. A autoconfirmação imediata dos resultados de um trabalho garante uma aprendizagem feliz e eficiente. Intervenções indevidas de um adulto podem comprometer a aprendizagem e a autoconfiança da criança. 

2 COMPREENDENDO O TRABALHO DE MONTESSORI

Maria Montessori nasceu, em 1870, na cidade de Chiaravalle, na Itália, formou-se em Medicina, em 1896, na Universidade de Roma. Após sua formatura, seguindo os seus instintos, decidiu estudar as crianças deficientes e se inclinou para o fato de que, mais do que clínico, o problema de tais crianças era pedagógico.

A médica renovou o sistema de ensino, desenvolvendo um peculiar método que ficou mundialmente conhecido como método montessoriano, aplicado, inicialmente, nas escolas primárias italianas e, posteriormente, ganhou o mundo. O método foi especialmente dirigido às crianças do período pré-escolar, baseado no estímulo da capacidade e iniciativa de resposta da criança, através do material didático cientificamente elaborado por Montessori. O método propõe uma diversificação das tarefas e da máxima liberdade, de forma que a criança aprenda por si mesma, seguindo o impulso de suas próprias descobertas. 

Em 1898, Montessori expôs as suas ideias sobre aprendizagem, no Congresso Pedagógico de Turim, em seguida, foi para Londres e depois Paris para aprofundar os seus estudos. Cursou Filosofia e Psicologia Experimental, determinada de que a educação das crianças era seu primeiro e essencial fundamento no conhecimento científico. Em 1901, Montessori deixa o cargo de médica por acreditar que deveria se aprofundar no assunto e praticar seu pensamento lógico sobre a educação. E, em 1907, inaugura à primeira “Casa dei Bambini”, ou seja, Casa das Crianças, em San Lorenzo, Roma. A escola, que atendia crianças carentes, torna-se o modelo das demais instituições montessorianas . 

Em 1909, Montessori publica o livro intitulado “O método da pedagogia científica”, que contribuiu para que seu trabalho fosse reconhecido internacionalmente e adotado o nome de “método de Montessori” ou “método montessoriano”. Passados dois anos, abandona sua prática médica e dedica-se exclusivamente à pedagogia. Nesta mesma época, algumas escolas públicas italianas e suíças passam a adotar o seu método como prática educativa.

Em sua viagem aos Estados Unidos, em 1913, fez com que várias escolas adotassem sua metodologia. Entre os anos de 1915 e 1916, também nos EUA,  Montessori apresenta suas ideias na Panamá-Pacific International Exhibition, em São Francisco, e promove um curso de formação de professores chamado “A Casa de Cristal”, inicialmente, em Los Angeles, e, posteriormente, em Barcelona, na Espanha. 

No ano de 1931, na Itália, escolas montessorianas são fechadas por conta de se recusarem a reproduzir as ideologias do regime fascista. Assim, Montessori sai da Itália e se fixa na Espanha. Mas, por conta da Guerra Civil Espanhola, em 1936, ela se muda para a Inglaterra e dois anos depois abre, na Holanda, um centro de treinamento de professores. Nessa constante fuga da guerra, Montessori e seu filho Mario vão para a Índia, lá, seu filho é detido por ser considerado inimigo de guerra e para ela foi concedida a autorização de viajar e lecionar. Depois do término da guerra, em 1946, Montessori e Mario voltaram para a Holanda, posteriormente, vão para a Inglaterra e, em 1947, fundam o “Centro Montessori” em Londres.  

Montessori publica seu livro ”Mente absorvente”, em 1949 e, a partir de 1950, lança os livros “A formação do homem”; “Para educar o potencial humano” e “O que você precisa saber sobre seu filho”. Foi nomeada para o prêmio Nobel, em três oportunidades: 1949, 1950 e 1951. Faleceu de uma hemorragia cerebral no dia 6 de maio de 1952, em Noordwijk, Holanda, com quase 82 anos de idade.

Maria Montessori, através de seu trabalho na Medicina, revolucionou a educação. Quando foi convidada para trabalhar como assistente no hospital San Giovanni, interessou-se pela educação especial e percebeu que todos têm a capacidade de aprender a se desenvolver, respeitando seu ritmo. Ela buscou embasamento teórico, observou que não havia materiais elaborados para que aquelas crianças pudessem se desenvolver. Resolveu estudar a fundo os métodos desenvolvidos por Séguin e Itard, célebres mestres da educação de crianças com necessidades especiais, então, vislumbrou uma educação inclusiva, em que incorporou várias propostas em experiências próprias. 

Montessori utilizou diversos materiais pensados por Séguin e criou muitos outros para que suas crianças aprendessem com o manuseio. Fabricou riquíssimos materiais didáticos, acreditando que o desenvolvimento da criança com deficiência fosse provavelmente pedagógico, antes de ser clínico e obteve êxito ao ensiná-las a ler e escrever. O processo de aprendizagem obteve tamanho sucesso que algumas crianças com deficiências sobressaíram em resultados de avaliação da rede pública de ensino. 

O bom desempenho destes alunos fez Montessori refletir sobre o que havia de errado na educação das crianças que não tinham deficiência, então, concluiu que deveria desenvolver um método similar que abrangesse essas crianças. A cientista defendia em sua proposta que, além do material cientificamente elaborado, as crianças necessitavam de um ambiente preparado para viver e aprender. A educadora entendia da necessidade de que a vida prática e a vida social estivessem intimamente misturadas à cultura, visto que, ao incentivar a criança a agir com autonomia, havia um progresso na realização de atividades nomeadas no método montessoriano como “vida prática”.

O estudo da psicologia da criança, em seus primeiros anos de vida, descortina ante nossos olhos tais maravilhas que ninguém, vendo-as com entendimento, pode furtar-se a ficar profundamente sensibilizado. Nosso trabalho como adultos não consiste em ensinar, mas em auxiliar a mente infantil no seu trabalho de desenvolvimento. (MONTESSORI, s/d, p. 5) 

O ambiente é preparado para dar autonomia ao educando, e ao professor compete auxiliar a criança a ser a autora da sua própria educação, possibilitando a compreensão da natureza do processo estético dos materiais, desenvolvidos especialmente para ela, valorizando também o relacionamento interpessoal. O professor auxilia na capacidade dos conhecimentos subjetivos em objetos de crescente senso, sempre atento às reais necessidades da criança para que consiga o melhor nas suas relações, além de aprimorar capacidade de raciocínio e aprendizagem, interferindo positivamente na conquista da autonomia.

Montessori desenvolveu um método para educar a consciência, o caminho do intelecto passaria pelos sentidos, explorando as formas dos materiais, suas cores, texturas entre outros. Ela aprofundou na psicologia para desenvolver os materiais que facilitariam o aprendizado, a liberdade em que a criança tem em usá-lo. Dessa forma, é imperioso que o educador crie condições especiais, escolhendo o material que corresponde às necessidades do desenvolvimento de cada criança, despertando, então, a verdadeira natureza do indivíduo e o interesse pelo trabalho. O material elaborado tem o sentido de compreender como as crianças, tanto com deficiências ou não, aprendam. Cada material é capaz de despertar um sentido diferente, de modo que elas controlem seus erros, e caminhem sozinhas até atingir seu objetivo.

Montessori defendeu que o caminho do intelecto passa pelas mãos, pois é por meio do movimento e do toque que as crianças exploram e decodificam o mundo ao seu redor. “A criança ama tocar os objetos para depois reconhecê-los” (MONTESSORI, s/d, .7), muitos dos exercícios desenvolvidos são hoje utilizados largamente na educação infantil, atividades que objetivam chamar a atenção das crianças para as propriedades dos objetos como tamanho, forma, cor, textura, peso, cheiro, barulho e outros. 

Assim sendo, o método montessoriano parte do concreto ao abstrato, baseia-se na observação de que as crianças aprendem melhor pela experiência direta de procura e descoberta. Mas, para tornar esse processo o mais rico possível, a educadora italiana desenvolveu materiais científicos e didáticos que constituem um dos aspectos mais importantes e conhecidos do seu trabalho. 

Os materiais são blocos maciços de madeira para encaixe de cilindros, encaixes geométricos, letras em lixa, os materiais utilizados para exercícios da vida diária, materiais sensoriais e o famoso material dourado. São objetos simples, mas muito atraentes, e projetados para auxiliar todo o tipo de aprendizado, do sistema decimal à estrutura da linguagem, visto que Montessori acreditava não haver aprendizado sem ação.

A pedagogia montessoriana possui o conceito que a educação é desenvolvida com base na evolução da criança e não o contrário. Assim, existem seis pilares educacionais no Método Montessori, que devem ser incluídos no processo educacional: Autoeducação; Educação cósmica; Educação como ciência; Ambiente preparado; Adulto preparado e Criança equilibrada.

A autoeducação é um pilar que diz respeito à capacidade inata que todo ser humano tem de aprender, visto que a criança naturalmente explora o ambiente à sua volta. Por isso é tão importante ter um ambiente preparado para tais descobertas e também apresentá-las materiais adequados, de modo que possam desenvolver suas potencialidades, sempre respeitando seu ritmo.  

A educação cósmica vem de “cosmos” que significa ordem, é considerada a melhor forma de auxiliar a criança a compreender o mundo, pois ela precisa entender que tudo tem uma função, inclusive ela, e precisa entender qual é seu papel e como pode contribuir para melhorar o ambiente onde vive.

A educação como ciência se concentra no trabalho do professor que observa, analisa as hipóteses e as teorias que são mais eficazes ao seu trabalho, de acordo com cada criança, ou seja, é a forma de compreender o processo de ensino e aprendizagem da criança.

O ambiente preparado é o lugar planejado e construído pensando na criança, atendendo às suas necessidades psicológicas e biológicas, em que a criança pode explorar materiais, conhecer e desenvolver sua autonomia. O cuidado para que os ambientes possuam materiais adequados e que proporcionem um pleno desenvolvimento, ou seja, um local sensível e acessível às demandas da criança.

O adulto preparado é o profissional que atua como facilitador do desenvolvimento completo da criança, que tem conhecimento das fases do desenvolvimento infantil, domínio sobre as técnicas e ferramentas de ensino e é o guia este processo de aprendizado. E a criança equilibrada é o seu processo de desenvolvimento natural, quando a criança dispõe de ferramentas, ambiente e de adulto preparado pode apresentar o máximo de suas habilidades inatas.

Esses pilares enfocam que uma das provas da correção do processo educacional é a felicidade da criança. O objetivo era mostrar sua experiência prática para dar margens às novas metodologias capazes de inserir a experiência científica na área da Educação, já que a aprendizagem começa desde o nascimento da criança. Montessori nomeou a criança recém-nascida de embrião espiritual. Para ela, o homem difere dos demais animais por ter o que considera de duas fases embrionárias, uma pré e outra pós-natal. Refletindo sobre o embrião, compreenderemos melhor essa ideia de que o único objetivo do embrião na sua matriz é atingir o estado de recém-nascido. É a fase pré-natal da vida humana. Na fase pós-natal, na qual a criança é um embrião espiritual, a criança não somente adquire as características do homem, mas também constrói condições para se adaptar ao mundo ao seu redor.

Gostou de conhecer um pouco sobre Maria Montessori e seu método? Em breve traremos como funciona o desenvolvimento cognitivo da criança na perspectiva da Dra. Montessori!

Fabiana Tonholo – Pedagoga e Fonoaudióloga. Especialista em Docência do Ensino Superior. Especialista em Educação Montessori. Psicopedagoga escolar, Mestre em Educação e Mestranda em Políticas Sociais pela FUNIBER. Possui ampla experiência em Gestão Educacional e coordenação escolar. Professora da Uniplena Educacional

Deixe um comentário