Objetos digitais de aprendizagem

Neste artigo discutiremos as possibilidades das ferramentas digitais no ensino, centrando-se no conceito de objeto digital de aprendizagem, e na sua contribuição em uma educação não linear atravessada por uma gama complexa Inter e trans. disciplinar. A partir desta proposta será abordado neste artigo o conceito de letramento. Desta análise vamos estabelecer os pontos de contato com a cultura digital  e suas relações e possibilidades no âmbito tecnológico. 

Introdução

O objeto digital de aprendizagem (ODA) é um recurso digital destinado a apoiar o aluno no processo de ensino/aprendizagem. Ele é formado por textos. Animações, vídeos e imagens sua aplicação pode ser dividida em módulos ou apresentar-se como um conteúdo completo.

Estes objetos podem ser utilizados n educação a distancia ou presencial. Possuem possibilidades de reutilizações de seus recursos em contextos diferentes. Funcionam como cursos divididos em módulos com acesso a links de vídeos e imagens. A construção e o uso destes recursos podem possibilitar muitas saídas para o atual momento educacional. Abordaremos a seguir as questões que envolvem o letramento infantil e a educação no âmbito da tecnologia digital de comunicação e informação. A partir destes fatores veremos também neste artigo, o conceito de alfabetização e letramento dentro da perspectiva tecnológica.

Objetos digitais e o ensino básico

Na alfabetização, os recursos dos objetos digitais de aprendizagens são muitos e fornecem grande flexibilidade ao ensino em questões avaliativas e disciplinares. No entanto é preciso um olhar atento do professor/a para as questões demandadas pelos alunos no que tange a diferenças cognitivas e de ordens disciplinares e emocionais. Outra questão que se apresenta na utilização de recursos tecnológicos de informação e comunicação, está relacionada com os conhecimentos prévios dos alunos. Existem alunos que estão inseridos na sociedade de informação e alunos que estão excluídos deste circuito.

 Os alunos que estão conectados com o ambiente informativo convivem com os atributos de uma sociedade de informação, que são aquisição, armazenamento, processamento e distribuição. A partir destes atributos podemos concluir que vivemos em uma sociedade altamente informativa e o papel dos professores é transformar a informação em conhecimento por meio do pensamento critico e reflexivo. Passando por estes pressupostos vislumbramos o papel do professor como mediador e observador. Neste sentido o professor/a não um simples monitor diante da aplicação de um jogo com caráter de objeto digital de aprendizagem.

Os objetos digitais de aprendizagens possuem vários formatos como livros digitais, animações, jogos, vídeos e infográficos neles os alunos podem estudar de forma autônoma e lúdica. Os professores nos papeis de mediação e observação, atuarão na elaboração da aula, escolha e aplicação dos objetos digitais de aprendizagem, neste sentido a escolha do objeto passará pela reflexão sobre as demandas presentes no cotidiano escolar. Durante o processo de aplicação do ODA o professor/a se torna um observador e já está presente em um tempo avaliativo.

Dentro do âmbito da tecnologia digital de informação e comunicação existem formas fáceis e elucidativas de trabalho, como é o caso das plataformas digitais de educação. Neste sentido a plataforma “Escola Digital” é um meio bastante útil para o trabalho com objetos digitais. Nesta plataforma, disponibilizada de forma gratuita na internet, o professor pode escolher o objeto digital que irá trabalhar indicando, no sistema de busca a habilidade pedagógica relacionada com a base nacional Comum curricular (BNCC).

Objeto digital e letramento

Para a escolha de instrumentos tecnológicos para a alfabetização é preciso um olhar mediador, com intenção de buscar um melhor caminho de ensino/aprendizagem. Neste sentido é preciso um olhar construtivo a respeito da aquisição da linguagem pela criança. A leitura e a escrita são aquisições sociais e não técnicas, a criança se apropria da linguagem escrita por meios sociais e simbólicos como participante de um processo construtivo e não somente pela percepção de códigos e sons. A partir deste raciocínio, o letramento deve permitir a criança um processo que ela se corresponda ativamente com a construção da escrita e leitura. Os professores, na escolha de um jogo para aplicação pedagógica, precisa observar se este instrumento está inserido em uma proposta construtiva e ativa para não recair em propostas que transformam a atividade de letramento em um código de transcrição e, portanto na aquisição de uma técnica. 

A escrita precisa ser concebida como um sistema de representação onde a criança não está copiando um código fechado já constituído e sim se apropriando de um novo conhecimento, neste sentido o ensino da escrita é conceitual (FERREIRO& TEBEROSKY, 1985)

Nesta linha de pensamento de ver a escrita como um sistema de representação é preciso atentar para os níveis de alfabetização, onde no primeiro nível pré-silábico a criança já tem o desejo de se inserir no mundo simbólico por meios de ensaios representativos.

. Neste estágio porém, a criança ainda está alheia ao fato que a escrita representa os sons da fala, mas já compreende sua natureza simbólica. A partir deste estágio ela alcançará o nível silábico estabelecendo relações entre os sons da fala e a escrita voltando sua atenção para a construção de critérios de diferenciação entre escritas diferentes, no entanto ela conclui que os sons das letras são silábicos atribuindo a cada som vocalizado da palavra, uma sílaba. O nível alfabético será conquistado passando por estes estágios e o convívio com um ambiente e em processos ricos em utilização da escrita. Portanto a aquisição da escrita pela criança passa por um processo contínuo onde o papel do professor/a é propor um ambiente rico em ludicidade, criatividade e de convivência cultural.

A partir destes pressupostos teóricos, a escolha de um ODA para o trabalho de letramento pode ser bastante construtiva e dinâmica.

Letramento digital

O letramento digital corrobora com as ideias de Emília Ferreiro sobre a construção conceitual da escrita e com o ideário de Paulo Freire que se posicionava de forma crítica a consciência bancária da educação. Neste sentido o professor não deve se colocar como um ser superior que ensina a ignorantes, pois desta forma não há estímulo para a criação e a autonomia dos alunos.

Na ótica do pesquisador norte-americano Dom Tapscotti o professor sabe-tudo, fornecedor de todas as informações aos alunos, está com os dias contados. Em seu livro “Geração Digital” (1999), Tapscotti constatou muitas rejeições ao jeito tradicional de aprendizagem, principalmente quando os alunos buscam outros meios de informação, não se limitando ao professor e aos livros didáticos.

Em uma forma de letramento digital a educação se da centrada no aluno e com aprendizes ativos e com trabalho coletivo. Nesta coletividade a equipe constrói habilidades juntamente com o professor articulador. Este novo perfil docente precisa se adequar as mudanças do mundo, promovendo um ensino dinâmico e buscando formação em competências voltadas para a era da informação.

Como indica o educador e pesquisador Antônio Carlos Xavier, para se abordar as questões relacionadas com a alfabetização é preciso distinguir alfabetização de letramento. Neste sentido temos como alfabetização o entendimento da linguagem escrita em seus fatores básicos a representação dos sons fonéticos e sua compreensão escrita. O letramento está mais vinculado a uma compreensão mais profunda da linguagem escrita em que o leitor se apropria dos aspectos culturais e simbólicos de uma sociedade, neste sentido ele pode se articular em relação a escrita de uma forma mais profunda, compreendendo metáforas, assuntos implícitos e contextualizações de diversas ordens.

Estes dois níveis de conhecimento diante da linguagem escrita – alfabetização e letramento – são transferidos, nos dias de hoje para a tecnologia de informação e comunicação, onde em face da cultura digital, podemos estar alfabetizados ou letrados.

Neste sentido, estar alfabetizado na cultura digital é poder compreender os aparatos básicos da informatização como e mails, rede social e pesquisas em sites de conteúdos. Em um nível mais profundo o letrado digital pressupõe assumir mudanças nos modos de ler e escrever os códigos e sinais verbais e não verbais, como imagens e desenhos. 

No âmbito da cultura digital e, por conseguinte, do letramento digital, os educadores precisam se ater no fato que a práxis da linguagem se faz em uma ampliação de dimensões, no sentido que não passa somente pelas linguagens verbais e sim em uma amplitude que inclui as linguagens sonoras e imagéticas. Nesta nova dimensão linguística se processa a linguagem das crianças e adolescentes que pende para atos de significações. Dentro deste complexo de linguagens os professores se tornam articuladores, propondo projetos pedagógicos que valorizem a construção coletiva de textos e informação. 

Conclusão

Neste artigo vimos que a tecnologia digital da informação e comunicação transpassa o ambiente escolar e propõe novas formas de aprendizados representadas nos objetos digitais de aprendizados, mas também reforça olhares pedagógicos revolucionários e visionários que já estavam no contexto histórico da educação, principalmente na educação voltada para a linguagem. Estes olhares, que possuem um profundo senso social, coletivo e humanista, estão nos pressupostos teóricos de Paulo Freire, Cèlestin Freinet, Bakhtin, Vygotsky entre outros. Portanto, o âmbito educacional hoje, acima de uma esfera puramente tecnicista, demanda um olhar libertário e de senso social. A proposta tecnológica sem uma base filosófica humanista resulta estéril e vazia 

BIBLIOGRAFIA

FERREIRO, Emília; TEBEROSK Ana, A Psicologia da Língua Escrita. Porto Alegre: Artes Médicas, 1985

TAPSCOTTI, Don, Geração Digital. São Paulo Macron Books, 1999

XAVIER A. C. S. Letramento digital e ensino – Núcleo de Estudos de Hipertexto e Tecnologia Educacional, UFPE.

Pedro Guimarães – Mestre em música na área de Etnomusicologia pela UNESP. Professor de Música e Arte Educador nas seguintes Instituições: Serviço Social da Indústria (SESI); Centro de Educação Unificada da prefeitura (CEU); Faculdade Anhembi Morumbi; e Instituto Paulo Vanzolini (Formação de Professores). Músico multi-instrumentista e compositor de trilha sonora.

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