Educação e Cultura
Este artigo visa à discussão do tema, Cultura, e seus desdobramentos no âmbito pedagógico. Muitas das dificuldades que atravessam o campo escolar são sociais e culturais, analisando fatores da relação humana e comunicacional chegaremos a algumas conclusões que estão relacionadas com o choque e troca cultural. Analisando concepções de autores como, Umberto Eco, Martín Barbero e Nestor Cancline, este artigo pretende propor para os professores um campo de trabalho que pode se tornar eficaz no entendimento de questões cognitivas e disciplinares.
Introdução
Para se ter um entendimento dos aspecto culturais que atravessam a sociedade atual é importante mapear um caminho de análises. Primeiro se aproximar das discussões geradas por concepções em torno do tema “cultura de massas” o que é demonstrado por Umberto Eco em seu livro “Apocalípticos e Integrados”. Segundo analisar um fenômeno cultural que é discutido também, que é o surgimento do conceito de “cultura hibrida” analisado por Nestor Cancline e Martín Barbero. A partir destes dois grandes eixos gerados pelas discussões da temática cultural, compreender a dinâmica cultural que é vivenciada pelas crianças e adolescentes, os fatores simbólicos que se deslocam a todo momento por fronteiras espaciais, virtuais e sociais.
Hoje pode se dizer que existe uma cultura mutante e esta mutação é muito rápida, os apelos simbólicos de uma música referente a uma determinada classe social ou grupo cultural são a todo o momento, transmutados. As músicas, as imagens que representavam uma determinada causa social de um determinado segmento da sociedade em certo ano, em outro não representa mais.
Este artigo pretende esboçar algum caminho para a abordagem deste fenômeno dinâmico da cultura.
Crítica à cultura de massa
Umberto eco coloca na discussão sobre cultura de massa, primeiro focalizando para o progresso informativo que surgiu desde a invenção da imprensa depois para a revolução industrial e o surgimento da cultura de massa. Posteriormente ele nos mostra dois grupos diferentes que acusam esse viés cultural. O primeiro grupo defende que a ampliação e difusão da informação e conhecimento cultural em grande escala faz surgir uma cultura pobre e simplória, neste caso o conhecimento não devia ser difundido, correndo o risco de se diluir em algo imitativo e sem valor. Existe nesta crítica um visível elitismo aristocrático, revertendo-se a uma crítica as massas e não somente a sua cultura. O segundo grupo com uma intensão mais progressista desconfiam da cultura de massa, no sentido que nela se insere uma forma de poder intelectual capaz de levar os cidadãos a um estado de sujeição gregária, terreno fértil para qualquer aventura autoritária (ECO, 2011 p.37).
A crítica à cultura de massas se refere por vezes mais especificamente aos meios midiáticos como rádio, TV, revistas e jornais. Alguma crítica que se pode elencar para trabalhar na sala de aula seria:
– Os Mass media (mídias) dirigem-se a um público heterogêneo, e especificam-se segundas “médias de gosto” evitando soluções originais.
Nesta critica é visível o que acontece em parte na atualidade. O público é tomado como uma massa sem identidade ou representatividade. Neste sentido, podemos arriscar uma hipótese que esta atuação de uma cultura massificada é inicial e parcial porque existe um primeiro momento em que o público aceita passivamente uma moda, um programa televisivo ou uma música que tenha certo apelo forte. Só que em um segundo momento, pode existir uma contrapartida do público, criticando esta proposta massificada e algumas vezes a proposta inicial veiculada pela mídia é reformulada, estabelecendo uma espécie de um amplo diálogo.
Defesa da cultura de massas
Na defesa da cultura de massas também existem dois grupos. Uns que se atem a um discurso simplista elucubrando o consumo, criando falsas noções filosóficas do incremento das experiências. Em contrapartida existem grupos que defendem a cultura de massas avaliando-a como uma cultura do povo, no sentido que se uma nação, seguindo ideais educacionais e libertários, propõe democratizar o conhecimento, a cultura será produzida e difundida em maior escala, portanto será mais acessível a todos e não a poucos.
Pontos de contato – Cultura Híbrida
Tanto na crítica como na defesa da cultura de massas existem falhas que são importantes para uma análise. O erro dos discursos críticos em relação à cultura de massas está em afirmar que toda indústria cultural estaria na contra mão dos valores culturais, ou seja, a difusão de qualquer produto cultural a uma escala industrial estaria fadada a um efeito massificador. A radicalidade desta afirmação vai de encontro com uma postura elitista, pois todo o produto cultural quem tem a intensão de atingir um grande número de pessoas passa por um processo de produção e difusão em escala industrial. Quando esta crítica toma este viés, se alia a discursos que defendem que os valores culturais são para poucos.
No entanto é preciso um olhar atento aos apologistas da cultura de massa, quando defendem que os produtos industrializados são positivos por proporcionarem um livre mercado. Nesta perspectiva errada o discurso dos defensores da massificação irá desembocar em uma postura acrítica e vedada a qualquer reformulação, onde a cultura de massa é válida por si só.
Vimos até aqui que o conceito cultural carrega uma grande complexidade, isso acontece por se tratar de um fenômeno humano que está condicionado as questões da comunicação humana, portanto com infinitas possibilidades e complexidades.
A saída desse labirinto conceitual não será pela oposição de ideias e sim pelo estabelecimento de pontos de contato. Neste sentido, podemos afirmar que o valor cultural não é ditado ou dado pro algum grupo que detém o poder do conhecimento e dos parâmetros expressivos e artísticos, o valor cultural é dinâmico e coletivo. Neste caso, uma análise mais verdadeira sobre a cultura recai sobre os reveses do poder: A cultura não deve ser manipulada nem pelo poder midiático e nem pelo poder de uma hegemonia intelectual.
A cultura é híbrida por ter uma dinâmica intercambiável e própria, ela produz novas linguagens, novos modos de falar, novos esquemas perceptivos. Artur Cancline adverte que as transformações culturais não são decorrentes dos meios de comunicação e sim da urbanização, ele aponta o crescimento urbano como fator de um hibridismo cultural pelo fato de trazer populações que anteriormente eram de regiões rurais. Neste sentido vai existir nos grandes centros urbanos uma representatividade múltipla de etnias e grupos de vários segmentos, ampliando a oferta simbólica.
A cultura hibrida no dinamismo escolar
A hibridização da cultura pode ser analisada em sala de aula por meio do principal meio de comunicação, hoje, o celular. Como este meio pode fazer uma pessoa viva e aprenda culturas diversas proporciona a um morador rural, vivenciar acontecimentos urbanos e vice versa. Existe um vínculo cada vez mais estreito entre o público e o privado neste meio imaterial de comunicação. O espaço público cedeu lugar às tecnologias eletrônicas fragmentando as representações e simbolismos culturais. “O uso das redes e mídias eletrônicas facilitam a obtenção de dados, visualizar gráficos e inova-los, simular o uso de peças e informações, reduz a distancia entre concepção e produção, conhecimento e aplicação informação e decisão” (CANCLINE). O hibridismo cultural nos remete a dois fatores importantes para serem trabalhados em sala de aula:
– A perda de certas instâncias da aquisição do conhecimento, no sentido que o caminho para o conhecimento se torna múltiplo.
Frente a um mosaico de acepções e ideais que circulam na internet o jovem pode elaborar seu sistema de valores de maneira autônoma. O papel do professor diante desse aporte de hibridismo cultural será o de mediador e orientador ético no sentido de legitimar, juntamente com os alunos, as informações e ideias que circulam nos meios atuais de comunicação, fundamentando em bases éticas de valores humanistas.
– A perda da relação da cultura com os territórios geográficos e sociais e o resultado de uma nova produção simbólica.
A cultura dinâmica e híbrida traz consigo uma descaracterização das representações simbólicas de etnias, de grupos migratórios e também de segmentos sociais interferindo na construção histórica dos sujeitos, tornando-o vulnerável a uma objetivação dos poderes de grandes grupos midiáticos. Diante desse problema, o professor precisa trabalhar com seus alunos, atividades que visem a um mapeamento cultural por meio de trabalhos que valorizem suas origens culturais, estabelecendo relações com familiares e comunidades. Projetos de saraus culturais e sociais são muito eficazes para estes objetivos.
Conclusão
Este trabalho teve como meta estabelecer pontos de contato entre posicionamentos antagônicos em relação à cultura. A partir deste olhar construir propostas pedagógicas baseada no cenário cultural atual. A complexidade do campo cultural traz a baila fatores da complexidade do campo social e que perpassam o âmbito escolar. É preciso um olhar atento, da parte dos responsáveis pela educação para um estabelecimento de um papel de orientação ética no intuito de conduzir os alunos em direção a práticas construtivas e humanistas.
BILIOGRAFIA
CANCLINI, Néstor García. Culturas Híbridas – estratégias para entrar e sair da modernidade. Tradução de Ana Regina Lessa e Heloísa Pezza Cintrão. São Paulo: EDUSP, 1997. p.283-350: Culturas híbridas, poderes oblíquos.
ECO. U. Apocalípticos e Integrados. São Paulo: Perspectiva, 2011.
MARTÍN-BARBERO, Jesús. Dos meios às mediações: comunicação, cultura e hegemonia. Rio de Janeiro: Editora UFRJ, 2. Ed., 2003.

Pedro Guimarães – Mestre em música na área de Etnomusicologia pela UNESP. Professor de Música e Arte Educador nas seguintes Instituições: Serviço Social da Indústria (SESI); Centro de Educação Unificada da prefeitura (CEU); Faculdade Anhembi Morumbi; e Instituto Paulo Vanzolini (Formação de Professores). Músico multi-instrumentista e compositor de trilha sonora.

Deixe um comentário