Projetos Didáticos com Utilização de Temas Culturais

Resumo 

Este artigo focaliza para dois instrumentos metodológicos e didáticos, utilizados para aumentar os resultados positivos de uma ação educativa. A abordagem de ensino que se utiliza de projetos pedagógicos e o uso de temas culturais para melhorar o aprendizado de um determinado conteúdo. Estes dois recursos são eficazes em estabelecer vivencias que irão beneficiar a compreensão de um conteúdo, pois são recursos que oferecem maior grau de envolvimento dos alunos. Também proporcionam uma ação pedagógica inclusiva por haver nestas propostas fatores que requerem ações racionais, teóricas, práticas, artísticas, expressivas e lúdicas.

Introdução

Projetos didáticos e temas culturais na educação são duas propostas que se complementam, pois a construção de um projeto pedagógico, mesmo que se trate de um conteúdo de história, por exemplo, requer a utilização de temas culturais para descrever um contexto histórico. 

A utilização de temas culturais que possuem expressividades nas artes pode ser um recurso descritivo do momento histórico, e não uma mera ilustração, pois cultura e sociedade são indissociáveis. Neste sentido, construir um projeto pedagógico, pressupõe a utilização de uma temática cultural e o professor/a precisa estar aberto aos aspectos que são inerentes a uma ação cultural como criatividade, ludicidade e expressividade. Estes aspectos podem se transformar em uma saída criativa para temas que são muito racionais e abrir portas para ações mais inclusivas e abrangentes.

– Importância Cultural da Arte

Cultura e arte possuem relações muito estreitas em todas as sociedades. Estas relações fazem parte da linguagem de uma coletividade. Algumas civilizações têm formas de artes mais conectadas a ações míticas e religiosas, outras envolvem as artes com as suas legislações ou as mesclam nos raciocínios científicos. Existe, porém, um traço comum às atribuições do status da arte – a arte como registro mais fiel dos vislumbres interiores e dos sentimentos.  Como um fator cultural e subjetivo, a arte é subjacente ao desenvolvimento humano, social e individual. O declínio ético de uma sociedade deve-se a vulgarização da arte, entendendo vulgarização como uma perda de seu significado coletivo. 

 A importância cultural da arte se deve principalmente ao seu aspecto coletivo e todo educador precisa estar ciente que a coletividade está na base de todo saber. A arte nasce desta base comunitária, como John Dewey elucidou “é a extensão do poder dos ritos e cerimônias, que une os seres humanos aos incidentes e cenas da vida, através de uma celebração conjunta: assim torna-os conscientes de sua ligação uns com os outros, em origem e destino”.  

– Desenvolvimento e significado da Expressão 

A palavra expressão possui dois significados principais. Em um sentido significa auto expressão, ato de dar vasão aos nossos sentimentos. Relaciona-se como sintoma do que sentimos. A auto expressão se configura como uma reação a uma situação real e presente como um evento, as pessoas com que estamos às coisas que os outros dizem ou o efeito que o tempo nos causa (LANGER, P.84)

Em outro sentido, porém, a expressão pode significar a apresentação de uma ideia neste caso não há a utilização de uma reação sintomática e sim o uso de símbolos. Sejam estes símbolos palavras, gestos sons ou imagens. Esta expressão simbólica, que todo artista faz uso, estende nosso conhecimento para além do campo da nossa experiência real (LANGER, P85).

A narrativa de uma história o encadeamento dos fatos e o ato de elencar os acontecimentos para a feitura de um livro, conto ou um audiovisual já pertencem a uma expressão conceitual. Esta expressão tem como instrumento a linguagem, nesta forma de expressão existe a todo o momento conexões com o pensamento. Seria impossível haver pensamento sem linguagem e sem palavras. Portanto a organização de uma narrativa está configurada como o nosso pensamento. 

Nas três formas de expressão – auto expressão, expressão simbólica e expressão conceitual- existem fatores subjetivos que são muito difíceis de expressar. Como é o caso dos sentimentos e emoções. A expressão e emoções e sentimentos escapam da lógica conceitual da linguagem, o trabalho de expressar sentimentos e emoções de formas cada vez mais vivenciais está a cargo das linguagens artísticas.

Como vimos acima que uma narrativa se organiza por meio da linguagem resultando em uma expressão conceitual, esta por si só não basta para ser uma obra de arte, é preciso expressar os sentimentos e emoções que estão por trás desta narrativa. A proposta artística de expressar subjetividades é necessária até na elaboração de um documentário, se caso tenha-se a intensão de provocar uma reação nos espectadores.

Na elaboração de um projeto pedagógico em sala de aula e necessário os professores/as levar em conta estas diferenças nos graus de expressividades. Pois qualquer projeto pedagógico envolve, comunicação e expressividade.  

– Cultura e mídias

Começando este tópico é importante salientar, que vivemos em um tempo de mudanças de conceitos e expressões diante do crescimento do meio mediático. A antiga expressão “cultura de Massas” foi substituída pelo termo “Cultura de Mídias”.  Com isso o papel do receptor sofreu uma grande mudança não estando mais em um lugar somente passivo. 

Os meios de comunicação não agem de forma unidirecional sobre o receptor, e sim este age sobre os meios midiáticos e recebe destes meios o retorno de sua ação. Existe, portanto uma troca, aparentemente e supostamente democrática. Podemos lançar uma hipótese que existem relativas democracia e autonomia pela constatação da presença, da parte dos meios mediáticos da internet, de um sistema sofisticado de algoritmos e inteligência artificial que nos coloca em um tipo de relativa passividade. 

 Esta nova passividade nos oferece a autonomia de pesquisar quaisquer conteúdos e também produzir, mas não nos dá a total autonomia de manipular estes meios midiáticos, porque o sistema informativo de internet se auto gerencia e converte toda informação em valor monetário, para a parcela da sociedade que detém maior poder acionário sobre as redes sociais e as várias plataformas de vendas.

Fora esta falta de autonomia absoluta, hoje o usuário mediático não está sujeito as decisões dos canais de TV. Existe hoje um sujeito ativo e participante, que insere sua experiência com os meios de comunicação na rede de suas inter-relações sociais, reelaborando-as, ressignificando-as e até reconstruindo-as.

Hoje as redes sociais é o novo meio de comunicação e o professor precisa estar em uma posição de produtor de conteúdo e não como a maioria das pessoas, mergulhado e imerso a nova ordem mediática. 

Sugestões:

– Produzir e books em conjunto com os alunos

– Elaborar um site ou blog de construção de hipertextos

– Elaborar um canal de debates ou revista eletrônica

    Projetos e novas estratégias

O projeto didático é um bom instrumento pedagógico e traz boas possibilidades de trabalho  na rede pelo seu formato. O projeto em torno de um tema possibilita mais envolvimento dos alunos, pois trabalha com o conhecimento de uma forma multidimensional e polissêmica. 

O fator multidimensional está circunscrito nas diferentes formas de abordar este conhecimento por meio de um projeto. Por exemplo: sobre o tema “preconceito racial”. Eu posso designar um grupo de alunos para pesquisas jornalísticas, outros para a elaboração de uma peça teatral, outros para pesquisas de vários perfis, musical, históricas, imagéticas, poéticas e literárias. Cada grupo de trabalho terá uma abordagem e contato com o conteúdo de forma diferente, possibilitando um mosaico de ideias e saberes. Este tipo de trabalho traz também a possibilidade de adequações dos alunos a suas próprias limitações, considerando as variadas dificuldades de aprendizagens existentes nos meios escolares. Existe também a possibilidade da vivencia e imersão na temática, que são fatores decisivos para um salto qualitativo em comparação com uma educação baseada em quantificar a inteligência.

O projeto didático vai de encontro com a investigação e a inventividade infantil quando se tem um foco sistemático sobre a representação simbólica. Este foco específico no simbolismo infantil é mais utilizado para crianças dentro de uma faixa etária de 5 a 6 anos. Estes trabalhos por projetos visam a ajudar crianças pequenas a extrair um sentido mais profundo e completo de eventos e fenômenos de seu próprio ambiente e de experiências que mereçam a sua atenção. São encorajadas a tomar suas próprias decisões e a fazerem suas próprias escolhas geralmente em cooperação com seus colegas, sobre o trabalho a ser realizado.

Conclusão

 A realização de projetos e cultura são ações sociais que estão na base das relações humanas e por consequência, precisam estar nas relações educacionais. O conhecimento ocidental sofreu muitas divisões e especializações, tornando o saber que antes era totalizado e unitário e um saber fragmentado, um exemplo disto foi o “quadrivium” que na idade média unificava a música as matérias exatas. Posteriormente o conhecimento foi sendo separado em compartimentos estanques, quase anulando suas interligações. Uma educação que faz com que crianças e adolescentes descubram relações entre as várias áreas do conhecimento é verdadeiramente edificante e construtiva. A pedagogia baseada em projetos possibilita este horizonte.

Pedro Guimarães – Mestre em música na área de Etnomusicologia pela UNESP. Professor de Música e Arte Educador nas seguintes Instituições: Serviço Social da Indústria (SESI); Centro de Educação Unificada da prefeitura (CEU); Faculdade Anhembi Morumbi; e Instituto Paulo Vanzolini (Formação de Professores). Músico multi-instrumentista e compositor de trilha sonora.

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