Recomposição das aprendizagens – O que é?
A recomposição das aprendizagens se tornou um fator muito importante no período de volta às aulas presenciais. O primeiro período pós-pandemia deu-se com a discussão sobre vários aspectos novos que se somaram a problemática educativa como a evasão escolar, a recomposição e o acolhimento.
Para entendermos o conceito exato sobre a recomposição das aprendizagens é preciso diferenciá-lo da recuperação. A recomposição é uma condução do aluno para levar um conteúdo que ele não teve acesso.
Neste sentido, ela se diferencia da recuperação que se configura como aquilo que o aluno não deu conta de um conteúdo já visto.
Em relação ao aprendizado e o impacto do ensino remotos estudantes, muitas ações estão sendo discutidas e termos educacionais têm aparecido mais, como:
- Recuperação,
- Recomposição de aprendizagem,
- Aceleração do aprendizado
- Remediação dos danos da aprendizagens
No entanto, segundo Érica Catalani, coordenadora do Cenpec na recomposição da aprendizagem, o aluno não está recuperando algum conteúdo, ele está restaurando e recompondo sua conexão com a escola.
Da parte da escola ela está restaurando a sua responsabilidade social e visando garantir o direito à educação. Neste sentido, a recomposição da aprendizagem é um conceito que é trabalhado pelo aluno e também pela escola em relação a esse.
Como funciona a recomposição de aprendizagens
O principal objetivo da recomposição é acelerar a aprendizagem e impulsioná-la por meio das seguintes ações:
- Garantir a construção de conhecimentos prévios
- Desenvolver competências
- Desenvolver habilidades e atitudes relativas ao ano escolar de referência
- Avaliação do caráter diagnóstico para identificar lacunas no aprendizado
Um fato importante que os professores precisam avaliar para planejarem a recomposição das aprendizagens é que todo o processo de aulas onlines ocasionou no aluno a perda de habilidade gerais e básicas de estudar.
Além disso, os estudantes perderam o hábito de registrar o que os professores falam e também de aprender com os colegas.
Basicamente, o estudo online fez os alunos saírem de uma dinâmica de sala de aula e vivenciarem uma dinâmica muito diferente diante da tela de um computador.
Para que fazer a recomposição das aprendizagens
A situação de alguns alunos, principalmente do fundamental I, é muito grave no que diz respeito à defasagem do aprendizado. Alunos que já possuíam um déficit de aproveitamento, com a pandemia, esse déficit se agravou.
Neste sentido, a recomposição das aprendizagens servirá para evitar a evasão escolar que já é grande, e também fazer com que os alunos retornem às aulas presenciais sem constrangimento por causa de suas inabilidades e diferenças.
Dados atuais demonstram que matérias como portugues e matemática tiveram enormes retrocessos no nível de aprendizado quando comparadas com anos anteriores, com quedas de 29 a 47%.
A quinta série do ensino fundamental foi onde o problema se agravou mais, fato que prova que as crianças pequenas foram as mais afetadas com o afastamento das salas de aulas.
Diante deste cenário a recomposição das aprendizagens se torna indispensável. No entanto, ela pode acontecer de muitas formas como nos momentos em sala de aula, processos que vão além das atividades em sala e até formatos de imersão em cursos oferecidos no período de férias escolares.
Vale lembrar, que em todos esses processos a recomposição implica principalmente a priorização curricular, isso inclui as competências gerais da BNCC.
Priorização curricular na recomposição das aprendizagens
A priorização curricular torna-se necessária sempre após algumas descontinuidades no percurso do ensino, neste caso por causa da COVID -19 surgiu a necessidade dessa ação.
O objetivo principal da priorização curricular é retomar a trajetória dos estudantes após parada no processo regular de ensino presencial.
Para auxiliar o processo de priorização curricular a secretaria municipal de ensino (SME) formatou um documento que traz planilhas contendo os Objetivos de Aprendizagens e Desenvolvimento (OAD) prioritário.
A seleção desses objetivos foi feita atendendo a alguns critérios como:
- Equidade, educação inclusiva e educação integral ( princípios contidos no currículo da cidade também disponível)
- Organização da rede em Ciclos de aprendizagens
- Interdisciplinaridade e intradisciplinaridade
- Relevância, pertinência, integração e visibilidade
Vale lembrar que o professor nesse processo tem autonomia de escolher qual conteúdo será priorizado visando as dificuldades mais prementes da turma e dos alunos individualmente.
No entanto, para os professores terem consciência dessas dificuldades é preciso realizar diagnósticos avaliativos.
Outro fator que surge na situação atual é o fato dos professores considerarem o tempo de aprendizagem dos alunos, o que faz ser reafirmada a proposta de aprendizado por ciclos e não por séries. Esta proposta está conectada com o ensino inclusivo que atenda a um público heterogêneo.
Neste sentido, a escola pode possuir a autonomia de organizar salas misturadas, ou seja, alunos de séries diferentes mas que possuem as mesmas dificuldades de aprendizagem.
Recomposição das aprendizagens nas escolas municipais de São paulo
A secretaria municipal da educação (SME) e sua coordenadoria pedagógica elaboraram uma material de apoio ao professor na retomada das aulas presenciais. Este material será crucial no processo de recomposição das aprendizagens.
Trata-se de 12 volumes que trata do plano de retorno às aulas e tem como principal objetivo garantir aprendizagens essenciais aos alunos do ensino fundamental.
Levando em conta todas as dificuldades que o distanciamento causou como a quebra em desenvolvimentos cognitivos e psicossociais pelo fato da criança está apartada do ambiente escolar, alguns conteúdos prioritários foram estabelecidos.
Esses conteúdos precisam ser atentamente observados em um replanejamento por parte dos docentes.
Em resumo, esta Priorização Curricular traz uma reformulação e ressignificação do Currículo da Cidade que está disponibilizado na internet, observando a situação que estamos vivenciando, frente a um ciclo pandêmico.
Objetivos de aprendizagens e desenvolvimento (OAD)
Para compreender mais profundamente como está se desenvolvendo a recomposição das aprendizagens no contexto atual é necessário conhecermos o ponto chave desta ação pedagógica emergencial.
Este ponto crucial se configura nos objetivos de aprendizagens que atualmente estão sendo reformulados em referência ao Currículo da Cidade.
Estes objetivos são descrições concisas e claramente articuladas e definidas sobre o que os alunos precisam saber e compreender em uma determinada etapa de sua escolaridade.
Eles contemplam a educação básica e um âmbito de doze anos que envolve o fundamental e o médio.
Estes objetivos ajudarão os professores a planejar e monitorar a aprendizagem pois em seu conjunto descreve uma ampla sequência do que precisa ser aprendido.
Vale lembrar que esses objetivos de aprendizagens constam nas planilhas da Priorização Curricular elaborada pela SME.
Principais vantagens dos objetivos de aprendizagens:
- Possibilita ao professor a análise do desempenho do aluno
- Fornece apoio a práticas de avaliação formativa e somativa
- Fornece coerência às avaliações externas
Características dos OAD no contexto atual
No cenário da recomposição das aprendizagens alguns objetivos de aprendizagens e desenvolvimento precisaram ser priorizados e observados no planejamento/replanejamento docente.
Essa priorização se justifica pelo fato do período de distanciamento causar prejuízos para aprendizagem dos estudantes, muitos até irreversíveis.
neste sentido algumas características dos objetivos de aprendizagem foram observadas mais atentamente nesse novo contexto:
- Objetivos escritos para cada ano escolar
- Facilitam o entendimento rigoroso em profundidade com ênfase na profundidade ao invés de amplitude
- São desenvolvidos para garantir que o aprendizado seja organizado de maneira apropriada para evitar repetições desnecessárias
- Os objetivos seguem uma comanda implícita como: “Os estudantes irão”
Para termos um entendimento mais exato sobre os objetivos de aprendizagens e desenvolvimentos, podemos trazer um exemplo. Contudo, é importante observarmos que a comanda “os estudantes irão” está sempre direcionando cada objetivo.
Exemplo: Em relação ao ciclo de alfabetização para desenvolver a capacidade de compreensão de texto temos o seguinte objetivos:
- (os alunos irão) “Realizar antecipações a respeito do conteúdo do texto, utilizando o repertório pessoal de conhecimento sobre o assunto, gênero, autor, portador e veículo de publicação, verificando ao longo da leitura se as antecipações realizadas se confirmam ou não”.
- (os alunos irão)“Localizar informações explícitas, considerando a finalidade da leitura”.
Vale lembrar que esse exemplo foi retirado do documento Priorização Curricular que foi parte do plano de retorno às aulas da SME/COPED/DIFEREM/NTC/DIEE.
Avaliações diagnósticas e recomposição das aprendizagens
Além da priorização curricular que vimos até aqui, outro ponto chave que contribui de maneira decisiva para a recomposição das aprendizagens está representado pelas avaliações diagnósticas.
Esta ferramenta muito utilizada nas estratégias de recomposição da aprendizagem auxilia os professores a mapear os conhecimentos prévios, as dificuldades e as habilidades dos alunos.
geralmente ela é aplicada no início do ano letivo e fim de períodos e até em processos pontuais como preparação para o vestibular e outras avaliações nacionais.
No entanto, com a volta das aulas presenciais após um longo período com aulas online é preciso levantar informações sobre o nível de aprendizado dos alunos.
A avaliação diagnóstica está sendo eficaz principalmente para traçar um planejamento de acordo com a realidade de cada aluno e da turma. Além disso, ela atende ao objetivo do direito de aprendizagem e desenvolvimento dos alunos de acordo com a BNCC.
Neste sentido, essa ferramenta garante a formação humana integral e não somente acadêmica.
Retomada das aulas e avaliação diagnóstica
A avaliação diagnóstica precisa ser elaborada com muito cuidado visando a inclusão e a não evasão do aluno. neste sentido, precisa-se elaborar uma avaliação abrangente no sentido de vislumbrar as competências dos alunos de forma global para não incorrer em erros que futuramente causará a exclusão de alunos avaliados de maneira parcial.
Os princípios básicos que norteiam a avaliação diagnóstica na retomada das aulas são:
- Os conhecimentos prévios
- As experiências dos estudantes
- O conteúdo a ser ensinado
- A adequação a realidade de cada aluno
- O estabelecimento dos objetivos a serem alcançados
- Definição do instrumento que será utilizado na avaliação
- O formato (impresso ou digital)
- Os conteúdos
Conclusão
Vimos nesse texto as características principais da recomposição das aprendizagens e seus principais instrumentos como: A Priorização Curricular e a Avaliação Diagnóstica.
A partir desse entendimento o que tiramos dessa nova proposta educacional é que os professores têm toda a autonomia de elaborar seus planejamentos.
No entanto, todos os planejamentos precisam levar em conta os objetivos de aprendizagens e desenvolvimentos contidos no documento da Priorização Curricular.
Porém a autonomia dos professores e da comunidade escolar vai valer a partir da avaliação diagnóstica onde se terá uma ideia profunda das dificuldades dos alunos tanto no aspecto coletivo como individual.

Pedro Guimarães – Mestre em música na área de Etnomusicologia pela UNESP. Professor de Música e Arte Educador nas seguintes Instituições: Serviço Social da Indústria (SESI); Centro de Educação Unificada da prefeitura (CEU); Faculdade Anhembi Morumbi; e Instituto Paulo Vanzolini (Formação de Professores). Músico multi-instrumentista e compositor de trilha sonora.
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