O que são ATPCs

As ATPCs significam Aulas de Trabalho Pedagógicos Coletivos e integram a jornada de trabalho docente e sua formação continuada.

Por meio dessas ações a escola se torna um espaço privilegiado de formação com o apoio da Secretaria da educação e a atuação da equipe gestora (direção e coordenação pedagógica).

As ATPCs  engajam os professores e profissionais da educação em um processo de formação em rede.

Neste texto veremos a importância atual das ATPCs também chamadas de HTPCs ( Horas de Trabalho Pedagógicos Coletivos)  na formação continua do docente.

A importância deste instrumento pedagógico cresce ainda mais frente às constantes  modificações curriculares ocorridas no âmbito nacional, municipal e estadual.

Uma das principais mudanças ocorridas na educação de um modo geral foi a elaboração da BNCC  e sua homologação em 2017.

Vale lembrar que a elaboração da BNCC contou com 27 seminários estaduais com professores, gestores e especialistas para debater a segunda versão da BNCC, lembrando que sua primeira versão foi em 2015.

Este grande documento com objetivo de nortear a educação nacional causou e ainda causa muitas dúvidas por parte dos professores e também aumentou a necessidade de formação continuada.

 Hoje as ATPCs se tornaram cada vez mais necessárias com esse intenso debate em torno do conhecimento escolar.

Importância das ATPCs na formação docente

Atualmente a qualificação de um professor graduado não basta para se adequar a um mundo em constante mudanças é preciso adquirir competências diversas e amplas.

Neste sentido, é sempre demandada a criação de espaços para formação seja em faculdades, seminários ou cursos. No entanto, os professores podem e precisam utilizar o próprio espaço e tempo escolar e isso já é garantido pelas ATPCs.

Os professores na articulação de seu tempo podem fazer da escola um espaço de discussão e ampliação dos saberes e ainda buscar a sua constante formação em cursos de pós-graduação.

Uma maneira de aliar esses dois espaços, a faculdade e a escola é ver a escola e o trabalho docente como um campo de pesquisa das práticas pedagógicas.

Neste sentido, as ATPCs são essenciais para se pensar o fazer docente, pois os professores refletem sobre suas práticas no espaço que se processa o ensino.

Como diz António Nóvoa, o grande pensador da educação atual, em recente entrevista dada à revista Educação – “A escola e a pedagogia são espaços comuns (…) “ é o lugar público onde podemos produzir algo comum”.

Para este pensador a formação continuada deve considerar a escola como lugar de referência que se articula com o desempenho profissional dos professores.

Porém, existe na proposição de Nóvoa uma certa propensão para o pragmatismo de projetos de ação em detrimento do conteúdo que pode ser lesivo para uma reflexão crítica.

Neste sentido, o professor pode ser um indivíduo que reflete sobre sua prática sem esquecer da historicidade do conhecimento e a visão crítica social.

Como funcionam as ATPCs

As horas de trabalho pedagógicos coletivos funcionam dentro da escola e é utilizada no âmbito de 1 ⁄ 3 da carga horária do professor, os outros 2 ⁄ 3 são destinados aos trabalhos com os alunos.

Este espaço de tempo de 1 ⁄ 3 da carga horária é destinado também para correção de provas, preparação de aulas e atividades com outros docentes representados pelas ATPCs ou HTPCs – horas de trabalhos pedagógicos coletivos de acordo com a nomenclatura fora de São Paulo.

As ATPCs representam um espaço para discutir as finalidades da educação em meio a reflexões contínuas sobre o currículo oficial e o currículo praticado nas escolas.

Além disso, discute-se as metodologias, materiais pedagógicos e outros fatores que incidem na educação no âmbito da escola e da educação como um todo.

É importante salientar que estes momentos de reflexão são considerados como uma manifestação das especificidades da escola frente a qualquer processo uniformizador.

Neste sentido, é um espaço onde os professores podem compartilhar suas práticas pedagógicas levando em conta a singularidade de seus problemas.

Vale lembrar que a reflexão em educação precisa ser exercida dentro de uma perspectiva teórica e prática e dentro de um universo reflexivo ancorado na crítica histórica e social. 

Outra importância das ATPCs está no fato desses encontros serviram para troca de experiências e realizar uma formação coletiva de docentes.

ATPCs e BNCC

A relação que podemos estabelecer entre as ATPCs e a BNCC é primeiro uma relação direta da ideologia presente na BNCC alinhada à formação do indivíduo no mundo do trabalho. 

Ou seja, o tema central da BNCC é o conceito de competência que visa preparar os jovens para o mundo profissional adequando-o por meio de aptidões emocionais e projetos de vida.

Nas ATPCs os professores precisaram adequar o seu planejamento com essa nova ótica educativa da BNCC.

Nas aulas e encontros dos docentes precisa estar em discussão também a educação integral, que é uma preocupação recorrente na BNCC.

Neste sentido esse documento aponta que a criança precisa ser compreendida em suas singularidades e diversidades. Além disso, a escola precisa se voltar para o desenvolvimento pleno do aluno em suas diferentes dimensões formativas.

Os professores em sua formação continuada precisam compreender como o conceito de competência é definido na BNCC, nesse sentido ele é:

  • Mobilização de conhecimentos: Conceitos e procedimentos 
  • Habilidades: Práticas, cognitivas e socioemocionais
  • Atitudes e valores: Resolver demandas complexas da vida cotidiana, do pleno exercício da cidadania e do mundo do trabalho ( BNCC, 2018, pag.8)

Na definição desse conceito podemos perceber que não se dá muita ênfase ao conhecimento teórico de sua produção histórica e a um posicionamento crítico/social na ação do ensino/aprendizagem.

Esta lacuna dentro do conceito de competência apresentado na BNCC pode sugerir um extenso debate por parte dos professores, procurando ressignificar e adequar este documento à prática reflexiva e crítica.

Problemas apresentados pelas ATPCs

O principal problema apresentado por esses encontros é a desconexão com os contextos locais da escola e da sala de aula. Neste sentido, não existe uma preocupação em articular os saberes docentes com o objetivo de enfrentar os problemas em sala de aula.

O espaço de interlocução com professores é mínimo, ocasionando o não enfrentamento das dificuldades do ensino público.

Os problemas  mais corriqueiros são falta de estrutura, currículo engessado e o grande número de alunos por sala.

Além disso, os professores não conseguem se articular e receber suporte para enfrentar problemas que foram discutidos nas ATPCs.

Conclusão

Neste artigo vimos a importância das ATPCs junto a formação continuada dos professores e a um espaço de reflexão sobre suas práticas. No entanto, os problemas da educação ainda são muitos e diversos.

Porém, todo espaço de reflexão é muito válido para a formação docente quando os temas discutidos nesses espaços servem de motivo para a pesquisa individual.

Neste sentido, os professores não podem perder a oportunidade de refletir de forma crítica diante dos problemas sociais que envolvem a escola, a educação e articulação de novos conceitos.

Pedro Guimarães – Mestre em música na área de Etnomusicologia pela UNESP. Professor de Música e Arte Educador nas seguintes Instituições: Serviço Social da Indústria (SESI); Centro de Educação Unificada da prefeitura (CEU); Faculdade Anhembi Morumbi; e Instituto Paulo Vanzolini (Formação de Professores). Músico multi-instrumentista e compositor de trilha sonora.

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