Metodologias ativas na formação docente

As metodologias ativas estão sendo demandadas na pedagogia atual, pois o uso das tecnologias da informação e comunicação associadas ao ensino, cobra uma nova postura da escola e dos professores diante da democratização da informação.

Hoje, os professores estão diante de alunos que possuem informações tiradas dos meios digitais e portanto é um público bem diferente daquele que existia antes do advento da informação digital.

Neste sentido, o único caminho possível neste mundo informatizado são os métodos ativos. Porém, quando falamos de métodos ativos temos a impressão que são métodos surgidos nesse nosso tempo tecnológico.

No entanto, esses métodos foram associados ao ensino desde o início do século XX. Portanto, a época industrializada no fim do século XIX e início do século XX, cobrava uma nova escola com um novo tipo de formação capaz de atender as demandas organizacionais do momento.

A partir dessa necessidade surgiu a proposta da Escola Nova associada às metodologias ativas em que o aluno passou a ser o protagonista do ensino.

Esta nova proposta de ensino se contrapunha ao ensino tradicional baseado em modelos mecânicos e repetitivos, oferecendo um ensino que priorizava  a capacidade reflexiva, crítica e autônoma dos alunos.

No entanto, essa revolução do ensino ocorreu no início do século XX e no seu decorrer, portanto muitos conceitos foram reformulados até chegar aos nossos dias. Atualmente, vemos que muitos problemas como evasão escolar, inadequações e inaptidões relacionadas a deficiências cognitivas ainda são grandes.

Diante deste cenário é preciso colocar uma questão relacionada à formação docente: Qual o melhor caminho para se trilhar na pedagogia?

Neste texto veremos como a metodologia ativa influencia a formação docente e quais são os novos caminhos pedagógicos para um mundo tão diferente e desafiador para a profissão docente.

Influência da metodologia ativa na atualidade

Com a utilização das tecnologias de informação e comunicação (TICs) os alunos são convocados a resolver problemas diversos utilizando tomadas de decisões fornecidas por um ensino que valoriza a autonomia dos alunos.

Esta ótica fundada pelas metodologias ativas se opôs ao ensino tradicional onde o professor trazia o conteúdo pronto e realizava uma aula totalmente expositiva, neste modelo o aluno se limitava a ouvir passivamente o conhecimento que lhe era dado.

O principal problema desse modelo tradicional era não observar as diferenças entre os alunos, pois o aluno em si não era relevante na avaliação e sim a concepção do conteúdo trazida pelo professor que era indiscutível.

Neste sentido o professor era o centro do processo de ensino/aprendizagem e os alunos eram tratados de maneira homogênea, ou seja, era considerado que todos aprendiam da mesma forma.

Esta intenção de homogeneizar a sala de aula e centralizar toda metodologia na figura do professor se mostrou ineficaz já no início do século XX.

A partir dessa época o ensino voltou a atenção para o aluno e sua autonomia. Portanto, nas metodologias ativas o aluno se torna o centro da tríade – professor, aluno e conhecimento.

Principais características das metodologias ativas

A origem das metodologias ativas está no ideário da Escola Nova focada na participação ativa dos alunos na aquisição do conhecimento. 

Neste sentido, se deslocou na tríade professor/aluno/conhecimento o foco no professor para  aluno. A partir dessa premissa é preciso trabalhar a educação no sentido de tornar o aluno um ser autônomo e coletivo, pois precisa ser destacado o potencial da sociabilidade e da troca entre os alunos.

Nesta perspectiva, a educação precisa estar voltada para projetos educativos onde uma equipe trabalha um tema do conhecimento investigando problemas e soluções, aspectos históricos, características científicas e outras atribuições desse conhecimento.

No entanto, essa perspectiva de trabalhar o conhecimento por meio de projetos pedagógicos não pode negar o aspecto histórico e social que está na nascente de todo conhecimento e na relação do conhecimento com a sociedade em cada época.

Neste sentido, é importante lembrar que o advento da metodologia ativa junto a Escola Nova trouxe como aspecto negativo “ a não historicidade do conhecimento”. 

Ou seja, tratou-se o conhecimento como elemento dado, aistórico e que não fica marcado por quem estuda e trabalha sobre ele.

A partir dessa deficiência apontada nos métodos ativos da escola nova surgiu a pedagogia crítico-social na década de 1970, que evidencia o conhecimento e também a autonomia dos alunos. 

Assim, a metodologia ativa precisa se conciliar com a consciência crítica e os alunos precisam assumir a condição de agentes ativos na transformação da sociedade e de si próprios.

Atualmente, o melhor caminho não é restringir o ensino a uma sala de aula e sim colocar e problematizar o mundo e os problemas sociais nesta sala presencial/virtual.

Principais metodologias ativas na atualidade

As metodologias ativas nos dias de hoje cobram uma reformulação no papel dos professores, pois estes não são mais expositores do conhecimento e sim mediadores e facilitadores.

Nesta ótica a prática pedagógica se torna uma prática de transformação da informação em conhecimento por meio da problematização.

Ou seja, diante da grande informação digital o professor como mediador precisa conscientizar os alunos sobre as origens da informação, os seus alicerces científicos e suas implicações sociais.

Vale lembrar, que muitos conhecimentos que estão na internet não podem ter o status de conhecimento em sala de aula antes de passar por intensas problematizações mediadas pelo professor e trabalhadas e debatidas entre os alunos.

Nas palavras de Paulo Freire “ o homem deve ser o sujeito de sua própria educação e não objeto dela”. Por isso ninguém educa ninguém” (pg. 28, 1979).

A partir da premissa da metodologia ativa aliada a pedagogia crítico-social vamos conhecer os principais recursos pedagógicos que tornam os alunos ativos dentro do processo de ensino.

Aprendizagem imersiva

A aprendizagem imersiva surgiu no novo cenário educacional em suas três dimensões: Ensino a distância (Ead); ensino híbrido (presencial/virtual); ensino presencial informatizado, onde o professor possibilita a imersão por meio de jogos computacionais.

Para estas 3 propostas a aprendizagem imersiva se apresenta como ferramenta que colabora para o envolvimento e engajamento dos alunos.

Vale lembrar que esta ferramenta é complexa e se abre em várias frentes de atuação e resultado.

Podemos elencar algumas destas frentes como:

  • Criar uma segunda realidade onde os alunos podem se aproximar melhor do campo de conhecimento; 
  • Criar uma realidade lúdica onde o jogo possibilita mais engajamento;
  • Possibilitar o estudo de uma realidade afastada tanto temporalmente quanto espacialmente.

Na aprendizagem imersiva transferimos os problemas do mundo real para o virtual a fim de fazer com que os alunos se engajem na busca de soluções. 

A busca de soluções vai possibilitar o desenvolvimento de proatividade nos alunos.

Segundo a pesquisadora J,T, Mehigan este modelo de ensino traz maior engajamento ao aluno por causa de sua qualidade interativa, principalmente os instrumentos como os games de aprendizagens, simuladores e mundos virtuais de aprendizagens.

Uma das mais importantes características da aprendizagem imersiva é a não separação da ação, reflexão e questionamento. 

Gamificação

Esta metodologia ativa está presente também na aprendizagem imersiva, no entanto ela é mais antiga por estar ligada ao sentimento lúdico.

Neste sentido, as pedagogias construtivistas já trabalharam com o lúdico e a criatividade no âmbito da Escola Nova e também nas propostas do Socioconstrutivismo que segue o pensamento de Vygotsky.

Dentro da linha de Vygotsky, o jogo evidencia uma proposta de aprendizado coletivo. Vale lembrar que para Vygotsky o homem é um ser que se forma em contato com a sociedade.

Vygotsky (2002) analisou o papel do jogo na educação e no desenvolvimento das crianças menores de seis anos com a intenção de romper com o construtivismo excessivamente biológico que analisa indivíduos fora do contexto social.

A aplicação do conceito de jogo na educação também envolve uma dimensão filosófica e antropológica porque ele é uma área que existe desde primórdios da humanidade e em toda extensão do mundo.

Segundo, o historiador e linguista holandes Johan Huizinga “  

“O jogo é uma função da vida, mas não é passível de definição exata em termos lógicos, biológicos ou estéticos”.  

Neste sentido o uso do jogo na educação vai de encontro a natureza dos jovens e crianças do corpo discente e por isso se conforma às suas aptidões e disponibilidades. 

No entanto, o jogo aplicado na sala de aula irá desenvolver qualidades inerentes ao aprendizado.

Vale lembrar que o programador britânico Nick Pelling, criador do conceito de gamificação, apontou as seguintes questões estratégicas do jogo: 

  • Vocação; 
  • Desenvolvimento; 
  • Capacitação criativa; 
  • Apropriação e posse; 
  • Adequação; 
  • Aprendizado por meio das perdas;
  •  Imprevisibilidade; 
  • Aprendizado por meio dos erros.

Sala de aula invertida

Esta metodologia está sendo muito utilizada ultimamente, por causa do desinteresse do aluno por aulas excessivamente teóricas onde fica difícil a visualização prática dos conceitos apresentados.

Na sala de aula invertida o aluno aprende o conteúdo novo em casa sozinho e totalmente autônomo para depois em sala de aula, problematizar estas informações e conhecimentos com a ajuda de professores e tutores.

É importante lembrar que o conceito de sala de aula invertida (flipped classroom) surgiu em 2000. É apresentado pela primeira vez por J. Wesley Baker na International conference on College Teaching and Learning.

Mais tarde, em 2006, foi aperfeiçoado e posto em prática por dois professores de química, Jonathan Bergmann e Aaron Sams, que observando a crescente ausência de seus alunos, desenvolveram vídeos que posteriormente eram disponibilizados na internet.

Portanto, o conceito de sla de aula invertida partiu de uma constatação que o ensino precisa estar em constante discussão e não ser dado de uma forma fechada e absoluta.

Pedro Guimarães – Mestre em música na área de Etnomusicologia pela UNESP. Professor de Música e Arte Educador nas seguintes Instituições: Serviço Social da Indústria (SESI); Centro de Educação Unificada da prefeitura (CEU); Faculdade Anhembi Morumbi; e Instituto Paulo Vanzolini (Formação de Professores). Músico multi-instrumentista e compositor de trilha sonora.

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