Educação e IA

Neste texto teremos uma visão panorâmica das transformações sofridas pela escola em relação ao uso da Inteligência artificial no campo educacional.

O âmbito educativo atual se modificou muito em um curto espaço de tempo, pois tivemos o isolamento causado pela Pandemia de COVID-19, ao mesmo tempo os problemas com a evasão escolar se agravaram e a recuperação de aprendizagem ainda está sendo sanada.

É importante lembrar que antes do período pandêmico as ferramentas tecnológicas de ensino digital e a distância já estavam bastante inseridas no meio escolar. 

Neste sentido, o ensino híbrido, a sala de aula invertida, a gamificação do ensino já contavam como ferramentas tecnológicas e automatizadas no engajamento dos alunos e na valorização da autonomia.

Outro fator que não podemos deixar de lembrar é a modificação do papel dos professores, que saindo de uma posição de detentor do conhecimento e expositor do conteúdo, passaram a assumir um papel de mediação, diante da informação adquirida pelos alunos.

No entanto, é importante explicitar que esse papel mediador não é aceitar toda a informação trazida pelo aluno para sala de aula, esse papel se configura na problematização.

Portanto, se esquecermos o conceito de problematização e seus objetivos, toda a ação educativa perde o sentido, principalmente diante das ferramentas de IA.

Neste texto veremos algumas ferramentas de IA utilizadas em textos, imagens e até sons. Além disso, apontaremos estratégias para lidar com esta atualidade em sala de aula.

Implicações éticas da utilização da IA no ensino

Hoje a sala de aula não será e nem é mais a mesma, esta sala é uma espaço atravessado por várias dimensões da realidade. 

Falar isso, nos parece meio fantasioso, mas um tempo em que os alunos vivem e captam informações a toda hora e ainda conseguem acionar inteligências artificiais, não coexiste apenas em uma realidade.

No entanto, muitos professores não absorveram essa nova dinâmica do ensino e ainda apresentam aulas lineares de organização do conteúdo, não ajudando e nem compreendendo as reais necessidades dos alunos.

A escola e a comunidade escolar entram em muitos dilemas como proibir ou não proibir o uso do celular, investigar se os alunos estão utilizando a IA em seus trabalhos, fazê-los produzir trabalhos em sala de aula e não em casa, para exercer maiores controles.

Diante de todos esses dilemas e estratégias ainda discutidas pelos professores emerge a antiga ferramenta da problematização. 

Se lembrarmos de Paulo Freire, que viveu em uma época em que não havia aparatos tecnológicos como os da nossa época, veremos que suas estratégias ainda são muito atualizadas.

Neste sentido,mesmo com tecnologias avançadas e diferenciadas, o nosso cotidiano traz semelhanças com o passado.

Ou seja, se nas décadas de 60 e 70 existiam jornais, manuais técnicos, cartilhas de alfabetização pouco confiáveis, no que diz respeito ao aprofundamento do saber, hoje existem os meios tecnológicos com o mesmo perfil pouco confiável e sem nenhum aprofundamento

Portanto, ainda cabe aos professores, a problematização da informação, lembremos que dados não problematizados ainda não é conhecimento. A inteligência artificial trabalha com dados brutos, mas está longe de tecer e criar argumentos sobre qualquer conteúdo.

Diante dos nossos 86 bilhões de neurônios, é preciso lembrar como nos diz o neurocientista Miguel  Nicolelis que a IA nem é inteligente e nem é artificial.

A IA não é inteligente, pois na visão do renomado cientista a inteligência é presa a organismos vivos e emerge da interação entre eles para maximizar suas chances de sobrevivência.

 Por outro lado, não é artificial porque foi criada por humanos e na elaboração da suposta inteligência existem milhares de pessoas responsáveis pela aprendizagem das máquinas e pelo direcionamento de algoritmos.

Qual o peso da IA na educação e na sociedade

Recentemente em 7 de agosto de 2023 o neurocientista Miguel Nicolelis em uma entrevista para o jornalista Reinaldo Azevedo, explicitou a importância das descobertas tecnológicas e biológicas no ramo da neurociência nas nossas vidas.

Muito do que foi descoberto, sobre o funcionamento do nosso cérebro foi aplicado no aprendizado de máquinas, principal fundamento da construção de IAs. No entanto, na visão do neurocientista, quando comparamos o cérebro humano com qualquer inteligência artificial vem à tona os limites ainda presentes nesta última.

Basicamente, as inteligências artificiais disponíveis na internet trabalham com dados da rede e buscam a partir desses dados a construção de imagens, textos e sons. Porém, a criatividade desses dispositivos de IA age por meio da cópia e reestruturação.

Ou seja, à medida que uma pessoa propõe a criação de um texto ou imagem para uma IA, esta irá buscar nas informações contidas na rede, conteúdos que a possibilitará construir este texto ou imagem.

No entanto, todos conteúdos que existem na rede possuem autores e mesmo que a IA tenha modificado e reestruturado esses conteúdos, a ideia principal e criativa foi dada pelos autores humanos.

Neste fato vemos que a IA ainda tropeça em dois problemas: a inaptidão para criar algo novo e os problemas éticos relacionados a direitos autorais.

IA em sala de aula

A inteligência artificial utilizada para beneficiar ações de aprendizado precisa ser vista como uma ferramenta e não como substituta de processos de criação e dos meios cognitivos.

Neste sentido, a IA pode atuar como já atua o computador, celular e até a antiga máquina calculadora. dentro de uma proposta de auxiliar da aprendizagem a IA é bastante promissora. 

Ou seja, nenhuma aprendizagem se resume em acúmulo de dados informativos, essa ação os computadores já fazem a algumas décadas, a verdadeira ação de ensino/aprendizagem é feita em torno da problematização.

O conceito de problematização nos remete a Paulo Freire no sentido que a metodologia da problematização consiste em questionar o saber com os olhos de nossa historicidade social, autonomia e apropriação.

Na acepção de Paulo Freire o conhecimento não é recebido de forma passiva, o verdadeiro conhecimento é construído com a participação dos sujeitos envolvidos. Ou seja, o conhecimento requer desses sujeitos as suas ações transformadoras da sociedade.

Portanto, não existe conhecimento quando os alunos não discutem sobre o conteúdo dado e nem quando não são provocados para criar e se posicionar frente ao vasto mundo informativo atual.

Ainda na visão de Freire, a busca pelo conhecimento está atrelada com a reflexão crítica e ao fato de se reconhecer no conhecimento bem como saber sobre nossos condicionamentos na sociedade.

Diante de todos esses conceitos de Paulo Freire é visível que a IA em sala de aula é mais uma ferramenta tecnológica como outras tantas e é um meio para alcançar objetivos mais rápido e não pode ser usada como fim do processo do ensino/aprendizagem.

A problematização parte da relação entre teoria e prática, ou seja, o conhecimento não pode ser dimensionado sem que os alunos não tenham um saber sobre o mundo das relações sociais e meios de produção.

A falta desse saber na atualidade educativa é um dos principais entraves que levam os alunos a associarem qualquer conteúdo informativo disponível na internet com conhecimento e saber.

Consequentemente, a noção de muitas pessoas sobre as IAs é fatalista, muitas pessoas consideram que a IA vai substituir o conhecimento humano e que suas produções são infalíveis e isentas de erros conceituais.

Tipos de IA utilizadas na produção de texto

As inteligências artificiais que mais afetam o cotidiano escolar são as responsáveis pelas produções textuais. Todas as IAs utilizadas em produções de dissertações e outros trabalhos escolares prejudicam a criatividade e o raciocínio cognitivo dos alunos.

No entanto, se elas forem utilizadas como ferramenta de planejamento de uma dissertação ou trabalho individual e coletivo podem otimizar muitas tarefas.

Qualquer trabalho dissertativo e argumentativo de artes, história, literatura ou português precisa ser criado e elaborado pelos alunos se os professores querem lançar mão da tecnologia, esta precisa ser usada somente como ferramenta auxiliar.

Dentre as ferramentas de produção de textos mais utilizadas está o ChatGPT, porém na atualidade existem muitas outras que foram surgindo como aperfeiçoamento do GPT.

Entre elas estão:

  • GPT-3: Esta ferramenta não cria textos, ela auxilia na elaboração de pautas, fonte de pesquisa, tradução e revisão ortográfica.
  • Sudowrite: ferramenta utilizada na criação de estruturas narrativas
  • Dall-e 2: ferramenta que faz produções de imagens originais e realistas

Conclusão

Neste texto vimos como se dá a relação entre inteligência artificial e educação, esta relação está posta também na sociedade como um todo, pois as relações escolares são fruto das relações sociais.

No âmbito social vislumbramos que nas conceituações sobre IA existem muitos mitos e realidades. Entre os mitos está a autonomia da IA, nesse sentido supõe-se que as IAs pensam por si só e constroem hipótese e até criam obras de artes.

No entanto, segundo a neurociência essas suposições não passam de falácias, pois a IA só consegue criar e fazer hipóteses em cima do que foi colocado em seus algoritmos e por trás de todo seus raciocínio ainda está a inteligência humana.

Por outro lado, quando saímos dos mitos vemos que a realidade da IA está atrelada a um poderoso armazenamento de dados e processamento.

Nesta última acepção a inteligência artificial é um grande auxiliar da educação pois armazena e processa dados de forma muito rápida, deixando as tarefas de criação, problematização e produção conteudísticas para os professores e alunos.

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