Dificuldades de aprendizagem: o que são e como lidar?

Os professores se desdobram nas salas de aula para atender às diferentes necessidades e demandas dos alunos, lidando com turmas cada vez mais heterogêneas, e que vêm se apresentando com exigências cada vez maiores.

Muitas dificuldades são apresentadas por parte dos alunos, problemas de aprendizagem, transtornos comportamentais, deficiências, entre outras situações que exigem do professor cada vez mais especializações e qualificações para ser capaz de lidar com as diversidades.

No entanto, nem todas as situações que se apresentam devem ser encaradas como uma barreira na aprendizagem do aluno, muito pelo contrário, podem ser vistas como uma oportunidade para o desenvolvimento da aprendizagem de todos envolvidos no processo.

Leia este texto e conheça algumas concepções que podem ser revisadas quando se trata de dificuldades de aprendizagem e, ao contrário de serem levadas como grandes problemas podem e devem ser encaradas como uma oportunidade.

O que são as dificuldades de aprendizagem?

São situações onde os alunos se encontram e podem prejudicar a aprendizagem e os relacionamentos, tanto na escola, quanto em outros ambientes, são classificados como desordens e as crianças começam a apresentá-las entre os quatro e cinco anos, ou na medida em que inicia sua vida escolar.

Justamente por ser na escola que a criança será mais observada atentamente por profissionais que conhecem o desenvolvimento na infância e quando percebem alguma situação, acabam comunicando aos pais, que levam aos especialistas e descobrem do que se trata.

É sempre necessário que a escola realize um encaminhamento para que as famílias levem a criança a uma equipe de especialistas que fazem parte do acompanhamento do desenvolvimento da criança, como fonoaudiólogos, pediatras, psicólogos, neurologistas, entre outros, para que o quanto antes seja diagnosticado a situação e, consequentemente, o quanto antes dê início ao tratamento.

Isto porque, muitas vezes, a situação que ocorre pode não ser devido a um transtorno comportamental, ou uma deficiência, mas pode ser decorrente de diversos fatores, como problemas familiares, problemas de visão, audição, questões psicológicas, quadros de violência ou abuso, e por isso, é fundamental que aconteça sempre uma observação sensível do comportamento da criança, e qualquer sinal que possa demonstrar que ela precise de ajuda, é urgente agir o mais rápido possível.

Alguns transtornos que dificultam a aprendizagem:

Dislexia

De acordo com a Associação Brasileira de Dislexia, as pessoas com esse transtorno, de origem neurobiológica, apresentam dificuldades no processo de alfabetização, na aquisição das habilidades escritora e leitora, pois têm dificuldade em compreender os conceitos ortográficos, em realizar a correspondência entre o fonema e o grafema, ou seja, entre o falado e o escrito.

As crianças em idade pré-escolar apresentam sinais como falta de atenção, desenvolvem a fala com atraso, não demonstram interesse na leitura, tem dificuldades com rimas, na coordenação motora e em atividades de associação, como quebra-cabeça.

Na escola, as crianças apresentam algumas características como dificuldade na leitura e escrita, dificuldade no reconhecimento de regularidades da escrita como rimas e aliteração, falta de atenção, ritmo de escrita atrasado, coordenação motora difícil, tanto nos movimentos amplos do corpo, como nos movimentos finos da escrita e do desenho, materiais sempre desorganizados, dificuldade na lateralidade, na visualização espacial, e um vocabulário empobrecido.

TDAH:

De acordo com a Sociedade Brasileira do Déficit de Atenção, o Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade é também de ordem neurobiológica, genética, e as crianças com essa situação apresentam um comportamento inquieto, desatento, impulsivo e com pouca concentração nas atividades, e em alguns casos pode haver comportamento agressivo, e crises de ansiedade.

É a condição mais comum entre as crianças e adolescentes, chegando a atingir entre 3 a 5% dessa população, e na maioria dos casos esse transtorno permanece no comportamento do indivíduo mesmo quando adulto, no entanto, os sinais fiquem mais leves com o passar do tempo.

Os principais sinais desse transtorno é a falta de atenção, combinada a uma hiperatividade e impulsividade, dificultando a aprendizagem e o relacionamento com as pessoas ao seu redor, sendo diagnosticado geralmente quando a criança atinge a idade escolar, pois é quando os professores que possuem conhecimento do desenvolvimento infantil percebem algumas características que precisam ser avaliadas por especialistas.

A maioria das crianças que apresentam essa condição são meninos, tendo mais problemas com regras e limites, mas também a desatenção. Nos adultos essa condição resulta em problemas no trabalho, na memória, na rotina de finalizar as tarefas, nos relacionamentos, e tendem a depender do uso de substâncias químicas e desenvolver quadros depressivos.

Os estudos apontam que as pessoas com essa condição apresentam alteração dos neurotransmissores na região frontal do cérebro bem como suas conexões com as demais áreas cerebrais. Como a região frontal é responsável pelo controle do comportamento, em adequar as reações e inibir impulsos, bem como prestar atenção, possuir autocontrole, desenvolver a memória, a organização e o planejamento, quem é portador de TDAH encontra dificuldades justamente nesses aspectos.

TOD:

O Transtorno Opositivo Desafiador, uma condição que se origina provavelmente devido a fatores genéticos, neurofisiológicos e ambientais, como o próprio nome já prenuncia, é um grande desafio em sala de aula, porque demanda muito dos profissionais de educação, e requer que sejam desenvolvidas habilidades para lidar com situações onde o portador apresenta rompantes de comportamento agressivo, descontrole emocional, intolerância a frustrações, não reconhecer seus erros ou responsabilidades, o que torna os relacionamentos e o diálogo muito difícil.

Este transtorno pode ter como consequência outras situações graves, como problemas familiares, onde os pais evitam expor essa criança a situações que desencadeiam comportamentos que causam transtorno, na escola podem sofrer discriminação e bullying por parte dos colegas, perder oportunidades de estar em eventos ou passeios devido aos rompantes que apresentam, e acabam sendo tratados com diferença dos demais.

Em metade dos casos, aproximadamente, em que a criança apresenta sinais de TOD, apresenta também sinais do TDAH, o que exige uma maior atenção por parte dos professores, a fim de evitar maiores prejuízos no processo de ensino aprendizagem, devido a grande dificuldade que os sintomas desses transtornos somados causam no rendimento do aluno.

Para tratar essa condição, é necessária uma abordagem com equipe multidisciplinar, contando com medicação, se necessário para regularizar os neurotransmissores do humor e do autocontrole; acompanhamento com psiquiatra, com o objetivo de melhorar o comportamento diante de situações que causam frustrações; e o apoio da escola, com o intuito de dar o suporte que o indivíduo necessita para seu desenvolvimento.

A importância da atuação da escola:

Tendo em vista que a maioria dos transtornos e condições que os alunos apresentam é observada na idade escolar, devido ao acompanhamento realizado pelo professor que observa o desenvolvimento do aluno e identifica situações que exigem uma análise de especialistas.

Por isso é tão importante que os professores tenham a sensibilidade de observar as crianças em sua integralidade, orientando os familiares a respeito de qualquer sinal que possa evidenciar alguma condição, tanto dos transtornos que foram mencionadas acima, como também de outras condições, como problemas de visão, de audição, psicológicos, deficiências, entre outros.

Além da importância em auxiliar a família a obter um diagnóstico, e assim, promover o desenvolvimento dessa criança, é fundamental observar para inferir a necessidade de ajustar o trabalho a ser realizado no processo de ensino e aprendizagem, mesmo que muitas vezes o diagnostico não seja verificado, devido ao tempo que leva para um resultado preciso, ou por dificuldade que as famílias enfrentam para conseguir um acompanhamento.

O principal papel da escola, na figura do professor, nesses casos é ajustar o trabalho para incluir esse aluno nas aulas, para que ele participe ativamente do processo de ensino e aprendizagem, e tenha seu direito garantido a uma educação de qualidade, convivendo com os colegas e professores da melhor forma possível, evitando que a criança se sinta excluída e isso prejudique seu desempenho.

Para isso é fundamental que a escola realize uma mobilização para que a formação dos profissionais de educação seja contínua, qualificando cada vez mais os professores no trabalho com alunos que apresentem sinais de transtornos, deficiências, ou outros fatores, desmistificando as ideias que permeiam a dificuldade de aprendizagem dessas crianças, que muitas vezes levam a um quadro de exclusão, ao invés de inclusão.

Quais estratégias podem ser utilizadas:

Com o objetivo de desmistificar as concepções que analisam com pessimismo as situações que resultam dificuldades de aprendizagem, sejam elas transtornos ou outros problemas, é válido salientar as estratégias que podem ser utilizadas para incluir os alunos que apresentam baixo rendimento, independente de sua origem e se há ou não um diagnóstico.

Primeiramente comunicar a família as características observadas que merecem atenção e avaliação por uma equipe de especialistas, para que se informem e busquem a ajuda necessária para o desenvolvimento da criança dentro e fora da escola.

Em seguida, os professores precisam adaptar o trabalho pedagógico para que essa criança possa desenvolver suas habilidades, consiga conviver e interagir com os colegas de forma respeitosa e saudável. Para isso é necessário uma concepção de educação que valorize a heterogeneidade da turma, usando a diversidade como fator positivo para o aprendizado de conviver e respeitar o outro, o diferente.

Isto porque não ocorre apenas o aprendizado de conteúdos das disciplinas na sala de aula, que é um lugar privilegiado para que diferentes pessoas convivam e troquem experiências. Levando esse ponto em consideração, é importante que a pessoa com dificuldade sinta-se acolhida e incluída, que suas necessidades sejam respeitadas e que suas habilidades sejam acentuadas, e usadas a seu favor. 

As práticas em sala de aula devem fugir da tradicional supervalorização apenas da leitura e escrita, que privilegiam conteúdos de Língua Portuguesa e Matemática, e introduzirem outras linguagens, métodos diferentes, trabalhos dinâmicos em grupo, oficinas, jogos, reorganização do espaço e orientação individual para que o aluno consiga desenvolver a prática de cuidar de seus materiais, acentuar as qualidades e acertos, elaborar diferentes formas de avaliação, que sempre visam à formação, sendo qualitativa e não quantitativa.

Além disso, é fundamental que com os alunos com dificuldade priorizar sempre uma comunicação muito clara e objetiva, estabelecendo metas que ele compreenda, e acompanhando de perto seu desenvolvimento para realizar ajustes necessários, oferecer materiais de apoio, prazos diferentes, e atividades mais práticas e variadas, explorando as diferentes linguagens, e sempre mantendo todo seu desenvolvimento registrado em relatórios de observação e avaliação, em um portfólio enriquecido com fotos e atividades avaliativas.

Conclusão

Saber mais a respeito das situações que levam os alunos a apresentarem dificuldades na aprendizagem impulsiona o professor a buscar meios para ser justamente a ponte entre esse aluno e seu desenvolvimento, promovendo situações de aprendizagem que levem essa criança a atingir seus objetivos e o sucesso na vida escolar dentro de suas possibilidades.

Pois independente das causas que levam esse aluno a enfrentar dificuldade na aprendizagem, é na sala de aula que esse quadro pode ser revertido, com a participação de todos os envolvidos no processo, possibilitando a ele um ambiente educador, que provoque a vontade de aprender, a curiosidade, e a lidar com as dificuldades desenvolvendo suas habilidades.

Espero que esse texto tenha contribuído para o sucesso de suas aulas e da aprendizagem dos alunos! Bom trabalho!

Ingrid Dehn Rodrigues – trabalha na área da educação há 11 anos, professora há 4 anos, graduada em Pedagogia pela FEUSP, pós-graduação em Educação Infantil pela UNINOVE, atualmente é professora de Educação Infantil e Ensino Fundamental I na prefeitura de São Paulo.

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