Desmistificando a carreira de professor

Existem alguns dogmas que envolvem a carreira de professor e se você já não ouviu alguma dessas afirmações, um dia irá ouvir, com certeza. Principalmente de quem acredita que a educação não muda e que a escola deveria ser a mesma que era quarenta anos atrás.

Isto porque algumas pessoas enfrentam alguma resistência em aceitar as mudanças na sociedade, e consequentemente na educação, acreditam que o melhor a ser feito é evocar as práticas do passado numa posição saudosista e nostálgica que não cabe mais na realidade que vivemos.

Confira este texto e conheça algumas crenças limitantes que permeiam a carreira de professor e como desmistificá-las!

“O importante é estudar na melhor faculdade”

Existe essa crença em nossa sociedade, não somente na carreira de professor, mas de maneira geral, onde se preza mais pela reputação da faculdade e o peso de seu nome no diploma do que a qualidade do curso ou o desempenho do estudante.

No entanto, quem faz o curso realmente valer a pena é o profissional que será formado, pois nem sempre as melhores faculdades resultam em formar os melhores profissionais, uma vez que é diferente sem bom aluno e ser bom no mercado de trabalho.

Assim, o que realmente importa é o desempenho de cada um esteja atuando onde for, o diferencial é o quanto a pessoa está engajada com o que faz, sedo estudante ou já profissional, o seu desempenho que determinará o seu sucesso.

“Suas aulas devem ser como as aulas que você mais gosta de ter”

Nem sempre isso pode ser positivo, uma vez que existem diferentes maneiras de aprender, e para uma pessoa que aprecia uma aula mais tradicional e expositiva, ao repassar isso para seus alunos, pode encontrar dificuldades para ensinar os indivíduos mais sinestésicos, por exemplo, que demandam interações constantes para desenvolverem sua aprendizagem.

Por isso, é importante que suas aulas sejam as mais diversificadas possíveis, para que possam atender a todas as inteligências e as diferentes formas de aprender, contemplando tantos os alunos que aprendem de forma mais tradicional, quanto os que desenvolvem melhor em ambientes com mais interações e ludicidade.

“As crianças com dificuldade de aprendizagem vêm de um lar desestruturado”

Esse mito ainda percorre pela educação como uma verdade e uma justificativa para o fracasso do aluno. Mas na verdade essa ideia denota o fracasso da escola e do seu trabalho em reverter uma situação difícil de aprendizagem seja ela qual for, para uma história de sucesso e superação.

Primeiramente, é necessário desconstruir essa ideia de família estruturada ou desestruturada. Há muito tempo vemos a existência de famílias com diversas configurações, e não podemos dizer que há certo ou errado. Sempre há o possível.

Ainda que muitos dos alunos que apresentam dificuldades de aprendizagem têm origem em um lar com situações mais difíceis em termos financeiros existem muitos outros que possuem grande estrutura e apresentam dificuldades também, seja emocional, cognitiva, ou uma necessidade especial. 

As dificuldades de aprendizagem podem ser originadas em questões emocionais, neurológicas, sociais, físicas, enfim, seja qual sua origem for cabe à escola e ao professor encontrar um meio para que o aluno avance.

Principalmente adaptando o estudo à realidade de cada aluno, como por exemplo, atividades diversificadas, realizando através da escola um encaminhamento ao especialista devido em cada situação, seja na área de psicologia, fonoaudiologia, neurologia, entre outros.

O que não podemos é justificar na família do aluno a sua dificuldade, ao contrário, devemos apresentar soluções à sua família, adaptações nas aulas, propostas diversificadas, o que irá promover não somente o avanço da aprendizagem do aluno como também um bem estar de todos os envolvidos.

“Educação se aprende em casa e na escola se aprende os conteúdos”

Este mito reflete uma concepção de educação mais tecnicista, que retira da escola o seu papel de espaço socializador dos alunos, e que, depois da família, é o principal local onde irão aprender as regras e valores sociais por meio da convivência em grupo, do acesso a diferentes grupos sociais e as relações resultantes disso. 

Dessa forma, a escola não apenas é responsável por transmitir o conteúdo acumulado historicamente pela humanidade, como também capacitar o indivíduo a viver na sociedade em que nasceu, habituando-o com as regras, ensinando a respeitar as diferenças, e dar meios para que adquira as habilidades necessárias para desfrutar da convivência como ser social.

Outro fato importante é que muitos alunos possuem em casa referências de adultos que nem sempre seguem as regras sociais exigidas para uma boa convivência, e é na escola que encontram os parâmetros de conduta e de educação necessários para terrem sucesso em suas vidas.

“A função mais importante da escola é formar cidadãos críticos”

Não é a função mais importante, e depende sempre de uma ideologia por trás dessa criticidade, pois além de simplesmente atender a questões políticas a escola deve estar comprometida em disponibilizar com qualidade aos alunos o conhecimento acumulado pela humanidade.

Qualidade essa que deve oportunizar aos alunos meios para que leiam o mundo e intervenham nele, ou seja, capacitados com as habilidades das linguagens, das ciências exatas, tecnológicas e humanas com autonomia, que lhe permitam resolver problemas, possibilite compreenderem a sociedade em que vivem e participar da sociedade ativamente.

Ou seja, esse mito deve ser combatido, pois além de cidadãos críticos aptos a questionarem toda estrutura social em que nos encontramos, precisamos de pessoas capazes de interpretar um texto, operar uma máquina, ler um mapa em um aplicativo, resolver operações básicas, traduzir as instruções de um manual, entre outras atividades básicas que foram negadas a muitas pessoas em prol de um discurso tendencioso para a formação de cidadãos supostamente críticos. 

E esses foram alguns mitos que permeiam a carreira do professor, que acabam tornando-se crenças limitantes impedindo o avanço da qualidade na educação, consequentemente prejudicando o sucesso tanto dos professores como dos alunos. Que a semente da busca por uma educação de qualidade se espalhe e gere muitos frutos por meio dos professores! Bom trabalho!

Ingrid Dehn Rodrigues – trabalha na área da educação há 11 anos, professora há 4 anos, graduada em Pedagogia pela FEUSP, pós-graduação em Educação Infantil pela UNINOVE, atualmente é professora de Educação Infantil e Ensino Fundamental I na prefeitura de São Paulo.

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