Como funcionam as Avaliações diagnósticas
Neste texto será delineado de maneira panorâmica, o funcionamento do processo de avaliação diagnóstica realizado no início do ano letivo e durante o processo de ensino.
Podemos entender esta avaliação como sendo a mais inclusiva de todos outros modelos avaliativos, pois oferece oportunidade a todos os alunos de se adequarem com suas qualidades e subjetividades, ao processo de ensino/aprendizagem.
Muitas vezes chamada de sondagem, a avaliação diagnóstica não se limita somente a esse conceito, ela fornece uma diagnose individual do desenvolvimento de cada aluno, tornando o ensino mais democrático no trabalho com classes heterogêneas.
Neste texto, vamos conhecer os principais elementos que fazem parte do conceito das avaliações diagnósticas. Começando pela sua concepção, passando por seu funcionamento, chegando no aproveitamento do cotidiano escolar como um antídoto para a rotina em sala de aula.
História das bases das avaliações diagnósticas
Antes de entendermos a concepção das avaliações diagnósticas, precisamos saber que esta avaliação se contrasta com as avaliações somativas e se encaixa mais no contexto de avaliação formativa.
No ensino tradicional as avaliações somativas eram as principais para definir quem estava apto para ingressar na próxima série. No entanto, o contexto educativo se modificou em vários aspectos, primeiro a educação caminha para modalidades em ciclos de aprendizagens se contrastando com a antiga divisão por séries.
Em segundo lugar, a epistemologia positivista que embasava o currículo e as normas escolares estava voltada para procedimentos quantitativos, ou seja, o QI era uma grandeza quantificável e as notas representavam a capacidade do indivíduo em números palpáveis e quantificáveis.
Este cenário era tão incontestável, que os alunos tinham que aceitar os seus fracassos diante das notas e se esforçar mais, isso gerava baixa auto-estima, evasão escolar e falta de engajamento de muitos alunos diante da escola, pois esse processo não atacava as causas do problema.
Com a crescente mudança da visão positivista o aspecto qualitativo foi se tornando mais forte, nesse sentido, não se fazia somente avaliações quantitativas, mais avaliações qualitativas analisando os alunos em seu aspecto global.
Um estudo que facilitou a evolução de visões qualitativas e processuais no âmbito escolar foi a descoberta das inteligências múltiplas, surgida na década de 1980 por meio de estudos de pesquisadores da Universidade de Harvard liderada pelo psicólogo Howard Gardner.
Esta nova proposta se mostrava uma alternativa diferente de avaliar os alunos frente aos antigos testes psicométricos.
A partir de novo conceito de inteligência as crianças e jovens são avaliados em seu aspecto global. Ou seja, personalidade, subjetividade, comportamento, e capacidades cognitivas e emocionais.
Neste sentido a avaliação diagnóstica é uma avaliação processual onde todos os alunos podem ter oportunidade de demonstrar sua inteligência individual e sua forma específica de cognição.
Concepção conceitual das avaliações diagnósticas
A avaliação diagnóstica é voltada para uma avaliação personalística, ou seja, é preciso entender cada aluno dentro do contexto escolar, sem fazer pré-julgamentos ou enquadrar os alunos dentro de normas pré-definidas de bom e mau aluno.
Vale lembrar, que no contexto atual das escolas públicas com número excessivo de alunos por sala, as avaliações diagnósticas são impraticáveis, visto que elas necessitam de um olhar analítico dos professores para cada aluno individualmente.
A concepção das avaliações diagnósticas está assentada na avaliação processual e deve ser contínua, sistematizada e integral.
Sendo assim os professores precisam elaborar um diagnóstico de cada aluno e esse precisa se dividir em 2 propósitos:
- Mensuração do nível de aprendizado de cada educando
- Descobrir as causas circunstanciais que dificultam o aprendizado
O processo da avaliação diagnóstica pode funcionar como uma sondagem em cada etapa do ensino, no entanto esta sondagem precisa ser utilizada pelos professores como um “combustível” para as suas reflexões e criação de estratégias educativas.
Funcionamento da avaliação diagnóstica
A avaliação diagnóstica do início dos anos letivos podem ser realizadas por meio de debates, conversas com os alunos, a fim de saber sobre seus conhecimentos prévios, sejam científicos ou de senso comum.
No entanto, após uma atividade com os alunos os professores precisam analisar minuciosamente os fatos acontecidos, para ter um levantamento sobre os pontos fortes e fracos de cada aluno.
Um debate ou um trabalho coletivo serve para os professores avaliarem como funcionam os processos individuais de construção do conhecimento e vislumbrar erros e pontos fracos. Com isso, o docente pode ajudar de forma assertiva as dificuldades dos alunos em sua nascente.
A avaliação diagnóstica é uma avaliação processual e não visa a aquisição do controle da sala de aula, ou seja, não visa segregar ou estigmatizar os alunos, dividindo-os em fracos e fortes.
Para o educador Libâneo os professores precisam ajudar no desenvolvimento das capacidades e habilidades dos alunos por meio de ações incentivadoras. Entre muitas ações que incentivam os alunos, estão:
- Dialogar com os alunos e propor-lhes desafios
- Apontar avanços
- Escutar os alunos em suas perguntas
- Fazer os alunos sentirem partes de sua aprendizagem
Funções da avaliação diagnóstica
No âmbito do ensino básico existe a coexistência de alguns tipos de avaliações entre elas: avaliação somativa, avaliação formativa e avaliação diagnóstica.
Em uma estrutura curricular podemos diferenciar estes tipos de formações por meio das necessidades temporais. Ou seja, no início de um ciclo de aprendizagem aplica-se a avaliação diagnóstica, no decorrer do processo aplica-se a avaliação formativa e no final de cada ciclo pode se aplicar a avaliação somativa.
No entanto, toda esta estrutura temporal vai depender do grau de heterogeneidade de uma sala de aula, nesse sentido uma sala que trabalha com diferentes graus e capacidades cognitivas, demanda uma maior constância da aplicação da avaliação diagnóstica.
É importante salientar também, que em uma visão mais inclusiva da educação é mais aconselhável ter mais possibilidades de aplicar a avaliação diagnóstica, pois ele visa a interação dos alunos em todo processo educativo.
Portanto, esta avaliação fornece sentido pedagógico ao objetivo da educação escolar, porque a educação não se resume ao acúmulo de informação e sim a formação integral dos alunos.
Segundo o professor e pesquisador Cipriano Luckesi, existem 4 funções básica da avaliação diagnóstica:
- Propiciar autoconhecimento para os alunos e docentes no processo de construção da aprendizagem.
- Motivar o crescimento e criar o desejo de chegar a resultados satisfatórios.
- Fazer da avaliação uma ferramenta de aprendizado.
- Avaliação com um auxiliar do ensino, aumentando o foco nas necessidades dos alunos.
Avaliação diagnóstica como um olhar atento
Até aqui vimos como funciona e quais as funções da avaliação diagnóstica, no entanto é preciso lembrar que esta avaliação não se resume apenas em uma sondagem, apesar de utilizar a metodologia do processo científico de sondar.
A avaliação diagnóstica precisa ser realizada por meio de um olhar mais atento aos alunos, porém é preciso considerar que em salas de 30 a 40 alunos esse processo fica muito debilitado.
Nesse tipo de avaliação os professores precisam trabalhar com a sensibilidade de analisar todos os tipos de alunos, pois muitas vezes os alunos que questionam mais, e até os que tumultuam a aula são mais visíveis.
Em contrapartida, os alunos mais tímidos que não se manifestam com frequência ficam invisibilizados no cotidiano escolar.
Neste sentido, professores com olhares mais atentos podem desenvolver atividades que proporcionem variados tipos de expressão por parte dos alunos, oferecendo formas diferenciadas de manifestação.
Para dar um exemplo, em uma atividade de resolução de problemas a solução que precisa ser dada pelos alunos, pode ser manifestada por um trabalho individual escrito, por uma opinião em um debate, por uma função em um projeto pedagógico e muitas outras formas de expressões.
Assim, os alunos podem se manifestar por falas, escrita, linguagens artísticas e até pela sua atuação em um projeto.
Conclusão
Neste texto conhecemos o funcionamento da avaliação diagnóstica e também o seu conceito dentro do processo de ensino/aprendizagem. A partir dessa visão, é importante salientar que esta avaliação é indispensável para o ensino, principalmente no cenário atual.
Na atualidade os meios tecnológicos proporcionam aos alunos uma gama de informação cada vez maior, mas ao mesmo tempo, infelizmente, existe também um conjunto com a mesma proporção de informações falsas.
Neste complexo cenário,a necessidade de diagnoses aumenta transformando o papel dos professores no cotidiano escolar. Vale lembrar que a palavra diagnose remete a identificação de uma problema junto com a identificação de suas causas, portanto os professores de hoje são mediadores e analistas dos alunos e seus cotidianos.
Para que professores, coordenadores e gestores conheçam realmente os seus alunos e até as necessidades de suas comunidades e regiões, é imprescindível uma estrutura de ensino que esteja embasada por uma visão diagnóstica.
No entanto, ainda é preciso salientar que um diagnóstico educativo não pode ser feito por meio de expectativas pré-determinadas. Ou seja, não podemos adaptar o aluno a uma estrutura estática como se esta fosse 100% perfeita.
O processo educativo é uma via de mão dupla, na relação alunos/professores/escola sempre existirá a transformação positiva dos alunos, dos professores e da escola.
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