A importância da música nas escolas
Este artigo trata da importância da música na escola frisando a interdisciplinaridade e a transversalidade das atividades musicais. Sugere várias aplicações da música em sala de aula e aponta a sua importância na solução de múltiplos problemas que acontece no cotidiano escolar.
Introdução
A atividade musical contribui efetivamente com os processos de interdisciplinaridade e de transversalidade, necessários para o desenvolvimento pedagógico dentro de uma visão aberta e atualizada da educação.
Neste sentido a música pode, na sua utilização pedagógica, ser uma área que conecta e relaciona diferentes disciplinas dentro de um projeto pedagógico e também, na sua prática estrita, estar ligada com outras linguagens do conhecimento e artísticas como poesia, literatura, dança teatro, cinema e outras.
Neste artigo será delineado um panorama de informações para que o professor, por meio da música, possa criar projetos pedagógicos com grande riqueza expressiva e de apelo positivo, buscando mais eficácia em despertar e envolver os alunos nas diversas áreas do conhecimento.
- Música e socialização
O espaço escolar já é por si só um ambiente de socialização, mas não está isento de problemas gerados pelo excessivo crescimento da individualidade de nossa sociedade. Isso faz com que algumas vezes, a crianças e adolescentes, não respeitem alguns princípios éticos da coletividade gerando preconceitos, agressividades e até inatividades diante de projetos coletivos propostos pelos professores.
Dentro desta problemática a música pode atuar como um catalisador, melhorando a dinâmica da aula e promovendo a união dos alunos em torno de um projeto pedagógico. A socialização é um fator que já está potencializado nas atividades escolares e ela influi positivamente na capacidade cognitiva dos alunos, fato que vai incidir, por parte dos alunos, na compreensão do mundo social e suas particularidades. O problema que se apresenta no cotidiano escolar é que quando a atividade educativa se torna mecanizada e repetitiva, o envolvimento dos alunos com o conhecimento diminui tornando improdutiva a vivência escolar. Partindo deste quadro o professor pode buscar na atividade musical recursos que vão trazer mais fluidez e novidade na articulação do conhecimento. Atividades como formação de um coral ou mesmo de escuta e percepção musical podem trazer uma grande produtividade para qualquer disciplina, aumentando nos alunos, o sentimento de coletividade.
- Música e o raciocínio lógico
A percepção musical e sonora está conectada com várias áreas do nosso cérebro e pode relacionar-se com diversos tipos de conhecimentos. Ao entrar em contato com a música o nosso cérebro é estimulado em seus dois hemisférios. O hemisfério esquerdo estaria envolvido em aspectos do processo musical relacionados com a duração, ordem temporal sequência e ritmo. O hemisfério direito, por sua vez, já tem uma relação com a memória tonal timbre, reconhecimento melódico e intensidades sonoras.
A música também pode ser vista como uma ciência básica com um grande número de variação de código, fato que possibilita o desenvolvimento intelectual da pessoa. A atividade musical também funciona como uma nova forma de exteriorização dos sentimentos como um novo idioma que servirá de veículo para as emoções. No início do século XX alguns pesquisadores já provaram que a música contribui para múltiplas áreas do conhecimento, Riemann em 1916 aponta que a escuta musical não é somente uma reação passiva à ação oscilatória do órgão auditivo, mas uma atividade altamente complexa das funções lógicas do espírito. Neste sentido um ato de colocar músicas para os alunos ouvirem enquanto realizam suas atividades escolares, traz um efeito que vai mais além da simples escuta.
- Vivências lúdica nas Atividades Musicais
O fator lúdico está presente na música principalmente nas atividades de improvisação sonora e musical. Segundo o compositor e educador J. Koellreutter, o professor deve fornecer instrumentos que soem para que as crianças os conquistem. Deve propiciar oportunidades para a investigação e a pesquisa experimental da voz e simultaneamente dos instrumentos.
Vale lembrar que para algumas atividades musicais não precisa da utilização dos instrumentos musicais, muitas vezes difíceis no cotidiano escolar, podemos utilizar voz, percussão corporal e objetos sonoros como garrafas pet, latinhas de refrigerantes e até uma folha de papel como objetos produtores de som.
As atividades musicais não precisam estar restritas a um aprendizado de um instrumento musical, podem acontecer como vivências lúdicas que contribuem para o envolvimento dos alunos com o ensino.
Em uma atividade, por exemplo, o professor/a pode propor o reconhecimento da “Paisagem Sonora”, conceito criado pelo compositor Murray Schafer, que significa a identidade sonora de cada lugar composta pelos sons característicos do bairro, vila ou cidade.
Trabalhando com a “Paisagem Sonora” o professor/a pode propor aos alunos uma atividade de escuta e descrição dos sons do entorno da escola até fazendo de certa forma um mapeamento sonoro do lugar.
A percepção sonora é um dos elementos básicos na educação musical, jogos de percepção de vozes e sons; jogo de imitações de sons da natureza são muito utilizados na musicalização infantil na atualidade.
- O Sentido ético da Música
As atividades musicais podem ser atreladas a construção de valores éticos por trazer apelos sociais e comunitários tanto em sua forma instrumental como vocal.
Desde o início da organização social e política grega acreditava-se que a música influía no humor e no espírito dos cidadãos. Acreditava-se que ela colabora na formação do caráter e da cidadania. A música grega era dividida em organizações diferentes de notas, chamadas de escalas modais. Para os gregos, os modos influíam nos sentimentos das pessoas. As canções não podiam ofender o espírito de comunidade. Os cantos conferiam aos jovens um senso de ordem, dignidade, obediência às leis, além da capacidade para tomar decisões. Neste sentido o modo “dórico”, preferido em Esparta, evocava equilíbrio, simplicidade e temperança.
No atual cotidiano escolar o professor pode utilizar a música em enfoques de valorização do ser humano, busca de identidade, estímulo à convivência com o outro e respeito pelo meio ambiente.
- Música e projetos de trabalho
A noção principal de projeto de trabalho é a conexão entre os conhecimentos, onde o estudo de um tema de uma disciplina específica gera uma série de ligações com outras disciplinas. Neste sentido, a música gera possibilidades de ser trabalhada em projetos que integrem matemática por haver na música relações de ordem matemática como as frequências sonoras e o ritmo; na física a propagação do som e a acústica; na literatura a temática literária e poética das letras das músicas; e a de muitas outras disciplinas.
Os projetos de trabalho buscam de uma forma globalizada, a estrutura cognoscitiva. Onde se vincula as diversas informações, visando facilitar a compreensão do aluno sobre o assunto. Permitem que o conhecimento sistematizado aconteça de uma forma envolvente.
Um bom projeto de trabalho valoriza a capacidade individual de cada aluno visando a interação dos conhecimentos para um objetivo comum. Possibilita a discussão sobre os objetivos a serem atingidos. O professor/a da sala ou de uma disciplina pode utilizar a música como linguagem integradora de um determinado projeto.
- Música e Psicomotricidade
A música pode ser considerada uma linguagem sonora que se desenvolve no tempo e a partir de movimentos. Na música interagem os movimentos gestuais do músico intérprete; o movimento da oscilação das ondas sonoras; da vibração dos tímpanos dentro do nosso ouvido; e da vibração corporal que resulta em expressão corporal, movimento natural do corpo e dança de uma forma mais estruturada.
O movimento corporal resultante de uma atividade musical possibilita para a criança o reconhecimento de si mesma e promove processos de descobertas de mundo e socialização.
A música pode colaborar com um dos objetivos mais importantes da psicomotricidade, que é auxiliar na estruturação corporal da criança e em outros complementares que são a educação e a reeducação dos movimentos.
O referencial curricular para educação infantil (RCEI) tem como principal eixo o desenvolvimento global da criança. Este referencial está embasado por três temas; Moral, social, e cultural. Um dos fatores mais importantes para a psicomotricidade que percorre e transpassa estes temas é a conscientização do próprio corpo. Partindo deste fator, podemos constatar que é a música é uma das melhores formas de trabalhar essa conscientização por meio de um caminho lúdico.
A música é composta de gestos e movimentos, e o movimento em si é para a psicologia o suporte dos fenômenos intelectuais e afetivos. Segundo Dalcroze, educador musical do início do século XX, a música desenvolve a capacidades sensório-motoras, sensíveis, mentais e espirituais da criança. Para estes propósitos é necessário uma escuta ativa, canto, movimento corporal e a utilização do espaço.
Conclusão
Em um mundo que se tornou um campo de conhecimentos rápidos, práticos e de aplicações pragmáticas de obtenção de retorno e ganhos cada vez mais velozes. A música foi em parte, reduzida a uma função de entretenimento, por este motivo é necessário que o professor em seu âmbito de atuação vá além de suas atribuições disciplinares e curriculares e se torne também um mediador cultural, não deixando que o efeito da individualidade excessiva, destrua as possibilidades que a música e arte como um todo, podem oferecer para a humanidade.

Pedro Guimarães – Mestre em música na área de Etnomusicologia pela UNESP. Professor de Música e Arte Educador nas seguintes Instituições: Serviço Social da Indústria (SESI); Centro de Educação Unificada da prefeitura (CEU); Faculdade Anhembi Morumbi; e Instituto Paulo Vanzolini (Formação de Professores). Músico multi-instrumentista e compositor de trilha sonora.
O incentivo ao avanço tecnológico, assim como o novo modelo estrutural aqui preconizado oferece uma interessante oportunidade para verificação de todos os recursos funcionais envolvidos.