O que mudou no novo ensino médio
O ensino médio sofreu mudanças principalmente em sua estrutura, com aplicação do tempo médio dos alunos de 800 horas para 1000 horas anuais. Ele se tornou também mais flexível no que diz respeito ao currículo básico.
Atualmente o ensino médio se divide entre as matérias básicas que possui como referencial a BNCC e os itinerários formativos. Estes itinerários possuem focos em áreas do conhecimento e em formação técnica e profissional.
Neste texto vamos conhecer todas as mudanças que estão relacionadas com a BNCC e os objetivos de profissionalização do ensino médio. Além disso, vamos conhecer as vantagens e desvantagens dessas mudanças.
Vamos compreender também como funcionam os itinerários formativos e quais as áreas envolvidas nestes dispositivos educacionais. Por último, vamos saber como estão as discussões atuais sobre a reformulação do Novo Ensino Médio
Ensino médio, BNCC e itinerários formativos
A BNCC é hoje o documento referencial para todo o ensino básico, neste documento estão todas as disciplinas e abordagens que precisam ser seguidas para o desenvolvimento em sala de aula.
Segundo a BNCC, o ensino médio está organizado em 4 áreas do conhecimento, conforme foi determinado pela Lei de Diretrizes e Bases (LDB). Estas áreas também estão presentes nos itinerários formativos.
Estas áreas são:
- Linguagens e suas tecnologias
- Matemática e suas tecnologias
- Ciências da natureza e suas tecnologias
- Ciências humanas e sociais aplicadas
Estas áreas do conhecimento citadas acima estão também presentes nos itinerários formativos. No entanto, a dinâmica das aulas é diferente.
Nos itinerários as aulas não são somente expositivas e oferecem aulas que desenvolvem a autonomia dos alunos proporcionando uma participação mais ativa e engajada. Portanto, estas aulas se desenvolvem por meio de oficinas, laboratórios, projetos e outras formas de educação ativa.
Além disso, no itinerário o aluno possui a liberdade de escolher uma área do conhecimento para buscar mais aprofundamento ou optar pela formação técnica profissional (FTP).
A carga horária do novo ensino médio está dividida entre os itinerários formativos e as disciplinas que são obrigatórias que estão nas referências da BNCC. Em todas as disciplinas os alunos deverão desenvolver habilidades e competências relacionadas com as 4 áreas do conhecimento citadas anteriormente.
Portanto, a formação total de 3 anos do ensino médio, deve somar 3000 horas, 1800 horas para as disciplinas básicas contidas na BNCC e 1200 horas direcionadas para os itinerários formativos.
O novo ensino médio e a profissionalização
Na proposta do novo ensino médio é visível o objetivo profissionalizante desta etapa da educação básica. Quando comparamos a proposta de educação integral no ensino médio em 2013 com a de 2017 ( novo ensino médio), vimos que a de 2013 intencionava uma etapa para formação do estudante dando ênfase ao conteúdo.
Esta proposta foi dada pelo Pacto Nacional pelo Fortalecimento do Ensino Médio que além de oferecer uma educação integral para os estudantes evidenciava a formação continuada dos professores.
Basicamente, a proposta de 2013 contemplava o desenvolvimento de todas as dimensões (omnilateral) do ser humano. Além disso, o objetivo central desta proposta era colocar o estudante como sujeito e referência do processo educativo.
Com isso, sublinhava que a referência desse processo não era o mercado ou a produção e sim o aluno. Ou seja, o objetivo central da educação não era preparar o indivíduo para o mercado de trabalho, e sim formar um indivíduo crítico e formado para alçar novas perspectivas de estudo acadêmico.
Outra diferença básica que era apontada no documento do Pacto Nacional pelo Fortalecimento do Ensino Médio de 2013 era a proposta de defesa do conteúdo das disciplinas.
Portanto, este documento de 2013 sublinhou uma formação que proporcionasse acesso às bases científicas dos diferentes campos do conhecimento, desde os das ciências da natureza até aqueles que proporcionasse a apreender a dinâmica das relações sociais com suas determinações históricas.
É importante lembrar que os aspectos do trabalho não estão excluídos desta proposta de 2013, no entanto a preparação do estudante para o mundo do trabalho não estava tão enfatizada como agora no novo ensino médio.
Portanto, o objetivo central da proposta de 2013 era possibilitar o desenvolvimento dos sujeitos a partir da compreensão da historicidade e do caráter dialético do conhecimento.
Por outro lado, na proposta do Novo Ensino Médio as habilidades e competências que precisam ser desenvolvidas não são acompanhadas sobre o caráter histórico do conhecimento, o que impossibilita a discussão sobre o conhecimento em si.
Ou seja, o aluno somente se capacita em determinados conhecimentos sem ter o devido tempo para discutir sobre este conhecimento, pois todo conhecimento possui caráter dialético e estão presos a decisões políticas e históricas.
Uma prova dessa intenção pragmática que é sintomática, é a diminuição da carga horária de filosofia e sociologia, justamente as disciplinas que abordam questões políticas, históricas e dialéticas do conhecimento.
Itinerários formativos e seus problemas
A ideia de itinerário formativo para o Novo Ensino Médio é baseada no objetivo de criar mais engajamento dos estudantes evitando assim a evasão escolar, problema que é recorrente nesta etapa.
No entanto, o que está discutindo atualmente, é a necessidade de mais investimento para criar uma gama maior de itinerários. O modelo que está implementado até agora causa uma grande disparidade entre alunos da escola pública e escolas particulares.
Nas escolas particulares os alunos têm mais itinerários a disposição, com isso conseguem adquirir muito mais preparo e formação. Portanto, o modelo amplia a desigualdade entre os alunos.
Outro problema visível é sobre a falta de conteúdo, com este novo modelo os conteúdos das disciplinas foram esvaziados, pois foram reduzidos a 1800 horas em 3 anos. O restante ,1200 horas, foi destinado aos itinerários.
Esta perda de conteúdo prejudica os alunos principalmente na hora de prestar o vestibular, pois com menos conteúdo estudado terá menos chances de passar e ingressar nas faculdades públicas.
Outro problema que se anuncia também é a falta de professores, segundo o jornal Folha de São Paulo 17% das aulas dos itinerários formativos estão sem professores.
Além disso, existe menos oferta de itinerários em escolas que são situadas em regiões mais pobres. Um estudo feito pela Repu ( rede escola pública e universidade) atestou que os alunos que possuem dificuldades socioeconômicas têm menos escolha em relação aos itinerários.
Novo ensino médio em mudança
Atualmente, podemos dizer que o modelo lançado em 2017 para o Novo Ensino Médio está sobre muitas mudanças e correções. Neste cenário existem também propostas de revogação deste modelo.
A revogação do modelo foi discutida recentemente com o Presidente Lula, esta ideia foi levada pela Confederação Nacional dos Trabalhadores da Educação ( CNTE).
Na proposta do CNTE está a revogação do Novo ensino médio e também da BNCC. Neste sentido, podemos concluir que vivemos um momento decisivo na educação com muitas mudanças em andamento.
No entanto, os fatos estão caminhando para uma drástica reforma no modelo do ensino médio, segundo o atual ministro da educação, Camilo Santana, um grupo de estudo está sendo criado para implementar reformas no modelo,portanto, ele não quer pensar em revogação ainda.
Este grupo irá discutir o andamento do Novo Ensino Médio, o Mec lançou uma proposta sobre como será esta ampla discussão:
Segundo a pasta “ o grupo será formado por setores sociais diversos, como entidades representativas de classe, estudantes, professores, comunidade acadêmica, secretários estaduais e municipais de todos os estados brasileiros, com objetivo de estabelecer o diálogo democrático, numa discussão coletiva e qualificada por meio de pesquisas, consultas públicas, seminários e outras ferramentas que nos permitam tomar decisões embasadas. A questão preponderante é sobre como guarani o melhor Ensino médio para o país, com justiça e, principalmente igualdade”
Por outro lado a ideia de revogação do modelo do Novo Ensino Médio ainda persiste com muita força, mais de 300 entidades ligadas à educação fizeram uma carta aberta pedindo a revogação total do modelo.
Estas entidades alegam que o processo de implementação deste modelo foi feito sem nenhum diálogo com entidades educacionais e de maneira unilateral. A principal crítica ao modelo está na diferença entre as promessas e a prática.
No modelo foi dito que cada aluno podia escolher até 5 itinerários formativos, no entanto isto nunca aconteceu na prática. Ou seja, os alunos estão sendo obrigados a fazer itinerários que a escola oferece sem nenhuma escolha autônoma.
Vale lembrar que a palavra “autonomia” no discurso inserido no Novo Ensino Médio é bastante utilizada, mas como vemos, não passou de retórica na implementação em 2017.
Conclusão
Para concluir este texto vale salientar que o Novo Ensino Médio está prestes a sofrer muitas mudanças, pois como vimos os erros acumulados desde 2017 são muitos.
Neste sentido, ainda não temos um modelo definitivo desta etapa, porque o grupo de estudos para a reformulação do modelo está em ação agora.
O que os professores precisam fazer neste momento é estar atento às discussões que estão sendo travadas e também sanar dificuldades e lacunas que os alunos sofrem diante do ensino propondo projetos e grupos de estudos.
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