Aprendizagem colaborativa em projetos culturais

Neste artigo serão analisadas as características de projetos culturais no que diz respeito à criatividade e como as propostas didáticas e culturais, feita em processos coletivos e contributivos, podem ajudar no interesse e engajamento dos alunos. Os três eixos da aprendizagem colaborativa como interação, colaboração e participação serão expostos e problematizados em uma chave cultural focando para o fator, criatividade.

Introdução

O projeto didático-cultural possui dois objetivos importantes e distintos, ele atua como uma ferramenta didática para a valorização da subjetividade do aluno causada pelo processo criativo e possibilita maior engajamento e interesse coletivo dos alunos em ralação ao ambiente e atividades escolares colaborando de forma interdisciplinar e transdisciplinar.

Partindo destes dois objetivos, este artigo evidenciará a criatividade como principal fator atuante no desenvolvimento da aprendizagem colaborativa. Neste sentido, para se potencializar nos alunos um desejo cada vez maior de interação, colaboração e participação, é preciso criar um ambiente que valorize a criatividade dos alunos. Neste viés da criatividade, analisaremos as propostas principais da “Escola Nova” e seu representante no ideário criativo e imaginativo, John Dewey no olhar da artista e educadora, Ana Mae Barbosa.

Este texto terá seu desenvolvimento nos seguintes temas: a criatividade na aprendizagem colaborativa e cooperativa; projeto didático-cultural; a valorização da arte na perspectiva colaborativa.

A criatividade na aprendizagem colaborativa

Partindo do conceito de aprendizagem colaborativa que se traduz por uma atividade coletiva onde os alunos constroem o conhecimento estabelecendo trocas de informação em torno de um projeto temático e pedagógico, podemos relacionar este pressuposto com processos dinâmicos e criativos. A criatividade produz autonomias e, por conseguinte possibilita o pensamento artístico e cultural, levando-se em conta que o conceito de arte está relacionado com sua raiz etimológica ars – técnica e habilidade, significando a atividade humana que caracterizada a manifestação de ordem, estética e comunicação. Nesta perspectiva o processo criativo se dá a partir da percepção, no intuito de manifestar ideias e emoções. Portanto o conceito de arte se baseia na criatividade e na intenção de desenvolver os mais variados projetos e não somente os relacionados com as linguagens artísticas.

A criatividade esta na base de toda proposta de aprendizagem colaborativa, pois esta está assentada sobre três eixos, interação, colaboração e participação. Será impossível o desenvolvimento de cada um destes eixos sem a criatividade, recorremos a Paulo Freire quando este educador diz “a educação é mais autêntica quanto mais desenvolve o ímpeto ontológico de criar. Deve ser desinibidora e não restritiva. Deva dar oportunidade para os educandos serem eles mesmos. A negação desta educação é domesticação” (FREIRE, 1979, p. 32). No viés de trabalhos com projetos didáticos com utilização da criatividade existem duas propostas um pouco diferenciadas, a aprendizagem colaborativa e a aprendizagem cooperativa.

 A proposta colaborativa é mais vivencial, aberta e horizontal, no sentido de existir mais um consenso do que hierarquias. Não propõe estruturas metodológicas pré-definidas e está mais relacionada a uma filosofia da interação. Como filosofia e forma natural de vivencia pode-se dizer que esta proposta está mais centrada nos alunos no sentido deste se tornar mais ativo.

 A proposta cooperativa já aponta certa hierarquização e uma metodologia estruturada e relaciona-se mais a uma técnica educacional. 

 Para Spencer Kagan (19891990), a implementação da aprendizagem cooperativa deve ser baseada na criação, análise e aplicação sistemática das estruturas ou formas de organização da interação social em sala de aula. Estas estruturas serão divididas em etapas com normas bem definidas para cada uma delas. Para este autor a necessidade de definir certas estruturas tem o intuito de atingir maior interação entre os alunos a fim de atingirem com mais eficácia o entendimento do conteúdo. Para um melhor esclarecimento, as estruturas pedagógicas para uma aprendizagem cooperativa se definem por divisões de tarefas e grupos; e ordenação de trabalhos e prioridades. Como esta proposta carrega uma tecnicidade maior, ela, na maioria das vezes será centrada no professor.

É importante salientar, como aponta Cord (2000) que em uma proposta colaborativa se valoriza o trabalho de equipe o que é muito eficaz na internet, esta autora sobrepõe o termo cooperação a colaboração, no sentido que não pode haver colaboração sem cooperação em torno de um objetivo comum (TORRES, ALCANTARA, IRALA, p. 4). Neste sentido a internet facilitaria esta proposta por possibilitar a troca de mensagens eletrônicas. A aprendizagem colaborativa tem um sentido filosófico, teórico e político que se relacionam com questões epistemológicas sobre a natureza de o conhecimento ser uma construção social.

Projeto didático-cultural

As propostas relacionadas com projetos didáticos de construção de saber sobre determinados temas, convergem para este ideário colaborativo, pois nestas propostas existe muita interação entre os alunos por meio de problematização e debates a fim de aprofundar conhecimentos. O professor/a precisa contribuir em sua função de articulador para provocar a curiosidade dos alunos sobre determinada temática. Não basta definir os objetivos e expor as características do conteúdo a ser trabalhado é preciso mostrar sua face política por meio das divergências e convergências que estão atreladas ao tema. Nenhum conhecimento humano é absoluto e completo, por isso para toda afirmação há sempre uma reação. Portanto os professores precisam mostrar a base dialética de todo conhecimento, fato que irá despertar com certeza esta mesma natureza na subjetividade dos alunos. Na produção de um projeto didático os professores precisam estar atentos a mudanças de cursos de investigações a partir de sugestões advindas dos alunos enquanto estes precisam ter autonomia para descobrirem suas próprias fontes de indagações. 

Na aprendizagem colaborativa, quando se trabalha sobre projetos pedagógicos que despertam o interesse dos alunos, possibilita por parte do adolescente ou da criança a utilização de suas múltiplas linguagens simbólicas para a transmissão de ideias e conhecimentos para si mesmos e umas para outras.

Dentro das expectativas atuais de ensino hibrido, presencial e online será necessária uma reformulação nas atividades escolares a fim de escolher estratégias que darão conta das demandas atuais. O educador Celestin Freinet já em 1943 apontava que a escola deveria ser centrada na criança e em sua autonomia. Este autor no livro “Para uma Escola do Povo” confrontava os ideários da escola tradicional e da escola nova quando apontou que a escola tradicional é um auditório-escritório, uma sala suficiente par reunir sentado o efetivo escolar, porém não muito vasta, para que a voz do professor não se perdesse e para que seu olhar pudesse vigiar todos os cantos (FREINET p.3 1994).

Para a escola nova este educador propõe uma oficina de trabalho planejada estruturalmente para a atividade coletiva. Este novo perfil escolar defendido por este educador é hoje cada vez mais necessário, onde o professor sai de seu caráter autoritário para se tornar conselheiro e auxiliar.

Valorização da arte na perspectiva colaborativa

A proposta de aprendizagem colaborativa é bastante influenciada pelos fundamentos da escola nova e alguns de seus percursores. John Dewey foi um dos principais percussores das inovações ocorridas no campo curricular, principalmente no que tange a valorização da arte e no desenvolvimento de um processo cooperativo e colaborativo na educação.

Dewey promoveu grupos de aprendizagem cooperativa como parte de seu método de instrução e chamou de “vida associada” valorizando o relacionamento humano como base para o bem estar e o sucesso (TORRES, ALCANTRA, IRALA p. 8). Na busca da compreensão dos processos dinâmicos da construção do conhecimento Jean Piaget evidenciou as bases interacionistas, supondo o sujeito como ser ativo em relação com o meio físico e social. Para a construção e validação dos conceitos é imprescindível a interação social, neste sentido, todo campo conceitual objetivado pedagogicamente demanda um processo colaborativo e criativo. A colaboração e a criatividade confluem para uma metodologia ativa centrada nos alunos.

Seguindo o fator, criatividade, dentro do contexto da aprendizagem colaborativa ou de vida associada, Dewey evidenciou a arte como base na construção do conhecimento. Na acepção filosófica deste autor a arte é colocada como meio de ajuda para formação do conceito. Foi muito grande a influencia desta nova perspectiva no setor educacional brasileiro. Na analise de Ana Mae Barbosa (2001), “no Brasil, a contribuição mais significativa na propagação da ideia e prática da arte comum instrumento para ajudar a formação do conceito foi a do grupo dos reformadores da educação de Pernambuco, durante o Movimento da Escola Nova (1927-1935)”.

Dentro desta visão a arte é vista como um meio para a criança organizar e fixar noções aprendidas em outros campos de estudo e não somente como um veiculo de auto expressão criativa. Neste sentido, procurou-se integrar a auto-expressão com a estrutura conceitual da ciência, história, geografia etc., numa tentativa de vencer o que Dewey denominava “mera indulgencia na efusão emocional sem referencias às condições de inteligibilidade” (BARBOSA p. 136).

Portanto a arte é vista como um fator contributivo na formação de conceitos de varias disciplinas e possibilita a formação de uma aprendizagem colaborativa.

Conclusão

Neste artigo foi apresentada uma gama de aspectos da educação dentro do seu processo histórico de evolução filosófica, que ainda cobram uma aplicação mais concreta. Os problemas que ainda permanecem no ambiente educacional como falta de interesse dos alunos, indisciplinas e desrespeitos e os mais novos como, aprendizagem a distancia e sua problemática, demandam reformulações em toda práxis educacional. Diante disso é muito natural o sentimento de impotência individual, pois não somos onipotentes nem onipresentes, mas podemos mudar uma proposta ou atividade que estamos planejando, podemos adequar melhor um conteúdo por meio de uma atividade mais criativa ou lúdica, proporcionando um engajamento e interesse maio dos alunos.

BIBLIOGRAFIA

BARBOSA, A M, John Dewey e o ensino da arte no Brasil, São Paulo: Cortez, 2001.

CAROLYN E, LELLA G, GEORGE F. As cem Linguagens da Criança – A abordagem de Reggio Emillia na educação de primeira infância. Porto Alegre: Artmed, 1999.

FREIRE P. Educação e Mudança, São Paulo: Paz e Terra, 1979.

FREINET C. Para uma Escola do Povo. São Paulo: Martins Fontes, 2001.

TORRES P. L. ALCANTRA P. R. IRALA E. A. F. Grupos de Consenso: uma proposta de aprendizagem colaborativa para o processo de ensino aprendizagem. Revista Diálogo Educacional, Curitiba V.4, n 13, p 129-145, set/dez. 2004.

Pedro Guimarães – Mestre em música na área de Etnomusicologia pela UNESP. Professor de Música e Arte Educador nas seguintes Instituições: Serviço Social da Indústria (SESI); Centro de Educação Unificada da prefeitura (CEU); Faculdade Anhembi Morumbi; e Instituto Paulo Vanzolini (Formação de Professores). Músico multi-instrumentista e compositor de trilha sonora.

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