Atalhos para compreender a teoria de Vygotsky

Você tem dúvidas sobre como diferenciar os conceitos da teoria de Vygotsky dos demais pensadores da educação? 

Provavelmente você já segue os ensinamentos de Vygotsky mesmo sem relacionar suas práticas em sala de aula à teoria sociointeracionista, mas saiba que se você valoriza os processos de trocas e de interação entre os alunos e seu meio social e cultural, é graças a esse grande pesquisador.

Graças a ele também sabemos que nenhum aluno aprende igual a outro, e nas diferenças podemos ter grandes oportunidades em sala de aula com troca de saberes e experiências entre eles, onde as diferentes habilidades enriquecem o desenvolvimento do grupo, e cada aluno avança em eu próprio ritmo.

Leia este texto e entenda de uma vez as ideias centrais deste importante pensador e suas contribuições para as teorias de aprendizagem.

Quem é Vygotsky?

Lev Semenovitch Vygotsky viveu entre 1896 e 1934, nasceu na Bielo-Rússia, em uma pequena cidade chamada Orsha, cursou Direito em Moscou e após formado lecionou literatura, estética e história da arte, e fundou um laboratório de psicologia, onde seu trabalho destacou-se, pois apesar de ter falecido há quase noventa anos, sua obra ainda está sendo descoberta e contribuindo em debates no mundo inteiro.

Durante sua vida Vygotsky presenciou momentos políticos que influenciaram seu trabalho, nasceu sob o regime dos czares russos, acompanhou a revolução comunista, intensificou seus estudos sobre psicologia, pesquisou a influência das tradições no desenvolvimento cognitivo, mas durante o stalinismo suas pesquisas ficaram cada vez mais limitadas, pois sua análise da relação entre o social no desenvolvimento intelectual era criticada por não se basear na luta de classes como era obrigatório na ditadura de Stalin.

Da extensa obra de Vygotsky a parte mais conhecida está relacionada aos estudos sobre criação da cultura, para a área da educação o maior interesse está nos estudos sobre o desenvolvimento intelectual, e a importância que o pesquisador atribuía às relações sociais no processo de ensino e aprendizagem.

Por isso, seu pensamento deu origem a uma corrente pedagógica denominada socioconstrutivismo ou sociointeracionismo, em contraponto às ideias de Piaget que enfatizava os processos internos do indivíduo, Vygotsky deu ênfase aos processos interpessoais.

O que é a teoria sociointeracionista?


Apesar de que, assim como Piaget, Vygotsky não desenvolveu uma teoria de aprendizagem, no entanto o resultado de suas pesquisas apresenta uma ênfase no aprendizado, que destaca a importância da escola na formação do conhecimento. 

E para ele, a mediação pedagógica provoca progressos que não aconteceriam sem uma intervenção, ideia que traz ao formular o conceito de zona de desenvolvimento proximal, o qual o pesquisador mostrou que um processo de ensino e aprendizagem de sucesso ocorre quando estimula a criança a alcançar um nível de conhecimento que ainda não adquiriu totalmente, desafiando-a a um novo conhecimento. 

Quando um conteúdo é conhecido pela criança não é desafiador, e acaba desmotivando o aluno, por isso Vygotsky defendia que todo aprendizado enriqueceria o repertório mental da criança, e por isso ampliaria suas estruturas cognitivas, levando-a maiores capacidades de reflexão e controle das próprias funções psicológicas.

Para Vygotsky, as questões relacionadas á aprendizagem estão associadas a características históricas e culturais que influenciam a maneira como as pessoas, em diferentes grupos sociais, se comportam, interpretam e representem o mundo. Por essa razão, Vygotsky é conhecido como “sociointeracionista”, uma vez que compreende a formação do ser humano nas relações sociais que ocorrem em um determinado contexto histórico e cultural.

Dessa forma, suas ideias tem como base filosófica o materialismo dialético que leva em consideração o estudo histórico das mudanças, analisando e reconstruindo as  relações de forma dinâmica e contextual, nos processos da realidade, e assim, Vygotsky afirmou a ideia que a vida em sociedade é fundamental para a constituição do homem de ser biológico em ser humano.

Isto porque o desenvolvimento do indivíduo depende de sua história, e da história de sua espécie, levando em consideração suas limitações e possibilidades físicas, das condições psicológicas e da capacidade cerebral, em comparação, na medida em que Piaget elucidou as questões do sujeito na construção do conhecimento, Vygotsky valorizou as interações e as trocas com o meio social e cultural.

Vygotsky e o conceito de zona de desenvolvimento proximal

O pesquisador Vygotsky propõe que existem dois níveis de desenvolvimento infantil, o primeiro chama-se real, e diz respeito ao conhecimento e as habilidades que já estão totalmente desenvolvidas, e pode ser avaliado a partir do que a criança realiza sem ajuda. O segundo nível avalia o que essa criança poderia realizar com ajuda de um colega ou do professor, e chama-se proximal.


Dessa forma, a zona de desenvolvimento proximal está relacionada ao que a criança está próxima de aprender, e se ela necessita de auxílio para fazer hoje, em breve já conseguira realizar sozinha, a partir deste conceito aconteceram mudanças na forma de agrupar as crianças, e a integração passou a ser vista como essencial no processo de aprendizagem.


O professor como mediador do processo da aprendizagem com trocas entre alunos resulta em todos sendo contemplados, pois os alunos ganham experiência tanto o que está sendo desafiado a fazer algo que ainda não consegue sozinho, como o que está ensinado e aprimorando o que já sabe ao auxiliar o colega.

Ao não levar em consideração a zona de desenvolvimento proximal, algumas propostas em sala de aula podem ser frustradas, com desafios muito difíceis, agrupamentos improdutivos, ou atividades que não apresentem desafio algum aos alunos.

Vygotsky e a relação homem-ambiente

Para Vygotsky o aprendizado ocorre a partir da compreensão do ser humano como um ser que se constitui a partir da relação em sociedade, pois sem o outro o indivíduo não se forma, por isso o pesquisador não acreditava em teorias inatistas, as quais defendem que o ser humano já nasce com as características que serão desenvolvidas ao longo da vida, bem como as empiristas que acreditam que as pessoas são resultados de estímulos externos.

Na verdade, Vygotsky defende que a formação do ser humano ocorre numa relação dual, entre individuo e sociedade, onde o sujeito modifica o meio ao seu redor, e o meio modifica o sujeito, e a partir da interação que cada individuo estabelece com o meio se dá a aprendizagem, que sempre é de forma única para cada sujeito.

Para Vygotsky as funções básicas do cérebro são reflexos, e as funções mais complexas ou superiores só se constituem pelo aprendizado, e é isso que diferencia o ser humano dos animais, por exemplo, na função superior de se comunicar, com entendimento e intencionalidade, só serão aprendidas na medida em que a criança entra em contato com adultos ou crianças mais velhas, apesar de que toda criança nasce com a função básica de falar.

Outra grande contribuição de Vygotsky é a importância do papel da mediação, pois segundo o pesquisador o individuo se relaciona com o mundo a partir de instrumentos, que podem ser físicos como ferramentas que possibilitam ao sujeito realizar ações objetivas, ou podem ser culturais, como a língua que permitirá que o sujeito participe da sociedade subjetivamente.

O papel da mediação do adulto

Na concepção de Vygotsky, o papel da mediação é realizado pelo professor, uma vez que na conquista do desenvolvimento do ser humano suas relações são sempre mediadas, assim, cabe ao professor adotar medidas e atitudes que levem ao aluno ser desafiado, direcionado a descobrir suas próprias respostas.

Por isso, o papel do professor é fundamental e suas ações são vistas com mais importância na teoria de Vygotsky, de forma que todo aprendizado é essencialmente mediado, diferentemente da visão de Piaget e outros pensadores, que viam a aprendizagem conduzida pelo próprio aluno.

Diferentemente, para Vygotsky, as primeiras aprendizagens da criança necessariamente deve ter a intervenção de um adulto, e após o primeiro contato com as novas habilidades a criança interioriza e passa posteriormente a realizar de forma independente.


Desse modo, para aprender não basta contar apensa com as estruturas mentais da criança, como defende Piaget, mas sim deve ocorrer um desafio à criança aprender o que ainda não sabe, provocando saltos no conhecimento, que se trata da zona de desenvolvimento proximal, onde o adulto ajuda a criança aprender o que ainda não consegue sozinha.

Para Vygotsky saber identificar nos alunos as suas capacidades e desenvolver o percurso para o conhecimento possível de cada um deles, são as habilidades fundamentais do professor no processo de ensino e aprendizagem, assumindo o papel de impulsionador de desenvolvimento de seus alunos.

Conclusão

É possível compreender que para Vygotsky o papel do professor é de grande importância na aprendizagem dos alunos, mas não como uma ideia de que o desenvolvimento desejado deva ser estimulado a partir de conteúdos excessivos, mas sim que o mais importante, para Vygotsky, é apresentar às crianças pensamentos desafiadores, diferentes forma de pensar.

Aproveite que agora já sabe as ideias centrais de Vygotsky e pensa em elaborar avaliações diagnósticas para seus alunos, e, assim, conhecer quais habilidades eles já possuem e quais poderão adquirir com sua ajuda!

Desenvolva agora mesmo atividades desafiadoras que poderão estimular seus alunos a pensar de maneiras diferentes e despertar interesse para os conteúdos!

Ingrid Dehn Rodrigues – trabalha na área da educação há 11 anos, professora há 4 anos, graduada em Pedagogia pela FEUSP, pós-graduação em Educação Infantil pela UNINOVE, atualmente é professora de Educação Infantil e Ensino Fundamental I na prefeitura de São Paulo.

Deixe um comentário